Numa apresentação onde nem todas as fotos coincidiram com as imagens em exposição, José Soudo analisou em Sardoal o percurso e trabalho de “outros Sebastiões Salgados antes do próprio”, recuando quase 200 anos até aos primórdios da fotografia e percorrendo diversos fotógrafos como Irving Penn, Marc Riboud, Don McCullin, Nick Ut, Robert Capa, Jacob Riis ou ainda Artur Pastor, o “Salgado à português”.
A propósito da exposição fotográfica “Êxodos”, da autoria do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, o Centro Cultural Gil Vicente, em Sardoal, recebeu no sábado, dia 31 de julho, o fotógrafo e investigador José Soudo que refletiu e dialogou sobre os paradigmas de Sebastião Salgado, assim como apresentou o seu livro intitulado “A Atribulada História do Casamento da Dona Luz com o Senhor Pixel”. Durante a tarde foi igualmente exibido um documentário dedicado ao artista plástico José Pimenta.
Jorge Gaspar, vereador do município sardoalense, enalteceu a importância do retomar destas atividades culturais, dizendo que “se há coisa que não pode parar é a atividade cultural no nosso concelho e em particular nesta casa”.
José Soudo, na sua intervenção, referiu que “Salgado é um figura incontornável, goste-se ou não se goste, mas antes dele houve muitos outros Salgados”, sendo essa a perspetiva adotada para a sua reflexão: “Paradigmas de Sebastião Salgado”.
O fotógrafo e investigador começou por analisar o trabalho e percurso fotográfico de Sebastião Salgado, muito pautado por um cariz militante, etnográfico, respeitador da natureza, onde o retrato das crianças, do trabalho e da sociedade em geral, desempenham muitas vezes um papel fundamental.
O vereador Jorge Gaspar considerou a sessão muito interessante “na medida em que deu a perspetiva diferente ou pelo menos mais abrangente daquilo que é a fotografia de Sebastião Salgado”, referindo que a exposição patente no Centro Cultural Gil Vicente garante a perspetiva da mensagem mas que “também foi muito enriquecedora a oportunidade de ter alguém entendido no assunto a explicar o contexto e a ensinar os aspetos mais técnicos e teóricos”.
Seguiu-se depois a apresentação do livro de José Soudo – “A Atribulada História do Casamento da Dona Luz com o Senhor Pixel” -, um livro que nasceu da mão do fotógrafo e investigador pela necessidade de ir à escola do filho “contar uma história”, pelo que o dedicou às crianças. José Soudo explicou que o livro leva a uma viagem pela história da fotografia através de uma linguagem clara e acessível.

Antes disso, este momento cultural contou com a exibição do documentário “Vontade de Fazer” – por parte da Associação Palha de Abrantes e com realização de Paulo Margalho – dedicado ao artista plástico José Pimenta, o qual marcou presença na sessão.
No documentário foi possível acompanhar um pouco da obra e da vida de José Pimenta, natural de Souto (Abrantes), onde o próprio analisou diversas das suas obras e quadros. José Pimenta assina as suas obras como RIO, em homenagem a Rio de Moinhos (freguesia onde tem o seu atelier) e ao rio Tejo.
Agora, com 90 anos, José Pimenta mostrou-se confiante de ainda chegar aos 100 e de fazer muita coisa.
O brasileiro Sebastião Salgado (1944) é um dos mais conceituados fotógrafos mundiais, distinguido com diversos prémios internacionais. Ao longo da sua carreira foi revelando a vida das populações em deslocação, dos refugiados e as migrações determinadas por conflitos e guerras, em todo o mundo, bem como a dureza do trabalho nas regiões mais pobres ou a ameaça que paira sobre as populações indígenas e inúmeras espécies animais, nas últimas florestas virgens do planeta.
A exposição “Êxodos”, promovida pelo Espalhafitas/Palha de Abrantes, com o apoio do Município de Sardoal e com a parceira da Associação Cultural e Artística “Grande Coisa” e da GO Romaria Cultural, foi inaugurada no dia 5 de junho e pode ser visitada de terça a sexta-feira (16:00-18:00) e aos sábados (15:00-18:00), até ao dia 7 de agosto.