“Um dia em cheio”, foi assim que Marcelo Rebelo de Sousa descreveu ao nosso jornal o dia que passou em Ourém, 12 de dezembro – por coincidência também o dia do seu aniversário – num programa que culminou no Castelo de Ourém, recentemente reaberto ao público após uma obra de requalificação que durou dois anos e custou mais de 2 milhões de euros.
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O projeto de requalificação deu inclusive os primeiros passos pela mão de Marcelo Rebelo de Sousa em 2015, tendo em conta que o Castelo de Ourém é propriedade da Fundação da Casa de Bragança, entidade cujo Conselho Administrativo era à altura presidida por Marcelo Rebelo de Sousa, que entretanto teve de abandonar o cargo (que é vitalício) ao ser eleito Presidente da República, embora a porta tenha ficado aberta para que um dia possa voltar.
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Com a obra concluída, e conforme noticiado pelo mediotejo.net, embora muitos ourienses se mostrassem satisfeitos com o trabalho de restauro, houve também muitas críticas apontadas à introdução de elementos do “moderno”, bem como com a limpeza excessiva das pedras, destruindo em parte a ilusão de um castelo medieval bem preservado. No entanto, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se satisfeito com o trabalho feito, nesta que foi a sua primeira visita ao espaço após as obras de restauro efetuadas.

“Conheci bem este castelo quando era presidente do Conselho Administrativo da Fundação da Casa de Bragança, e ajudei a sonhar esta requalificação, esta reabilitação, esta realidade que dá vida ao castelo, porque o transforma num espaço multidimensional, para reuniões, para espetáculos, para conferências, para outro tipo de atividades. Fico muito feliz pela solução encontrada… não era fácil”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

“Várias vezes discutimos isso na Fundação, o preservar a história deste património nacional e ao mesmo tempo tornar operacional o seu uso na atualidade, sem criar ruído, sem criar contrastes que fossem intoleráveis e estou muito feliz porque a solução encontrada é, eu diria perfeita – se há perfeição neste mundo. Por um lado é simplista, minimalista, por outro lado é muito funcional, finalmente respeita o que devia ser respeitado. E perguntei logo se estava a ser utilizado ou não, e disseram-me que sim, que está a ser utilizado, já foi utilizado inclusive para reuniões de Assembleia Municipal, portanto é bom ajudar a projetar uma obra e anos depois ver a obra completa, a obra concluída”, acrescentou ainda a figura máxima do Estado Português.
Presidente impressionado com traço do fogo em Ourém
Anteriormente, o Presidente da República mostrou-se impressionado com os estragos que o fogo deixou e que continuam visíveis cerca de seis meses depois no concelho de Ourém. Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de visitar hoje uma casa de primeira habitação, que ficou totalmente destruída pelos incêndios deste verão, na Aldeia de Santa Teresa, na freguesia de Freixianda.
“O impressionante é que, passados muitos meses, é claro o traço do fogo e o que destruiu à volta. Ainda está a ser recolhida madeira daquilo que começou a arder e ardeu há quase seis meses”, adiantou o Presidente da República, após ter entrado numa casa cujo cenário era de paredes pretas queimadas pelas chamas e toda uma vida de bens destruída.
Naquela habitação, Joaquim Marques, com 80 anos, vivia com dois filhos, que foram obrigados a procurar uma nova casa, enquanto o pai foi encaminhado para a um lar.
Marcelo Rebelo de Sousa prometeu à família regressar quando a habitação estiver recuperada. “Mas tem de ser rápido. Daqui a um ano. O processo já avançou, já há aprovação. O presidente [da câmara] fez o que pôde e o que não pôde”, salientou.
Dirigindo-se a Joaquim Marques, o chefe de Estado disse: “Agora é virar a página e recomeçar a vida.”

“Sei que custa muito e com esta idade [80 anos] ainda custa mais. Com 47 anos [idade de um dos filhos] recomeçar a vida é uma coisa, recomeçar aos 80 é outra coisa. Não pode ir abaixo”, confortou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado afirmou ainda estar impressionado por estar numa freguesia “que foi a mais atingida nos primeiros fogos que houve este ano”.
O Presidente da República sublinhou ainda que cumpriu a promessa de passar nesta habitação antes do final do ano. “Recomecei pelo começo. Foi aqui que começou. Irei depois percorrer outras áreas [ardidas] que foram mais tardias, mas nos próximos dias lá irei”, revelou, referindo-se a Pombal, no distrito de Leiria, à Serra da Estrela e ao norte transmontano. “Não posso ir a todos os lugares, mas irei simbolicamente a alguns dos que foram atingidos”, disse.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a sua presença nestes locais, “vai permitir, além do mais noutras áreas maiores, ouvir o Governo, o que está a ser feito e como se está a prevenir”.
Confrontado com o facto de ser o momento de prevenir os incêndios, apesar do país estar a enfrentar chuvas torrenciais, o Presidente da República afirmou que “são dramas que preocupam”.
“Agora preocupam mais as cheias, mas é nesta altura que se prepara a época de incêndios”, defendeu.
O presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque, explicou que irá ser levado à próxima reunião de executivo um protocolo já aprovado pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, com um financiamento de cerca de 145 mil euros para avançar com a recuperação da habitação.
“Foi o que foi possível rapidamente, através de um programa chamado Porta de Entrada, onde conseguimos enquadrar esta situação, e estamos satisfeitos. Se não fosse assim, seria o município a assumir, porque já tínhamos assumido que iríamos fazer a recuperação da casa”, adiantou o autarca eleito pela coligação Ourém Sempre PSD/CDS-PP.
Luís Albuquerque acrescentou que espera iniciar a recuperação da casa no início do primeiro trimestre de 2023. Ao nosso jornal, Marcelo Rebelo de Sousa disse “esperar” voltar para o ano por esta altura para ver a nova construção.
Marcelo diz que ninguém ganha ou perde eleições por causa do programa educativo
A visita do Presidente da República ao concelho, no entanto, começou mais cedo, com uma visita à Escola Secundária de Ourém, onde conviveu com alunos numa sessão “muito interessante, muito longa, com boas questões, mostrando o nível excecional da escola e do agrupamento escolar”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente considerou hoje que ninguém ganha ou perde eleições por causa do programa educativo, reconhecendo que na escala de prioridades dos votantes a educação nunca passa do sexto ou sétimo lugar.
Numa aula-debate, após ser questionado sobre a situação do ensino no país, começou por dizer que “há muitos centros de excelência no sistema educativo português e tem sido feito um esforço notável pelos professores, pelos alunos, pelo pessoal técnico, auxiliar, administrativo, para melhorar, pela gestão”.
“E isso dá frutos”, realçou, notando também que “as instituições são obrigadas a melhorar por força do desafio que vem de fora [das comunidades], para além da dinâmica que existe dentro”.
“Outra coisa é haver uma prioridade política em Portugal em relação à educação. E aí eu tenho de reconhecer que praticamente todos os responsáveis falam na prioridade da educação, mas também reconheço que, no momento do voto, na escala de prioridades dos votantes, a educação nunca passa do sexto ou sétimo lugar”, declarou, elencando na escala de prioridades a situação económica, o emprego, saúde, questões de solidariedade social ou segurança.
“A seguir a estas prioridades, eu admito que venha a educação. Ou seja, provavelmente ninguém ganha ou perde eleições decisivamente por causa do programa educativo”, declarou, mas antes pela situação económica, pelo bolso das pessoas, pela expectativa de emprego.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “a educação não e isso é um problema”, mas não apenas português.
Para o chefe de Estado, “isso acaba por ter como consequência que as mudanças na educação ocorrem, vão ocorrer, são inevitáveis, mas vão ser mais lentas porque não são uma preocupação comunitária”.
“Às vezes, no plano local é diferente, mas estou a dizer no plano nacional”, observou, assinalando que “o que for importante para o povo é importante para os chamados políticos”.
Já questionado por outra aluna sobre o ensino artístico, Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu que “tem sido um ensino muitas vezes esquecido ou subvalorizado ou relativizado nas preocupações de quem trata matérias educativas”.
“Tens razão quanto às queixas que durante muito tempo, apesar dos passos dados, existem quanto ao ensino nesse domínio”, declarou, perante uma plateia de cerca de 400 alunos do 11.º e 12.ºanos.
Na aula onde abordou o seu percurso de vida, sobretudo escolar, e estabelecendo um paralelismo com a evolução do país, precisamente no dia em que completa 74 anos, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que só no fim da ditadura é que foram criados os politécnicos e se previu a criação de novas universidades.
“E aqui temos um problema que ainda não está ultrapassado entre nós, que se chama coesão territorial. Isto é, melhorou-se, melhorou-se, melhorou-se, mas o que acontece é que ainda hoje, em muitos casos, aquilo que trava o desenvolvimento de partes do território do continente português é falta de educação.”
*C/LUSA
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