Saído recentemente dos prelos, eis um livro que fala de imagens sacras e profanas e conta com valioso prefácio de Frei Bento Domingues de que poderemos respigar um pequeno mas significativo extrato:
«Depois de ler e reler Os Dialectos das Imagens. Discursos do Sagrado e do Profano, de Aurélio Lopes (antropólogo) e Vítor Serrão (historiador de arte), verifiquei a minha imprudência em ter aceitado o honroso pedido para escrever o Prefácio para esta espantosa obra, realizada a quatro mãos.
Como não sou nem antropólogo nem historiador da arte, tenho de me remeter para a minha condição de teólogo que desconfia da teologia sistemática, que tem praticado a teologia do fragmento, do que vai acontecendo dia a dia, numa atenção aos sinais dos tempos, sob a vigilância da teologia negativa – Deus conhecido como desconhecido (Tomás de Aquino) – e alérgico a qualquer construção definitiva, sabendo que no provisório vivemos, filhos do tempo e da eternidade.
Sem princípio nem fim, a arte é assim, dizem os autores. Também a teologia deve resistir à tentação de encaixar Deus no mundo das suas interpretações. Supõe-se que também Ele não tem princípio nem fim».
Esta obra, escrita em confinamentos de pandemia, tenta mostrar que as agendas da História da Arte e da Antropologia se encontram num território comum que é o mundo vivenciado das imagens, onde sagrado e profano sempre residiram. A primeira precisa da segunda: o olhar antropológico que alargue o estudo da arte, que seja estético e afectivo, apto a reabrir memórias, explicar tradições e enfrentar o eterno dilema entre poder e fragilidade, entre tempos de iconofilia exaltante e fases de iconoclasma e esquecimento.
A produção e fruição da arte (sobretudo a que foi destinada ao culto nas Idades Medieval e Moderna, circunscritas ao caso português) integram em si tais dimensões de comunicação. Tal reclama uma pesquisa mais ampla que as tradicionais vias formalistas, biográficas ou apenas e só contextual, incapazes de seguir os sobressaltos do percurso ao longo do tempo histórico.
O propósito deste ensaio escrito a quatro mãos foi, assim, constatar que as imagens sacras sempre acumularam capacidades estéticas e afectivas a reforçar o seu sentido discursal: são instrumentos de diálogo em aberto, que anseiam, intemporalmente, pela disponibilidade de um olhar cúmplice.
Publicado pela Editora Caleidoscópio, o estudo conta com apoio editorial da Câmara Municipal de Santarém, da ARTIS da Universidade de Lisboa, do IELT da Universidade Nova e da FCT: Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Embora iniciada a sua comercialização, as previstas apresentações públicas realizar-se-ão, por questões de calendário, apenas após o Verão.
É provável que a primeira aconteça na Feira do Livro de Lisboa em Agosto ou inícios de setembro.
