Era uma casa humilde, com poucas condições de habitabilidade, mas era o lar de um pai e dois filhos na Aldeia de Santa Teresa, no concelho de Ourém. No dia 12 de julho, ao fim da tarde, um “pandemónio de chamas” destruiu quase por completo a casa da família Marques.
De um momento para o outro, Luís, de 47 anos, Jorge, de 49, e o pai de ambos, de 78 anos, ficaram sem teto e apenas com a roupa que traziam no corpo.
O incêndio deflagrou na Cumeada, a norte da freguesia da Freixianda, e à hora a que chegou à Aldeia de Santa Teresa, Luís e Jorge estavam a ajudar o seu amigo Pascoal Gomes, um empresário do ramo das carnes que mantém nos arredores da Freixianda uma quinta com produção de animais. Estavam a ajudar a apagar o fogo na quinta, mal imaginando que nessa altura as chamas aproximavam-se da casa dos irmãos Marques.
Naquela altura, o telemóvel de Pascoal não parava de tocar, mas com as preocupações de apagar o fogo não atendeu as chamadas dos vizinhos de Jorge e Luís a alertarem para a proximidade das chamas.
Quando os três chegaram à Aldeia de Santa Teresa já a casa dos irmãos estava tomada pelas chamas e o pai de ambos chorava no exterior, rodeado dos quatro gatinhos que se salvaram das chamas.
“Isto aqui foi um pandemónio, foi um ápice, uma coisa inexplicável”, relata Pascoal Gomes, que vai apontando para o percurso das chamas. Começou na Cumeada, passou para a zona de Abades, Perucha, Lagoa do Grou, Casal Pinheiro e Casal da Sobreira, passando ainda por Pelmá, já no concelho de Alvaiázere, onde chegou a queimar animais. E com a ajuda do vento, o fogo rapidamente chegou à aldeia de Santa Teresa.
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Ao fundo está o rio Nabão que divide os concelhos de Ourém e Alvaiázere e os distritos de Santarém e Leiria. Mas o fogo não conhece fronteiras e naquele dia andou entre os dois territórios. Arderam pinhais, eucaliptais, olivais, terras de cultivo e barracões. Os moradores iam combatendo as chamas conforme podiam com recurso a mangueira e baldes já que os meios eram escassos e tardavam.
No percurso que fizemos desde o Agroal até Freixianda, passando por Formigais, começa-se a ver o cenário de destruição que o fogo deixou e o perigo que foi para os moradores, já que as chamas rondaram as casas. Aliás, entre Casal Pinheiro e Freixianda, são poucos os terrenos que não foram atingidos mesmo entre habitações.

“Queimou tudo, no intervalo das casas está tudo ardido. Foi uma coisa nunca vista, um salve-se quem puder, foi tudo ao mesmo tempo”, conta Pascoal Gomes. Revela que, quando a casa dos irmãos Luís e Jorge estava a arder, passou um carro de bombeiros, mas já não tinha água.
No quarto dos irmãos restam cinzas, as molas dos colchões e ou outro objeto retorcido e calcinado. Os dois ficaram com a roupa que tinham no corpo. Na sala, Luís limpa a fuligem de uma moldura com o retrato da sua mãe, que morreu há seis anos.
Cá fora, quatro gatinhos que se salvaram rondam a casa um pouco perdidos, sem saber para onde ir. À volta, o cenário é de terra queimada.
Da casa de família, ardeu a parte mais antiga, onde nasceram os três filhos e que já estava desabitada. Dos anexos que foram acrescentando, a parte menos atingida pelas chamas foi o quarto do pai, antigo cantoneiro da câmara. Depois do incêndio, ficou alojado no lar da Freixianda e por ali deve permanecer.
Os dois irmãos passaram ainda algumas horas no abrigo no pavilhão gimnodesportivo onde estiveram com o Presidente da Câmara. Pascoal acabou por acolhê-los num quarto em sua casa, onde estão alojados provisoriamente.
Pai e filhos têm todos algumas limitações cognitivas, uns mais do que outros. Luís é o mais “desenrascado”, trabalha na empresa de recolha de resíduos Suma, tem telemóvel e consegue conduzir tratores. O mais velho, Fernando, é deficiente profundo e está no Centro de Reabilitação e Integração de Ourém (CRIO). O do meio trabalha em trabalhos agrícolas e de pecuária na quinta de Pascoal.
Com a morte da mãe, que era quem geria a casa, a família “ficou um bocado à deriva”, segundo Pascoal, e foi nessa altura que lhes “deu a mão”. Os irmãos começaram a ajudar nos trabalhos da quinta e Pascoal começou a orientar-lhes o orçamento, liquidou dívidas e deu-lhes trabalho. “Criou-se uma amizade e hoje são como irmãos, vão comigo para todo o lado. Eles ajudam-me, eu também os ajudo. Sobretudo nesta fase, tenho de os ajudar, não os posso desguarnecer”, assume.
No concelho, e principalmente na freguesia, gerou-se uma onda de solidariedade. Uma empresa ofereceu-se para fornecer a instalação elétrica, outra assumiu a responsabilidade das portas e janelas e muitos querem ajudar com dinheiro, mobílias e equipamentos para a casa.
A Câmara, através do Presidente Luís Albuquerque, já manifestou vontade de apoiar, mas a família desalojada reconhece que tudo demora o seu tempo. A ideia é criar uma conta solidária com o objetivo de pôr de pé a casa o mais depressa possível.
Outra cruz para carregar
Fervoroso devoto, Luís Marques mostra-nos a única fotografia que se salvou no incêndio que destruiu a casa de família onde os três irmãos nasceram. Na imagem está ele a carregar uma enorme cruz iluminada na escadaria do Santuário de Fátima. Uma foto captada há mais de 20 anos, numa noite de 12 para 13 de maio.
Conta-nos que ficou em choque e começou a chorar assim que viu a sua casa a arder. Quando chegou já quase tudo estava tomado pelas chamas. “Agora temos de recomeçar do zero”, diz com a voz trémula.
Refere o apoio e solidariedade que tem sentido por parte do Presidente da Câmara, do Presidente da Junta, do comandante dos bombeiros e de “toda a malta”.
No grupo “Amigos de Ourém e seu Concelho”, no Facebook, Paulo Nunes tem feito o ponto da situação sobre a campanha de solidariedade para com a família desalojada, à qual ninguém ficou indiferente. Foi criada uma conta bancária solidária, em nome da família.
“Depois de todas as manifestações de apoio efetuadas, quer na publicação feita no fim de semana, quer através de contactos diretos, acho que é possível organizar e efetuar a reconstrução da casa num muito curto espaço de tempo. Precisamos antes avaliar em que estado a casa ficou e quais as necessidades em termos de reconstrução e recheio”, informa Paulo Nunes.
Agarrado à fotografia da cruz no santuário de Fátima, Luís não tem palavras para agradecer as manifestações de apoio e confessa que nesta altura o seu maior desejo é ver a casa reconstruída, para poder esquecer o infortúnio que o fogo trouxe e seguir “para a frente”.
Agradeço de coração ao mediotejo.net e ao Sr. José Gaio esta publicação. Há momentos que nos fazem acreditar ainda mais na bondade das pessoas… Bem-haja.
Olá, sou Filipe Dos Santos, filho de Jorge Pontes Dos santos teu vizinho que tem a casa amarela!
Vi o que aconteceu com você no Facebook e vou ajudá-lo mesmo morando a 2000km de distância.
um grande pensamento para você.