Créditos: Lusa

Na sexta-feira passada o Ministério da Educação anunciou a decisão de avançar com “serviços mínimos” nas escolas a partir da próxima quarta-feira, 1 de fevereiro, em resposta às várias greves decretadas por diferentes sindicatos desde dezembro. Por isso, o coordenador do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (STOP), apelou aos mais de 100 mil professores presentes na manifestação de ontem em Lisboa para que intensifiquem a luta nos dois primeiros dias desta semana e “encerrem as escolas de norte a sul do país”.

Para 1 de fevereiro está marcada igualmente para o distrito de Santarém a greve nacional da Fenprof e sete outros sindicatos, e que se tem realizado por regiões, prevendo-se uma grande adesão.

Não será, previsivelmente, uma semana fácil para os trabalhadores com filhos em idade escolar – as faltas devido às greves de professores não são justificadas, o que tem vindo a causar grandes transtornos sobretudo aos pais de crianças mais pequenas.

Iniciado a 9 de dezembro pelo STOP, um sindicato quase desconhecido e com pouco mais de mil associados, este tornou-se no maior protesto de professores nos últimos 20 anos e tem-se destacado sobretudo por mobilizar milhares de profissionais sem ligações sindicais ou partidárias e que, regra geral, não se manifestavam nas ruas ou faziam greve. Cansados, descontentes, desmoralizados, reviram-se no discurso de ruptura do fundador do STOP, André Pestana, que aos 45 anos ainda é professor contratado.

A professora Lucília Nogueira (à direita), em greve à porta da escola onde ensina Português, em Mação. Foto: mediotejo.net

Foi o caso de Lucília Nogueira, Professora de Português no Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação. Exerce há 28 anos e, desiludida com os sindicatos que representam a classe, deixou de estar sindicalizada há 15 anos. Em 2022 juntou-se ao STOP e pertence à comissão de greve do seu agrupamento, apoiando a organização de manifestações junto das escolas, desde dezembro. Juntou-se à manifestação nacional de professores em Lisboa, a 14 e a 28 de janeiro, juntamente com outros professores de Abrantes e do Entroncamento.

“Voltei a acreditar no poder da greve”

Entrevista de Joana Rita Santos

Acredita no poder e importância dos sindicatos?
O movimento atual é a prova de que são essenciais. São eles que representam os interesses dos trabalhadores junto dos governantes. Todavia parece-me que têm de alterar a forma como interagem connosco dado que têm de nos representar, sem simpatias partidárias, e ouvir a nossa voz.

Quando se sindicalizou pela primeira vez e em que sindicato?
Sindicalizei-me logo no meu primeiro ano de trabalho, em 1995, na Fenprof (1º no SPZS, dado que, sendo de Fafe, fui colocada em Ferreira do Alentejo; 2º SPN, colocada em escolas do Minho e 3º SPGL quando passei a viver no Centro).

Desvinculou-se dos sindicatos anteriores? Porquê?
Desvinculei-me dos sindicatos em 2008, quando me senti traída. Depois de várias greves e uma manifestação com mais de 100 mil professores, assinaram sucessivos acordos com o Ministério da Educação. Desde aí, para os professores de QA apenas conseguiram a recuperação parcial de tempo de serviço.

Associou-se recentemente ao novo sindicato STOP, porquê?
Associei-me a este novo sindicato porque tem uma voz dissonante, o que me chamou a atenção. Voltei a acreditar no poder da greve, na luta pelos nossos direitos, no dever de nos manifestarmos e, por isso, considerei necessário sindicalizar-me para poderem representar a minha voz. O ponto que me move mais é o direito à recuperação do tempo de serviço, todavia preocupam-me todas as outras reivindicações que põem em causa o futuro da escola pública.

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Patrícia Fonseca

Sou diretora do jornal mediotejo.net e da revista Ponto, e diretora editorial da Médio Tejo Edições / Origami Livros. Sou jornalista profissional desde 1995 e tenho a felicidade de ter corrido mundo a fazer o que mais gosto, testemunhando momentos cruciais da história mundial. Fui grande-repórter da revista Visão e algumas da reportagens que escrevi foram premiadas a nível nacional e internacional. Mas a maior recompensa desta profissão será sempre a promessa contida em cada texto: a possibilidade de questionar, inquietar, surpreender, emocionar e, quem sabe, fazer a diferença. Cresci no Tramagal, terra onde aprendi as primeiras letras e os valores da fraternidade e da liberdade. Mantenho-me apaixonada pelo processo de descoberta, investigação e escrita de uma boa história. Gosto de plantar árvores e flores, sou mãe a dobrar e escrevi quatro livros.

Joana Rita Santos

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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