Edifício do século XVI, a Igreja Matriz da Atalaia é Monumento Nacional desde 1926, sendo um dos locais mais icónicos de Vila Nova da Barquinha, de impreterível visita para todos os interessados em arquitetura, especialmente aquela relativa ao período do Renascimento. Requalificada há pouco tempo, esta edificação, dedicada a Nossa Senhora da Assunção é um dos pontos turísticos em destaque do concelho.
Considerado um dos mais belos exemplares da arquitetura renascentista em Portugal, a Igreja Matriz de Atalaia foi alvo de uma empreitada de reabilitação e valorização, que conferiram ao edifício um reforço estrutural e embelezamento exterior. Num investimento de 370 mil euros, o processo iniciado em 2019 ficou concluído este ano.
Embora o investimento inicial previsto fosse de 250 mil euros, no final foi de 370 mil euros o montante investido nesta intervenção cofinanciada em 85% por fundos comunitários, através do Programa Operacional Centro 2020, no âmbito do investimento na conservação, proteção, promoção e desenvolvimento do património histórico-cultural de elevado interesse turístico.
O principal objetivo da intervenção foi o da requalificação estrutural do interior da Igreja, em particular o reforço de contenção da coluna estrutural (uma das colunas interiores, junto do altar mor apresentava uma fratura longitudinal bem como abertura das juntas entre os blocos de alvenaria), a par da instalação elétrica do exterior e interior (com o objetivo de aumentar a eficiência energética).
Nesta empreitada foi ainda levada a cabo uma “operação de charme” na parte exterior, com a reabilitação dos pavimentos do adro (substituição e arranjos de pedras calcárias danificadas
Com um novo visual, este monumento renascentista do século XVI vai ainda em breve ser dotado de uma componente de video mapping com vista à promoção do monumento e consequente enriquecimento da experiência turística.
Mandada edificar em 1528 por D. Pedro de Meneses, Conde de Cantanhede, a Igreja Matriz da Atalaia teve a sua traça elaborada por João de Castilho, a os programas decorativos do portal principal e do arco cruzeiro elaborados por João de Ruão. Conforme nos relembra Fernando Freire, “estes mestres foram coautores de obras que são hoje património mundial da humanidade de que são exemplo: o Mosteiro do Jerónimos, o Convento de Cristo e o Mosteiro da Serra do Pilar”.
O elemento de maior destaque na Igreja da Atalaia é o seu portal, o qual alberga as figuras de São Pedro e São Paulo, enquadrando arco de volta perfeita encimado por entablamento repleto de motivos grotescos que ladeiam a pedra de armas de Dom Pedro de Meneses.
No seu exterior, dois anjos amparam o escudo de armas do fundador, com senhorio em Cantanhede, e Conde da Atalaia, título nobiliárquico criado em 1479, pelo Rei D. Afonso V. Quatro medalhões foram também esculpidos com bustos, dois ladeando o arco, com as figuras de um jovem e um guerreiro (o fundador?), outros inseridos na base das pilastras, mostrando um homem e uma mulher.
Já no interior do monumento, do lado esquerdo, encontra-se a capela batismal. Nas laterais da igreja podem ser apreciados conjuntos de azulejos policromados, amarelos e azuis, de grande efeito artístico do século XVII (1630-1660). Sendo que o local é frequentemente visitado por estudantes holandeses, interessados neste tema.
Na parte alta do templo vêem-se 9 painéis (100cm x 90cm cada), no quais figuras as cenas do Antigo Testamento no topo das paredes, intercaladas com as janelas e que ilustram os primeiros versículos do Livro dos Génesis como a criação do Homem, Adão e Eva no Paraíso, Caim matando Abel ou a Construção da arca de Noé, entre outros.
Já as naves laterais do templo são cobertas por 7 painéis com cenas do Novo Testamento, como o Baptismo no Jordão, a Cena da Circuncisão ou o Milagre da Mula.
“A igreja matriz da Atalaia é uma obra experimental, onde se busca já alguma simetria e racionalidade no espaço edificado, embora este resulte algo rudimentar e empregue ainda soluções manuelinas, mas de que se destaca o programa ornamental ao romano, naquela que é considerada a mais inovadora obra do mestre escultor João de Ruão”, refere informação municipal.
Bem recentemente, mas quase 90 anos depois, a Pedra de Armas, que representa o brasão dos condes da Atalaia, a família Manoel, regressou também a esta igreja que é sua casa. A cerimónia oficial de entrega da peça escultórica, por parte da família ao Município, decorreu na própria igreja, no passado dia 14 de maio.
Acontece que a pedra de armas de D. José Manoel da Câmara (1686 – 1758), originalmente concebida para a Casa do Patriarca de Atalaia, havida sido removida e instalada no portão principal da Quinta do Gaio, no Cartaxo em 1935.
Em dezembro de 2020 o Município de Vila Nova da Barquinha assinou um protocolo com familiares de D. José Manoel, segundo Cardeal Patriarca de Lisboa, com vista ao retorno da pedra de armas para Atalaia.
Por ora, a obra está colocada junto aos restos mortais dessa figura histórica que se encontra sepultada ao lado do altar da Igreja Matriz da localidade atalaiense.
Em virtude da requalificação deste edificado, o município vai promover um programa de animação cultural de Valorização da Igreja Matriz da Atalaia, a ser divulgado em breve, que vai levar grandes nomes da música portuguesa até a este monumento nacional.