Com os olhos postos na candidatura ao programa Portugal 2030, a ADIRN convocou os autarcas das juntas de freguesia da sua zona de intervenção para uma reflexão conjunta sobre a estratégia de desenvolvimento para o Ribatejo Norte a partir de um projeto de cooperação em rede, com o envolvimento de autarcas e associações locais.
O ponto de partida para o debate foi a apresentação do caso de sucesso do projeto “Aldeias de Portugal”. Os presidentes de Junta foram convidados a refletir sobre as potencialidades e as carências da sua freguesia e a proporem à ADIRN os projetos que gostariam de ver concretizados. Projetos e ideias poderão existir muitos, mas os apoios, apontaram, são escassos para os fazer sair da gaveta.


Pedro Ferreira, presidente da Câmara Municipal de Torres Novas e presidente da ADIRN, começou por lembrar que “os velhos tempos do ‘orgulhosamente sós’ já lá vão”, sublinhando a importância de um trabalho conjunto, mediado pela associação, para levar a bom porto o plano estratégico de desenvolvimento para a região.
Nesse sentido, destacou “a atividade discreta, mas muito ativa da ADIRN”, acreditando que a aproximação das juntas de freguesia àquela associação poderá ser o caminho certo para garantir apoios a projetos que “mais facilmente são financiados, tendo a ADIRN como chapéu”.
No auditório, perante o desafio lançado pela ADIRN, Pereira Jorge, presidente da Junta de Freguesia de Riachos, registou a dificuldade em concretizar projetos naquela que é única vila do concelho de Torres Novas e explicou porquê.
“Sem ovos não se fazem omeletes. As carências da minha freguesia são tantas, que não tenho tempo para me dedicar a essas iniciativas. E depois, as pessoas também não se envolvem muito. Diz-se que Riachos é bairrista, mas já não é tanto assim”, afirmou o autarca, para concluir que “a falta de apoios não permite manter a identidade e preservar as memórias “da freguesia.
Como exemplo, apontou a Casa do Povo, que “continua a aguardar financiamento para se avançar com as obras, porque a Junta nunca conseguirá avançar sozinha”. Ainda assim, não deixou de referir “as enormes potencialidades do concelho para apostar no Turismo de Natureza”, pela sua geografia de proximidade à serra e ao rio.
Por sua vez, Júlio Clérigo, presidente da União das Freguesia de Torres Novas – S. Pedro, Lapas e Ribeira Branca, deixou no ar a possibilidade de uma candidatura da aldeia de Lapas ao projeto “Aldeias de Portugal”, pelas suas características singulares, como as grutas e as pitorescas ruelas emolduradas pelo Rio Almonda.
Já Paulo Simões, autarca da Junta de Pedrógão (Torres Novas), apontou à promoção da Serra de Aire e Candeeiros, com a ideia da criação de um festival em parceria com os municípios de Alcanena e Ourém. E salientou a urgência da “cooperação entre territórios”.
No mesmo sentido da proposta de “cooperação entre territórios” surgiu a intervenção da vereadora da Câmara Municipal de Alcanena, Marlene Vieira, que considerou a ADIRN “um contexto propício à promoção do território.
“A nossa grande questão é, como se cria o desejo pelo Ribatejo Norte?”, assinalou a autarca de Alcanena, sublinhando a mais-valia da ADIRN para “organizar o território”, tendo em conta o seu potencial.
Uma das bandeiras da ADIRN, afirmou Jorge Rodrigues, coordenador da associação, é a fixação de jovens na região, por via da valorização do território: “A percentagem de população que se perdeu nos últimos anos é dramática. Temos de andar com os jovens ao colo e encontrar condições para que eles se fixem cá. Quase tão importante como gerirmos a água é gerirmos a nossa população jovem”, afirmou.
Quanto às dificuldades de financiamento sentidas pelos autarcas para apoio a projetos, Jorge Rodrigues foi perentório. “Não há territórios pobres, há territórios sem ideias”, notou, apelando à participação dos autarcas no plano de desenvolvimento estratégico para a região.
“Estamos aqui para ouvir. Temos 52 freguesias no nosso território. Queremos criar um instrumento informal, uma rede de proximidade. Estamos a preparar a nossa candidatura ao Programa 2030 e queremos afirmar a agenda do GAL como a ‘Agenda do Bem Comum’, disse Jorge Rodrigues, tendo feito notar que o “Fórum das Freguesias” foi o primeiro encontro que a ADIRN pretende concretizar nos seis municípios da sua área de abrangência. O próximo terá lugar na Fábrica da Cultura de Minde, dia 3 de fevereiro.
Corte de 40% no financiamento dos GAL preocupa ADIRN
Jorge Rodrigues notou que é preciso continuar a acreditar e a sonhar, mas não deixou de demonstrar as suas preocupações com o quadro que se aproxima.
“No caso dos Grupos de Ação Local está prevista uma redução de financiamento na ordem dos 40 por cento a nível nacional por via do PDR, do Ministério da Agricultura. Isso preocupa-nos bastante. E, nesse âmbito temos uma Federação a trabalhar numa tentativa de inversão desse cenário, pelo menos, numa próxima reprogramação. Temos também um grupo de autarcas a tentar ganhar mais condições para os projetos de âmbito local, projetos que são essenciais para muitos destes territórios de interior e mais rurais. É uma tentativa que esperamos que seja bem conseguida para obter melhores condições de financiamento para os GAL, mas principalmente para os projetos dos territórios”.
Sobre o mesmo tema, Pedro Ferreira foi claro: “É preciso que o Governo veja com outros olhos o papel dos GAL”.
Da área de intervenção da ADIRN fazem parte os concelhos de Alcanena, Ferreira do Zêzere, Ourém, Tomar, Vila Nova da Barquinha e Torres Novas.

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