Na casa que herdei, encostado à parede do lado direito, havia um pilriteiro no qual os pássaros cantavam a alta voz, como os tenores na ópera, pois sentiam-se seguros só a preocuparem-se nos dias de férias.
O pilriteiro deve ter desaparecido, pois desde o pináculo da pandemia estava entregue aos cuidados de uma parente que, todos os anos, tem a gentileza de me oferecer e enviar uma prova do seu excelente fumeiro.
Agora que a «bolchevique» ministra da habitação ameaça ocupar casas que no seu entender são devolutas, vou ter o pretexto de voltar a onde fui feliz, como escreveu Italo Calvino, vou abrir a torneira com o fito de tentar restituir seiva ao arbusto espinhoso, não me esquecendo de acender a luz eléctrica, preenchendo a exigência da senhora Mariana que não Soror, sim forçuda arrendatária dos imóveis alheios.
As folhas dos pilriteiros em tisanas acalmam os nervos, beneficiam o coração, já os seus botões florais empregam-se para fazer geleias e doces acídulos.
Caro leitor: se quiser amenizar os receios relativos ao dito pacote habitacional, leia a poesia do ora esquecido poeta Fausto José onde encontra felizes referências a pilriteiros e passarinhos a chilrearem.