Biblioteca Municipal António Botto, Abrantes. Créditos: CMA

A Biblioteca esteve aberta no sábado, entre as 9h30 e as 13h00, como habitualmente, para receber os seus utilizadores habituais e demais visitantes, com muitas surpresas partilhadas com a comunidade, contou Sónia Lourenço, coordenadora do Serviço de Bibliotecas de Abrantes e da Biblioteca Municipal António Botto. Por ocasião do aniversário, o mediotejo.net conversou com a responsável pela Biblioteca abrantina sobre o tema das Jornadas das Bibliotecas de Abrantes, a decorrer até este domingo.

Foto: CMA

Para que serve uma biblioteca hoje? Quais os desafios para o futuro? Sónia Lourenço recorda um passado recente, com a reabertura no dia 1 de julho de 2021, Dia Mundial das Bibliotecas, quando se voltaram a abrir as portas da Biblioteca após vários condicionalismos derivados da pandemia, e que levou a que as bibliotecas, tal como outros organismos e instituições, fechassem portas.

Pelo caminho, dá-se a abertura do MIAA e com isto traça-se um novo destino, num novo enquadramento.

“Abrimos com uma biblioteca renovada, com outros desafios e oportunidades, associados à inovação e à transformação, porque uma biblioteca atualmente já não é o que era uma biblioteca há anos atrás”, começa por referir.

MIAA – Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes e a vista sobre o Claustro do Convento de S. Domingos, que o une à Biblioteca Municipal António Botto. Foto: CMA

“A biblioteca não é só um depósito de livros; não se coaduna só com estantes de livros, em que as pessoas vêm, sentam-se nas mesas a ler… muito pelo contrário. Privilegiamos muito a função social que a biblioteca tem atualmente, enquanto agente de inclusão, com foco orientado para as pessoas, para a comunidade, para os interesses e necessidades de cada um”, afirma a coordenadora.

Defendendo que o plano passa por permitir às pessoas “construir connosco a biblioteca, envolvendo-se em todas as iniciativas que desenvolvemos”, Sónia recorda o slogan que tem sido utilizado.

“A biblioteca é feita de pessoas, com pessoas e para pessoas. Acho que é fundamental nos dias de hoje”

Sónia Lourenço, coordenadora do Serviço de Bibliotecas de Abrantes

A renovação da Biblioteca permite, segundo a responsável, contar com espaços mais descontraídos, sendo a BMAB “espaço de encontro, de convívio, em que as pessoas vêm à biblioteca com um propósito, como requisitar um livro ou ler, mas podem não ter um propósito, de todo”.

Até porque a leitura vai além do “fator de qualificação humana e de desenvolvimento social”, pois também proporciona outras valências “para que as pessoas se sintam bem nestes espaços”.

A Biblioteca Municipal tem neste momento muito mais valências, assume Sónia Lourenço, acrescentando que “é um ponto de encontro, para além de oferecer inúmeras atividades culturais, educativas, de lazer,… Tendo como foco principal as pessoas”.

Exemplo disso é o programa das Jornadas das Bibliotecas de Abrantes deste ano, a decorrer por ocasião do aniversário, que tem variadas iniciativas desde um encontro com um escritor, um workshop ligado à parte da comunicação, um recital de poesia e harpa. “É um pouco de tudo o que queremos convocar para a Biblioteca”, salienta.

Questionada sobre os desafios de acompanhar a crescente digitalização e sobre as estratégias para cativar públicos mais jovens que possam não sentir-se motivados aos métodos tradicionais de pesquisa, à leitura, à frequência e fruição dos diversos espaços que a biblioteca municipal, que em enquanto serviço público disponibiliza, Sónia refere que foram feitas adaptações, aliando a tecnologia ao livro, ao papel, provando que estes podem andar de mãos dadas.

“Antes da pandemia tínhamos uma sala apetrechada com computadores, estáticos, que o público podia utilizar, nomeadamente jovens e menos jovens, e todos foram substituídos por computadores portáteis. Qualquer pessoa que chegue à receção da Biblioteca pode requisitar um computador e pode utilizar qualquer espaço da biblioteca, desde o puff, o sofá, … qualquer espaço pode ser utilizado e isso não condiciona tanto as pessoas e dá uma outra liberdade. Também temos tablets. Foi uma das apostas e dá para perceber que, hoje, há uma utilização muito maior das novas tecnologias na biblioteca que não existia. Aliás… um telemóvel hoje em dia também é um autêntico computador”, reconhece a responsável.

Além disso, há também o serviço da Bebeteca, um projeto com 10 anos, que atrai desde cedo as famílias e crianças ao contacto com a biblioteca, com a leitura e o livro, com atividades de teatro e música, entre outros. “Acompanhamos grávidas, e depois de nascerem acompanhamos os bebés, e todo o percurso das crianças”, releva, mencionando as atividades que servem a angariação de futuros novos leitores.

Também, todas as semanas, existem várias sessões dedicadas aos seniores e que por isso leva à realização de oficinas às terças, quartas e quintas-feiras, com diferentes temáticas. “Vêm à biblioteca integrados em turmas, teve uma adesão incrível. É uma questão de encontrar outras estratégias para aproximar e cativar os públicos de diferentes faixas etárias”, sublinha.

Se em 2022 se comemoram os 29 anos, o ano 2023 será de datas redondas: a Biblioteca Municipal António Botto fará 30 anos de existência em novembro do próximo ano, enquanto a Biblioteca Itinerante (BIA) soprará 10 velas no mês de maio.

Promete-se um programa especial, que está já a ser trabalhado com muitas atividades incluídas. “Em breve daremos conta do que estamos a planear, porque vai ser um 2023 em festa, com um conjunto de atividades associadas às duas datas”, assevera Sónia Lourenço.

Foto: CMA

Na data de aniversário da BMAB, recuemos na História sobre as bibliotecas de Abrantes Apesar de só em 1993 ter sido criada a Biblioteca Municipal António Botto, já em 1887 existia na cidade uma sociedade chamada Biblioteca Popular de Abrantes, que três anos mais tarde mudou o nome para Sociedade João de Deus, com intuito de manter uma biblioteca e organizar conferências que viessem de encontro aos interesses da classe operária. Foi esta iniciativa privada que deu origem à primeira biblioteca de Abrantes.
“Era permitido o empréstimo domiciliário por um período de oito dias, excetuando-se os dicionários, atlas e livros não encapados”, pode ler-se no site da CM Abrantes.
Já em 1889, nasceu a Biblioteca Escolar de S. Vicente, que possibilitava a leitura e empréstimos durante o horário escolar.
A 3 de Agosto de 1933, pela mão do município, foram efetuadas obras para instalação da biblioteca no rés-do-chão do edifício dos passos do concelho. Trinta anos volvidos, a Fundação Calouste Gulbenkian estabeleceu ali a Biblioteca Fixa nº. 134.
Mas em Fevereiro de 1982 a biblioteca fechou temporariamente, e foi transferida para a ala Sul do Convento de S. Domingos, onde acabou por funcionar até 1993.
Talvez já estivesse predestinado que ali nasceria uma nova biblioteca, morderna, construída naquele edifício histórico, num contrato programa entre o município e o Instituto Português do Livro e da Leitura.
Nasce assim a Biblioteca Municipal António Botto (BMAB) ao abrigo do programa da Rede Nacional de Leitura Pública, abrindo portas em 26 de Novembro de 1993.
Desde o ano 1999, em que foi disponibilizado o primeiro projeto de Internet, a BMAB passou a contar com a biblioteca virtual, informação à comunidade, entre outros serviços pioneiros na área das bibliotecas e arquivos em Portugal.

Com a chegada do milénio, a Biblioteca foi crescendo até aos dias de hoje, num processo evolutivo coadunado com a era da globalização e crescente digitalização, acrescentando valências e modernizando espaços.

Hoje é palco de iniciativas culturais, artísticas, recreativas, estando a paredes-meias com o vizinho Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, umbilicalmente ligados no edificado histórico do antigo Convento e unidos pela centralidade do claustro.

A programação vai sendo moldada mês após mês, com iniciativas diversas, para todas as idades e públicos, abrangendo a rede de bibliotecas do concelho e a Biblioteca Itinerante José Diniz, numa casa feita de livros, de portas abertas aos abrantinos e quem mais a queira visitar.

BIBLIOTECA MUNICIPAL ANTÓNIO BOTTO

Convento de S. Domingos
2200-343 Abrantes
T. 241 330 100
E. biblioteca@cm-abrantes.pt
W. www.bmab.cm-abrantes.pt

Horário de inverno (1 de outubro a 31 de maio)

Segunda-feira das 13:30 às 19:30.
De terça a sexta-feira das 09:30 às 19:30
Sábado das 09:30 às 13:00

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Joana Rita Santos

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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