Aos 12 anos, David Anagnoste, natural da Roménia mas a viver em Ourém, é o único bailarino português do seu escalão a conseguir selecionar-se para a final, em abril, do Youth America Grand Prix, uma das maiores competições de dança do mundo. O aluno da Arabesque – Academia de Dança, que mantém um programa de ensino articulado com a Escola Básica e Secundária de Ourém, tem-se destacado como bailarino nos últimos anos, subindo a vários pódios internacionais, fruto do esforço e dedicação que coloca na arte. De Tampa, nos Estados Unidos da América, acredita poder trazer mais um prémio para o palmarés da Arabesque.
Já não é a primeira vez que a Academia de Dança Arabesque se destaca em competições internacionais e os seus alunos alcançam posições de pódio. Desta vez é o momento do jovem David Anagnoste, que em dezembro, nas semifinais do Youth America Grand Prix, em Riccione (Itália), conseguiu sobressair inserido no grupo feminino, uma vez que não havia rapazes em número suficiente para dividir a prova por sexos. David ficou em segundo lugar no solo clássico, entre 82 participantes do seu escalão.
De regresso a Ourém sucedem-se as entrevistas e David prepara-se para a grande final em Tampa. As competições e os prémios são importantes para criar não só currículo como oportunidades de aprender com os melhores do mundo, evoluindo assim numa área que tem tanto de artístico como de esforço físico e disciplina. David, como reconhecem os professores, é também uma inspiração para os mais jovens, em particular os rapazes, que tendem a ter menos figuras de referência no bailado.
David começou no ballet aos quatro anos, impulsionado pela mãe. As danças de salão não o atraíram, mas ficou fascinado com uma aula aberta na Arabesque. Ao mediotejo.net, o jovem não sabe explicar porque razão o bailado o cativou mais do que as danças de salão, mas admite uma certa perceção de que este formato de dança seria um desafio que valia a pena empreender.

Um rapaz entre muitas meninas, recorda que ainda no primeiro ciclo chegou a ser gozado por miúdos de outras turmas. “Mas os meus colegas apoiaram-me”, apressa-se a lembrar, frisando que a situação pontual ficou rapidamente resolvida em ambiente escolar. O ballet, constata, “é um trabalho duro e intensivo”, complementado com aulas de preparação física e fisioterapia. Para evoluir como bailarino “há muito trabalho por trás”, nem sempre perceptível a quem desconhece as exigências físicas da dança.
Desde 2019, tem subido aos pódios de várias competições internacionais, mas admite que o segundo lugar nas semifinais do Youth America Grand Prix foi “impactante”. Em abril “vai ser duro, vai ser difícil”, desabafa. “Mas se tiver que ficar exausto, vou ficar exausto. A competição está num nível muito alto.”

O ensino articulado com a Escola Básica e Secundária de Ourém permite ao jovem bailarino uma dedicação à dança que, doutra forma, seria difícil de conciliar. Depois de uma manhã de aulas, as tardes são passadas nas salas e nos estúdios da Arabesque, onde tem outras disciplinas.
O futuro é ainda incerto para esta jovem promessa do mundo da dança, mas já tem sonhos. “Por enquanto, gostava de seguir dança”, diz, e um dia integrar uma companhia de bailado que lhe permitisse viver da arte. “Se não correr bem, gostaria de tentar ser ator”, admite, frisando a sua preferência pela área artística. “O percurso é difícil” para chegar ao patamar de ser aceite por uma companhia de bailado, “mas quando consegues, só fazes dança”, o que de momento está entre os seus projetos de futuro.
Sendo um apreciador tanto de dança clássica como de contemporânea, reflete porém que com as coreografias clássicas sente-se capaz de “passar uma mensagem”. Não consegue explicar exatamente o quê. “Eu gosto daquilo e quero mostrar o quanto gosto daquilo”, mostrando assim o seu envolvimento profundo com a performance que está a executar.
Aos rapazes que gostam de bailado mas podem-se sentir inibidos por uma área que tende a atrair mais as raparigas, David aconselha-os a não terem medo. “A dança não é só para raparigas. Os rapazes que querem dançar devem fazê-lo. Fazem falta.”
Arabesque aposta numa competição de dança em Ourém
A presença de David Anagnoste nesta edição do Youth America Grand Prix é importante para a Arabesque porque cria referências para os outros alunos e dignifica a própria escola, reflete ao mediotejo.net a responsável, Yolexis Santana. “Nos EUA vão-se juntar aqueles alunos que mais se destacaram” a nível mundial, frisa, salientando assim a importância da competição. Não é, por isso, propriamente importante obter um primeiro lugar, a participação em si já é um sinal de que se entrou num circulo de elite.
“O David é um aluno que tem talento, certamente, mas tem muita dedicação. É um aluno muito focado”, salienta a professora, “ele vai conquistando as coisas com muito, muito trabalho. Porque não é fácil”. Além, salienta ainda a professora, “a interpretação dele em palco não é só técnica, é a forma de dançar, a parte artística” do jovem que também se destaca na atuação, explica, e que o tem feito sobressair nas competições.
Com mais de uma década de presença no concelho de Ourém, a Arabesque adquiriu há três anos a certificação do Ministério da Educação para o regime articulado. “Permite-nos ajudar a formar alunos como o David que querem e gostam de dança, o regime articulado é muito importante para conciliar a escola e a dança”, explica, permitindo que a escola funcione todo o dia e não apenas em horários fora do período letivo.
A pandemia diminuiu a adesão de novos alunos, mas a situação tem invertido no último ano. “Sentimos que as pessoas querem voltar”.
A Arabesque ainda funciona em regime livre e quem quiser entrar pode vir experimentar uma aula. No ensino articulado é necessário passar por uma prova de aptidão artística para poder beneficiar da modalidade. A partir dos três anos já é possível fazer uma inscrição.
Yolexis Santana adianta ainda ao mediotejo.net que este ano, de 28 a 31 de julho, a Arabesque vai realizar no Teatro Municipal de Ourém o seu primeiro Encontro Internacional de Dança – Adágio. Este evento pretende ser um encontro de escolas de dança nacionais e internacionais, com concurso de dança, masterclasses e mostras de dança. “Penso que será uma boa referência para saberem o que passa no mundo da dança”.