Segundo o autor, das esculturas que realiza em pedra, a figura do Santo António é talvez a que mais vende. Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

De boina na cabeça e rosto sorridente, é assim José Pimenta que nos recebe naquele que é o seu espaço de trabalho há mais de 30 anos. Nascido no Souto, uma pequena freguesia no concelho de Abrantes, José Pimenta é um contador de histórias nato, com uma memória extraordinária.

Da sua infância recorda muitas aventuras do “tempo da escola”, mas lembra também os momentos de trabalho e as tardes passadas a trabalhar na horta, com o seu tio.

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“Foi uma infância de certo modo a trabalhar. Cavava de torna a dia (…) com o meu tio, mas era só naquelas horas depois da escola. A minha vida até hoje foi sempre de trabalho.” Na sua arte representa, frequentemente, memórias e vivências que o marcaram ao longo da vida.

O grande grupo de amigos que o acompanharam ao longo da vida encontra-se agora bastante reduzido, o que comenta com alguma tristeza. “Tinha os meus amigos, as minhas paródias. Já faleceram todos”. Mas as memórias, essas, ficam eternizadas em centenas de peças que tem vindo a criar.

“Trabalhar, trabalhar, trabalhar” foi sempre o lema de vida daquele que se considera um “homem dos sete ofícios”. Terminada a quarta classe, deixou a escola e a enxada de lado. Rumou a Lisboa e começou a trabalhar na Rua Afonso III, ao pé do cemitério do Alto de São João, onde foi ladrilhador e assentou azulejos. “Era uma profissão bonita e até lhe digo, aí é que eu era artista.”

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Apesar da falta de instrumentos, José Pimenta demonstrou técnica e precisão. “Aos 15 anos já ganhava cinquenta escudos por dia, já era considerado mestre”. Aos 17 anos a sua vida toma nova rota e regressa às origens e à cidade que o viu crescer. “Vim para a União Fabril do Azoto (UFA), em Alferrarede, assentar os azulejos”. É neste momento que começa a frequentar a freguesia de Rio de Moinhos, onde anos mais tarde viria a morar e a abrir o seu espaço de trabalho.

O percurso de artista foi interrompido pela carreira militar. “Fui militar em Vendas Novas (…). Eu era rijo, fui sempre. Mas também fui sempre feliz”, afirma orgulhoso. Apesar de curto, o percurso militar rendeu-lhe diversas memórias e histórias que, passados mais de 70 anos, continua a recordar com carinho e alguma saudade.

“Ainda tenho ali a minha caderneta, com grande louvor. Todos os Capitães, Comandantes de Bataria, éramos cinco, vestiram as fardas, a espada e vieram-me dar os parabéns pelo meu louvor. Deram-me um grande abraço e [disseram] ‘eis um grande homem‘. Chorei bastante, fiquei sentido com aquilo”, relembra emocionado.

Finda a atividade militar, o mestre Pimenta regressou à freguesia de Alferrarede, onde criou a fábrica de Mosaicos Pimenta, mantendo afinidade e contacto com a prática do desenho e das artes decorativas. Durante a entrevista, conta-nos que dias antes havia sido surpreendido com alguns exemplares produzidos na sua fábrica. Em passeio na localidade de Amoreira, em Abrantes, um conhecido deu-lhe dois mosaicos que diziam “Pimenta – Alferrarede”. “E já foi há tantos anos”, comenta.

José Pimenta na sua casa, em Rio de Moinhos. Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

Entre diversos trabalhos realizados no domínio da construção civil, José Pimenta recorda em particular “os trabalhos no Hospital de Souzela”. Momentos viram memórias e memórias viram arte nas mãos do artista que assina como RIO, em homenagem à freguesia que o acolheu: Rio de Moinhos.

Durante os trabalhos em Souzela, Pimenta e os colaboradores ficaram hospedados numa pensão, onde fizeram amizade com as filhas do proprietário. A lembrança com mais de 50 anos continua bastante presente e foi até eternizada numa das suas peças.

“A recordação que tenho é que eu pintei as meninas que conversavam connosco. Nós contávamos-lhes: na minha terra não é assim, andava a música a tocar e a gente à frente a deitar foguetes. E elas como falavam à alentejana: ó mê pai, na quer lá ver que na terra deste senhor anda a música a tocar e eles à frente a deitar foguetes. Tal na é a parvoeirã! Tenho isso ali escrito”, conta entre risos.

Uma vida de trabalho e marcada por altos e baixos que o artista lutou por superar. José Pimenta conta que comprou a “antiga Serração do Maia e Pereira”, período em que afirma ter sido “quase rico”. Anos mais tarde, fez uma sociedade – a Sociedade Anónima – e o cenário mudou. “Perdi-me de me ter metido com eles todos. Passei dificuldades enormes (…). Fazia viagens sozinho para o Algarve, muitas vezes a chorar, com um sofrimento terrível”, diz, com uma tristeza notória.

Nos negócios, chegou a ser “quase rico”. Mas depois teve problemas com os sócios. “Passei dificuldades enormes.Fazia viagens sozinho para o Algarve, muitas vezes a chorar, com um sofrimento terrível”.

Surgiu então o gosto pelas velharias e pela arte do restauro, chegando até a ter um espaço em Montalvo, onde se dedicava a restaurar os artigos que lhe chegavam e, posteriormente, procedia à sua comercialização. Um dia, passou por Rio de Moinhos e viu uma placa que dizia “vende-se”. Não teve meias medidas e adquiriu aquela que afirma ser uma casa de história, “com 157 anos de existência”.

Mobílias, portas e janelas, diversos eram os suportes com que José trabalhava, dando-lhes uma segunda vida. Recorda que, por vezes, junto com os materiais chegavam grandes pedras e foi assim que surgiu a ideia de começar a trabalhar a pedra. Aos 62 anos, deu os primeiros passos na área da escultura.

De picareta na mão, José continua a esculpir. “Tac tac tac”, seguido de “tac tac tac” e horas mais tarde as pedras ganham vida e transformam-se. “Nas pedras, a picadeira pequenina parece que tem ela uma inteligência”, diz José. Do processo resultam figuras religiosas, santos populares ou até representações humanas. Entre as esculturas, a figura do Santo António é talvez a que mais vende, acredita o artista.

“Nas pedras, a picadeira pequenina parece que tem ela uma inteligência”

José Pimenta

Em Rio de Moinhos criou amizades e, sobretudo, a proximidade com os compradores que tanto acarinha. Vários são aqueles que, lembrando-se do mestre, lhe fazem chegar uma pedra ou até madeira para Pimenta trabalhar. “Às vezes passam aqui e deixam-me pedras à porta”, diz.

“Comecei nos meus contactos, formidáveis, onde conheci gente extraordinária. Quando a gente descer na escada vê ali uma corrente de pedras. Aquelas pedras pequeninas eram as pessoas que me traziam. Leve esta pedra ao Senhor Pimenta, diziam. Eu gostava de ter tomado nota. Houve uma senhora que até me trouxe o livro e tudo, mas eu… já lá vão 30 anos”, conta José.

Das peças que mais o marcaram, e que ainda hoje admira, foi um pedestal em pedra e que agora pertence à neta. “Está tão trabalhado, tão bonito, que eu nem sei avaliar aquilo. É uma coisa maravilhosa. Depois nunca mais fiz nenhuma coisa daquelas, mas no princípio fiz coisas muito bonitas. Agora também são bonitas, as pessoas gostam delas”.

A primeira peça de madeira é marcada de história e pela qual José nutre um grande carinho. “O Cristo foi a primeira peça que eu fiz em madeira”. A ligação às peças que pelas suas mãos vão passando é notória e após vendidas, frequentemente deixam alguma saudade. O mestre de Rio de Moinhos fala de um dos trabalhos em pedra, uma representação humana, de que muito se orgulha e que ainda tem esperança de não ver ser vendida, afirma entre risos. “Este é um dos trabalhos que eu fiz muito bem feito. Eu fico triste se alguém me o leva”.

“No princípio fiz coisas mais maravilhosas, agora já sou um bocadinho para o comércio, a fugir. Já não é aquela perfeição”, diz o artista abrantino. A idade traz a técnica e a prática leva à perfeição. No futuro, José Pimenta compromete-se a seguir o seu ritmo e a “fazer as coisas bem feitas”.

O Cristo em madeira foi a primeira peça que José Fez neste suporte. Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

Dedicado à arte há mais de 30 anos, José Pimenta explorou diversos suportes. Há cerca de 11 anos dedicou-se à pintura que, apesar de mais recente na sua vida, lhe tem trazido muita alegria e motivos parar rir. “Enveredei pelas figuras de pedra, depois há 11 anos é que é as pinturas. Mas as pinturas eu farto-me de me rir com elas. As pedras não, acho que estão assim-assim. As pinturas não lhes chamo um desastre, mas eu até procuro: porque é que as pessoas gostam tanto daquilo?”, conta sorridente.

“A partir de hoje (…) tenho de passar a fazer as coisas bem feitas, demore o tempo que demorar. Não estou com a intenção de ser comercial, ganhar dinheiro… não. Vou recuar e vou fazer as coisas mais bem feitas. Eu sei que sou capaz”.

José Pimenta

A inspiração surge do mais inesperado, por vezes faz “o que lhe dá mona”, enquanto outras peças apresentam traços da cultura que adquiriu enquanto jovem. “Ia muito ao teatro, via muita revista. Aquelas cenas… tudo isso é cultura”. Nos quadros retrata também, com frequência, episódios da sua infância passada na sua aldeia natal –o Souto –, dando provas da sua boa memória. “Eu tenho um poder de fixação… tenho uma memória, felizmente, extraordinária”, afirma José.

“O Beijo”, assim apelidado pelo autor, é um dos quadros mais procurados pelos admiradores da sua arte. “Saem que é uma maravilha. Coisas simples, mas ninguém me ensinou, fui eu que puxei pela ideia. Ficam giros e eu farto-me de rir”, diz Pimenta.

José Pimenta com um exemplar do quadro “O Beijo”. Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

“As pinturas às vezes saem que é uma maravilha. Sabe porquê? Diziam e eu rio-me com isso, que o Picasso, quando estava bêbado ia com as mãos, atirava com a tinta e eram pinturas que vendiam milhares. Às vezes estou danado com aquilo, vou com o pincel… ponho-me a olhar para aquilo, tenho que me deixar rir e depois digo: isto é isto ou é aquilo. E não quer ver que compram aquilo?”, brinca o artista.

Há mais de 30 anos que José Pimenta reutiliza diferentes materiais como suporte da sua arte. Por vezes, portas, janelas ou até cabeceiras de cama servem de tela ao artista que todos os dias tenta “pintar qualquer coisa”. Às memórias de infância e representações que executa nos seus quadros, adiciona um toque pessoal, marcado pelo recurso à escrita, seja ela através de rimas, provérbios ou até críticas sociais.

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Forma de descarregar as emoções e as frustrações do dia a dia, a arte representa para o homem de 92 anos uma alegria e “satisfação extraordinária”.

A falta de materiais e o preço dos mesmos, por vezes tornam-se um entrave para muitos artistas. José Pimenta conta que cedo aprendeu a fazer as suas próprias tintas. “Sou eu que faço as tintas para pintar. Sei fazer todas as cores”. Autodidata por natureza, o mestre conta que até tem truques para que estas tenham uma maior longevidade, mas ninguém o ensinou.

“Sinto-me feliz e rio-me sozinho. Eu às vezes até olho, não esteja alguém a ver-me e pense ‘aquele gajo é tonto’… Mas é uma satisfação extraordinária.”

José Pimenta

“As tintas a óleo, as antigas, gasta-se pouquinho. Eu comecei a aprender várias coisas porque punha muita e sobrava. Qualquer coisinha de tinta pinta sei lá o quê. Eu farto-me de rir, já pintei mais de 300 quadros e a tinta parece que está sempre na mesma”, afirma sorridente. “As tintas ganham uma crosta por cima e todos os dias quando lhes vamos mexer, anula muita coisa. Então aprendi, arranjo um buraco em cima, está lá sempre um pau posto, tiro e ponho uma pinga e dá para pintar sei lá o quê. São coisas que o Abílio dizia: Ah Abílio Abílio, que à tua custa é que tu aprendes”, brinca José.

José Pimenta rodeado de peças terminadas e trabalhos por concluir. Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

Aos 92 anos, o artista não tem planos de parar. Porém, com a idade surgiu a incapacidade de fazer grandes esforços, pelo que conta com a ajuda de um colaborador que lhe transporta as pedras e as peças de grande dimensão, quando necessário. Mas engane-se quem pensa que a idade lhe tirou a autonomia. Diariamente continua a conduzir e a fazer o percurso entre a Rua de Angola, no centro de Abrantes, até à sua residência em Rio de Moinhos. O medo, esse, só o de ter um furo. “Já não consigo mudar um pneu”, brinca.

No seu atelier os dias começam cedo e há sempre trabalho por realizar. “Levanto-me muito cedo. Às vezes às 7h30 já estou a começar, não gosto de dormir muito”. Entre as 12h00 e as 14h00, José Pimenta aproveita para almoçar e descansar um pouco.

Engane-se quem pensa que a idade lhe tirou a autonomia. Diariamente continua a conduzir e medo… só o de ter um furo. “Já não consigo mudar um pneu”, brinca.

Nos tempos livres, o artista gosta de se manter informado, confessando-se um fiel leitor de jornais. “Todos os dias compro um jornal. Gosto de estar informado”. A rotina de trabalho encerra por volta das 17h00, se bem que no verão José gosta de ficar até mais tarde. “No Inverno costumo ir por volta das 17h00 ou 17h30. No verão os dias são maiores e fico até mais tarde”.

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“O meu lema de vida é trabalhar, trabalhar, trabalhar”, afirma o artista. “Enquanto puder, sempre a trabalhar e cada vez mais”. Para o futuro, o material a trabalhar é já extenso. No atelier armazena pedras já cortadas, pedaços de madeira e outros materiais que lhe servirão de suporte para trabalhar por mais 10 anos.

“Já tenho material que chegue para trabalhar nem que seja 10 anos. Tenho pedras ali já preparadinhas, tenho muitas coisas. Eu não sei, as coisas vêm ter comigo”.

José Pimenta

A criatividade não dá tréguas, a imaginação flui e os projetos não param. Na sua lista, a próxima peça passa por pintar um pedaço de uma antiga arca de madeira, já centenária e que José Pimenta havia, previamente, tratado e restaurado.

“Vou fazer umas pinturas simples. Como estou ali a olhar para a cabaça, lembrei-me de desenhar uma cabaça e de procurar: Oh cabacinha viste por aí uma velhinha? Em baixo vou fazer uma figura que eu li um romance dela, O Mistério da Légua da Póvoa e gostei muito de ler aquilo, ela é uma grande escritora. Vou tentar fazê-la ali, uma coisa assim simples”, diz José, referindo-se à escritora Agustina Bessa-Luís.

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No piso inferior dá-nos a conhecer o que para um mero cidadão não passam de simples paus em madeira, mas José atribui-lhes uma visão artística e, pelas suas mãos, hão de tornar-se numa verdadeira obra de arte.

“Eu tenho uns paus que agora estão ali pousados, porque estou a imaginar o que lhes irei fazer. Estou a estudá-los, porque há certas coisas que não devemos logo dizer ‘ah vou fazer isto’. Deixa-te estar aí que eu quero ver o que é que isto vai dar. É assim”, refere Pimenta.

Quem por Rio de Moinhos passar e pelo atelier de José Pimenta espreitar, vai continuar a ver a quem as dificuldades da vida moldaram a resiliência que tem hoje. No alto dos seus 92 anos, o mestre Pimenta que assina como RIO promete continuar a fazer história, evocar memórias e deixar a sua marca na comunidade abrantina. Espera um dia vir a ser lembrado e deixa o desejo de que um dia a neta lhe siga as passadas, talvez. “Quem sabe?”, questiona sorridente.

MIAA teve patente exposição em homenagem ao artista de Rio de Moinhos

Entre 8 de outubro de 2022 e 26 de fevereiro de 2023, o Museu Ibérico de Arqueologia e Arte (MIAA), em Abrantes, teve patente uma exposição, em homenagem ao mestre José Pimenta, com dezenas de peças de arte do artista que nasceu no Souto. “Rio” reuniu esculturas, desenhos e pinturas do artista de 92 anos, evocando tradições e memórias de Rio de Moinhos, onde vive.

As obras apresentadas, produzidas entre 1993 e 2022, sugeriam a riqueza temática e a capacidade técnica do artista de 92 anos, que começou como ladrilhador e tem produzido esculturas, desenhos e pinturas que evocam histórias, tradições e memórias da região. Com curadoria de Sara & André, foi reunido um conjunto de obras do artista que assina como RIO, em homenagem a Rio de Moinhos, e que dá também título a esta exposição.

“Um delírio estético ao qual, esperamos, não sejam alheias ainda assim a riqueza temática, a capacidade técnica, a multiplicidade de suportes e de linguagens, bem como requintado humor, afinado sentido crítico e pureza sem par”, escreveram os curadores.

Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

O mediotejo.net esteve presente no momento da inauguração em que o Presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, deu conta da importância para o município deste “exímio contador de histórias”.

“O Mestre José Pimenta é um exemplo de resistência, de entrega às suas causas e um exímio contador de histórias, associadas a cada uma das suas criações, ao longo de tantas décadas. Fica aqui o nosso contributo para esta tão bonita quanto justa homenagem ao seu trabalho”, disse o autarca.

ÁUDIO | Manuel Valamatos, presidente da Câmara Municipal de Abrantes

Nascido na aldeia do Souto, Abrantes, em 1931, cedo descobriu a sua vocação no ramo artístico. Iniciou a sua vida ativa em Lisboa, mudando-se posteriormente para Alferrarede, onde trabalhou por conta própria na área dos mosaicos e da azulejaria, mantendo contacto com o desenho e as artes decorativas.

Foto: Jéssica Filipe/mediotejo.net

Foi após a aposentação que o artista plástico se dedicou à compra, venda e restauro de velharias, instalando-se em Rio de Moinhos, local onde ainda mantém a sua loja e atelier. Aos 62 anos iniciou-se na arte da escultura, a que se seguiram incursões nas áreas do desenho e da pintura, que perduram até aos dias de hoje.

“As peças contam a história do meu sofrimento, e o sofrimento dizem que educa. Vou fazer 92 anos e já tenho muitas histórias para contar… Outras peças nascem por acaso e depois as pessoas gostam e acabamos por continuar”.

José Pimenta

Elaboradas numa multiplicidade de suportes e linguagem, as peças ilustram as vivências de José Pimenta. O nosso jornal esteve à conversa com o artista no dia da inauguração que falou num passado “cheio de histórias para contar”.

ÁUDIO | Mestre José Pimenta

Apesar de inicialmente apreensivo, o mestre de Rio Moinhos revelou-se satisfeito com a exposição. “Primeiro senti-me trémulo e quase envergonhado, mas como os responsáveis pela exposição merecem muita confiança e amizade, resolvi expor. Sinto-me bem… e muito melhor por as pessoas estarem a gostar”, confessou.

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Hoje, José mostra-se agradecido com a oportunidade de ver as suas peças ganhar vida numa exposição e não esquece o carinho com que sempre foi recebido pela equipa do MIAA. “Sinto-me muito bem, mas esse agradecimento é às pessoas todas que lá estão, que elas são impecáveis. Tratam-me quase como um rei”.

“Certo dia tive uma brincadeira muito grande com elas. Vieram acompanhar-me à porta e disseram-me: oh Senhor Pimenta, o senhor começa a deixar o seu carro ali. E eu disse: então mas eu sou o Presidente da República ou quê?, e ainda não se falava em tal coisa. Quem sabe lá, disse-me uma, então ele vem aí um dia destes”, recorda entre risos.

O primeiro passo, dado pelos curadores Sara e André, também não foi esquecido. “Eles já me visitavam no atelier com frequência. Diziam-me sempre que devia fazer uma exposição no Museu, mas eu dizia sempre que não, que não merecia”. Até que acabou por aceitar abrir as portas da sua arte ao mundo, o que lhe levou muita gente até ao seu espaço de trabalho, em Rio de Moinhos. “Tem vindo aqui muita gente por causa da exposição. Viram os meus trabalhos lá, gostaram e vieram cá para me conhecer e ver mais do meu trabalho”.

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou Abrantes no dia 7 de dezembro de 2022, cumprindo o convite que tinha ficado pendente há um ano por altura da inauguração do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte (MIAA).

Percorreu cada obra, escultura e objeto exposto, dos oito núcleos do MIAA e não esqueceu a mostra de José Pimenta, a quem acompanhou ao longo de todas as obras expostas. Mostrando-se interessado, questionou o autor sobre o motivo da sua execução. Com muita satisfação, Pimenta recorda o momento em que lhe explicou as obras que retratam Nelson Mandela e Cesária Évora.

“Mostrei-lhos todos e disse-lhe tudo quanto sentia. No Nelson Mandela ele disse-me: porque é que o pintou? E eu: olhe está muito mal pintadinho mas eu gosto muito dele. Sabe, acompanhei a vida dele na prisão. Ele esteve 28 anos a partir pedra com uma marreta e quando lhe foi dada a liberdade ele dirigiu-se a todos os que o guardavam na prisão, a agradecer e disse aquelas palavras todas que estão ali escritas. Ele disse: Eu sou o capitão da minha alma – e eu também sou o capitão da minha alma!”, afirma José.

Quando o Presidente da República lhe questionou quanto à peça de Cesária Évora, José respondeu: “Gosto muito das cantigas dela e tudo. Um dia vi o filme e foi verdade, ela a cantar na América, e por isso lá estão aqueles garotos. Ela, sem qualquer protocolo, retirou-se e à frente deles foi fumar um cigarro. Oh Senhor Presidente, adorei!”

Atualmente a frequentar o Mestrado em Jornalismo na Universidade da Beira Interior. Apaixonada pelas letras e pela escrita, cedo descobri no Jornalismo a minha grande paixão.

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2 Comentários

  1. José Pimenta está no meu coração não só pelas obras que tenho (Santo António) como de máquinas de costura que lhe comprava nas minhas visitas a Montalvo a casa de amigos. Dentro de dias farei uma visita.

  2. Grande Senhor, José Pimenta.
    Tive o privilégio de o conhecer pessoalmente assim como a sua família, cresci perto da sua loja e da sua esposa, em Abrantes ! Não sabia que era mestre nessas artes. Excelente, adoro … É muito gratificante ver que está de saúde e em forma !!! G. abraço.

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