Nos dias 22 e 23 de janeiro decorreu a terceira edição do Censo ibérico de águia-pesqueira invernante. Esta iniciativa, que tem como objetivo conhecer o número de águias-pesqueiras invernantes em Portugal e Espanha, é realizada por voluntários distribuídos pelos principais locais de invernada desta ave de rapina nos dois países. Santarém, sobretudo no troço entre Abrantes e Chamusca, voltou a ser o distrito em território nacional onde foi possível contar mais indivíduos desta espécie.
A águia-pesqueira Pandion haliaetus é uma espécie invernante e migradora de passagem regular no nosso país. Até 2015 não havia dados acerca dos efetivos reais da população invernante em território nacional, ano em que se realizou o primeiro censo dirigido a esta espécie em Portugal, iniciativa promovida e coordenada pela plataforma “Aves de Portugal”.
No ano seguinte, o censo voltou a repetir-se em Portugal, mas desta vez o esforço extravasou fronteiras e o grupo “Amigos del Águila-pescadora”, coordenados pela Fundación Migres, iniciaram um censo nos mesmos moldes na Comunidade Autónoma da Andaluzia. A partir de 2017 o censo foi alargado a toda a Península Ibérica.
O principal objetivo deste censo é reunir dados que a médio-longo prazo nos darão uma perspectiva acerca da evolução das populações desta espécie a nível ibérico, e em particular em território nacional. Indiretamente permite a recolha de informação sobre a situação da espécie nos países de onde são oriundas as aves invernantes em território ibérico.
Censo em Santarém
O distrito de Santarém, em particular a bacia do Rio Tejo entre Abrantes e Salvaterra de Magos, tem registado o maior efetivo invernante a nível nacional desta espécie e é por isso considerada de prioridade máxima no esforço dirigido à deteção das águias, e onde é imperativo assegurar uma boa cobertura do território. A coordenação distrital está a cargo de Paulo Alves (Abrantes) e José Freitas (Santarém).
Foram realizados dois transectos de barco com início no “cais” da Ribeira de Santarém, repartidos pelos dias do censo. Um para montante, até Vila Nova da Barquinha, e outro para jusante, até Vila Franca de Xira.
Além destes transectos fluviais, vários voluntários foram distribuídos por áreas não cobertas de barco, tais como o Paul do Boquilobo, o troço de rio entre Almourol e Abrantes e diversos outros pontos onde nos últimos anos foi detetada a presença de águias-pesqueiras no inverno.
O transecto fluvial no sábado foi interrompido inesperadamente por uma draga de extração de areias em Chamusca, que impediu o grupo de voluntários de progredir até ao destino final previsto. Esta situação ilegal já foi alvo de queixa junto do SEPNA e do IGAMAOT e aguarda desenvolvimentos.
Além deste episódio, é de assinalar o baixo caudal que o rio Tejo apresenta tornando a navegação morosa e difícil.
Resultados do censo
No total dos dois dias de censo foram contadas no distrito de Santarém 39 a 44 águias-pesqueiras. O intervalo de números reflete a impossibilidade de descartar em certos casos a repetição de indivíduos já contados.
Comparando os resultados deste ano com os obtidos em anos anteriores, nota-se um ligeiro decréscimo no número de águias contadas, podendo este decréscimo estar ligado à impossibilidade de realizar parte do percurso de barco e não a um real decréscimo da população invernante de águia-pesqueira nesta área geográfica.
A nível nacional foram contadas no total 168 a 197 águias-pesqueiras, baixando o número mínimo e ultrapassando marginalmente o número máximo em relação a 2019, data do último censo realizado.
Em resumo, esta edição do censo de águia-pesqueira invernante foi, mais uma vez, um sucesso e contribuiu para que futuramente se possa olhar para os dados recolhidos e tirar conclusões precisas acerca da dinâmica populacional de águia-pesqueira na Península Ibérica.
Agradecimentos
Os coordenadores distritais de Santarém agradecem efusivamente a todos os observadores voluntários que participaram no censo. Os percursos de barco não seriam possíveis sem o apoio logístico dos Bombeiros Voluntários e dos Sapadores de Santarém, o nosso muito obrigado. São também devidos agradecimentos à Câmara Municipal de Santarém e em particular ao Vereador Nuno Russo que acompanhou os voluntários num dos transectos fluviais.
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