O mediotejo.net foi acompanhar uma aula de Yoga no parque ribeirinho de Vila Nova da Barquinha. Imagem: mediotejo.net

Numa interligação entre o corpo e a mente, o objetivo é simples mas muito desejado: alcançar o bem-estar físico e emocional. Estamos a falar do Yoga, uma prática em voga pelos benefícios que traz à saúde de todas as gerações. Da cabeça aos pés, todos os pontos do nosso corpo são ativados com alongamentos, respirações e exercícios de equilíbrio, sempre acompanhados por uma concentração exímia cujo foco é um só: em nós próprios. Curioso? Então venha com o mediotejo.net descobrir como é uma aula de Yoga Lu Jong, uma prática terapêutica direcionada para a coluna.

De colchão debaixo do braço, garrafa de água na mão e equipados a rigor com fato de treino caminhamos tranquilamente pelo Parque de Escultura Contemporâneo de Almourol, mais conhecido por parque ribeirinho de Vila Nova da Barquinha, até ao ponto de encontro – a instalação de caixas vermelhas, azuis e brancas que formam a obra intitulada “Casa no Céu”.

É domingo de manhã, o tempo está fresco, o sol escondido e a relva macia. Juntamo-nos às fiéis alunas que já aguardam pela professora e estendemos o colchão, cumprindo o distanciamento social. À nossa volta, as folhas dançantes das árvores trazem-nos um ar puro e envolvem-nos imediatamente numa sensação de calma como se fosse um bom presságio daquilo que está prestes a acontecer durante a próxima hora.

O cenário começa a compor-se de jovens, adultas e idosas. Apenas um jovem rapaz marca presença, contrariando a ideia de que o Yoga é só para mulheres (facto curioso: foi um homem que começou a prática do Yoga).

“Namastê”, diz-nos a professora com as mãos juntas em frente ao peito. Representa um cumprimento, uma saudação (na língua sânscrita, uma língua ancestral da Índia), sendo também um sinal de entrega e respeito.

A aula é de Yoga Lu Jong, um yoga terapêutico ligado à medicina tibetana e direcionado especialmente para a nossa coluna. É uma prática restauradora das articulações e que consiste, sobretudo, em exercícios lentos e alongamentos. E diz a professora Fátima Passos que está provado que “os alongamentos são o segredo da longevidade”.

ÁUDIO | Fátima Passos, professora de Yoga, explica o que é a prática Lu Jong

Praticante de Yoga há cerca de 20 anos, Fátima Passos começou nesta prática para procurar uma forma de se reerguer de uma depressão, contrariando o “caminho mais fácil da medicação”.

Fez dessa situação a sua força e começou a tirar formações na área, apercebendo-se de que poderia também ajudar outros a superar os seus problemas com a sua experiência (de dois em dois anos, viaja até à Alemanha para obter a certificação internacional com o monge Tulku Lobsang, responsável pela partilha do Yoga Lu Jong no ocidente).

Hoje, dá aulas um pouco por toda a região (Abrantes, Entroncamento, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha), mas a mensagem que passa é a mesma para todos: “Aqui trabalhamos o bem-estar. E é importante que todos sintam que podem vir, porque são exercícios que são praticados por toda a gente”.

Fátima Passos, 61 anos, é professora de Yoga e com a sua experiência ajuda os outros a alcançar o bem-estar físico e mental. Imagem: mediotejo.net

Voltamos à aula. Depois da saudação, começamos por fechar os olhos e concentrarmo-nos na respiração. Enchemos o peito de ar e ao expirar mandamos as tensões fora. Ao mesmo tempo que nos focamos nos exercícios, o objetivo é sentir que estamos só com nós próprios. “Yoga é sentir. Este é o nosso momento, o momento que dizemos que nunca temos para nós”, diz a professora.

Mais uma respiração profunda e abrimos lentamente os olhos. Vamos começar por trabalhar a cervical, onde está localizado o sistema nervoso central. Rodamos o corpo, abrimos o peito e sentimos as omoplatas a unir lá atrás – nunca esquecendo de ir trabalhando o aparelho respiratório com boas respirações.

Passamos ao exercício seguinte, onde “alongar” é a palavra de ordem. Fazemos círculos com os braços e deixamos “fluir como se fôssemos vento”. Minutos depois, vamos rodar a parte de cima do corpo, deixando os braços soltos tocar nos rins para os ativar.

A cada exercício vamos descobrindo e esmiuçando a vertente terapêutica deste Yoga. Há exercícios para cada parte específica do corpo, todos eles tendo por base a coluna, a nossa “bateria”. “Tudo vem da nossa coluna. Alguma dor que tenhamos está relacionado com algum ponto da nossa coluna e nós aqui o que trabalhamos é precisamente isso”, explica-nos Fátima Passos.

ÁUDIO | Ouça quais as patologias que a prática de Yoga ajuda a atenuar

Passamos aos exercícios de equilíbrio, onde o objetivo é “equilibrar o Yin e o Yang” (as duas forças opostas e complementares que se encontram em todas as coisas, como a lua e o sol, a passividade e a atividade). “Vamos meter todo o nosso peso na perna direita, puxar o joelho esquerdo acima, levar a mão direita a cima, mão esquerda a empurrar o chão, estirar a coluna”. Agora, é aguentar assim 10 segundos e tentar não cair.

Depois de mais três respirações profundas, é altura de alinhar o nosso corpo com os cinco elementos do Lu Jong. “Os monges dizem que se fizermos isto todos os dias teremos saúde para o resto da nossa vida”, diz a professora. E não é isso que todos queremos?

O primeiro é o elemento espaço. Por outras palavras, trabalhar “o vazio” do nosso corpo. O exercício consiste em retroversões e anteversões, com a extensão da coluna. As mãos na cintura e a respiração assente na força abdominal acompanham o ritmo de cada um.

Seguimos para o elemento terra, onde o foco são os músculos, tendões e articulações. Através dos músculos laterais e da zona lombar pomos à prova a nossa flexibilidade e estamos a cuidar do nosso nervo ciático. Já no elemento vento, ligamo-nos aos nossos pensamentos, treinando a paciência através da dorsal. Aqui, ficamos também a conhecer o alinhamento do nosso próprio corpo e o nosso máximo.

Terminamos com o elemento fogo, onde exercitamos o nosso aparelho digestivo e a nossa raiva, e com o elemento água, onde desbloqueamos os nossos canais, ativamos os glúteos e trabalhamos a postura. Vamos experimentar? Escutemos a professora: ”Pés juntos, dois braços à frente, esticados. Polegar esquerdo roda para baixo, polegar direito para cima. Mão direita em cima da esquerda. Dedos da mão esquerda agarram as costas da mão direita. Esticar os braços unidos ao cimo. Sem tensão no pescoço. Estica tudo.” Para terminar, abanamos o corpo para relaxar – como se fôssemos uma gelatina, diz a professora.

A aula já vai a mais de metade mas está a chegar um exercício de verdadeiro cardio que nos vai meter à prova: a sequência dos monges. Aqui “dobramo-nos sobre nós próprios” e treinamos a humildade. A professora explica que pormo-nos em primeiro lugar não é visto como um ato de egoísmo mas sim como algo essencial para ajudar os outros.

“Sempre por nós primeiro. Não é ser egoístas. Se não estivermos bem a nível emocional, mental e físico nunca poderemos ajudar ninguém, e se estivermos bem com nós próprios, gostarmos de nós, conseguimos levar a nossa alegria a todos os demais à nossa volta”, diz-nos.

Depois do esforço vem a libertação. É dos momentos mais desejados pelos praticantes, o grito do guerreiro. Com os punhos cerrados e pernas afastadas, ligeiramente fletidas, erguemos os braços e abrimo-los em direção ao chão com um grito valente. Para quê? Para retirar toda a ansiedade e toda a tensão existente em nós. O truque é pensar em algo que queremos tirar do nosso pensamento para seguir em frente e concentrar aí toda a raiva para o expulsar.

A chegar ao fim é tempo de acalmar. Deitamo-nos sobre o colchão, ouvindo os pássaros chilrear pelo parque. Treinamos a respiração de uma nova forma, respirando alternadamente por cada uma das narinas, enquanto uma das mãos pousa sobre a testa (que é um ponto de calma). Sem darmos conta, estamos a acalmar patologias como insónias, asma, depressão, sinusite e até o ressonar.

Estamos leves, relaxados e com os músculos mais alongados do que nunca. Sentados sobre o verde, abraçamo-nos a nós próprios com vontade, em jeito de mostrarmos o quanto gostamos de nós. Terminamos com uma feliz salva de palmas pelo nosso empenho e estamos prontos para enfrentar a semana que aí vem.

Ana Rita Cristóvão

Abrantina com uma costela maçaense, rumou a Lisboa para se formar em Jornalismo. Foi aí que descobriu a rádio e a magia de contar histórias ao ouvido. Acredita que com mais compreensão, abraços e chocolate o mundo seria um lugar mais feliz.

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