(Foto ilustrativa. DR)

Das festas da aldeia aos arraiais de verão, dos pequenos concertos até aos grandes festivais, entre tantos outros espetáculos, é o artista que sobe a palco mas nada se concretiza sem o trabalho de bastidores, feito, em grande parte, pelos técnicos de eventos. Parados por força da pandemia, sem trabalho e sem perspetivas de futuro, exigem medidas urgentes do Governo para o setor.

Passam despercebidos aos olhos do público, mas sem eles o espetáculo não acontecia. São os primeiros a chegar e os últimos a ir embora, essenciais para que na hora “h” nada falhe. Falamos dos técnicos que fazem o soundcheck, que fazem magia de cores na iluminação, que montam o palco e tratam de toda a logística do chamado backstage.

Há praticamente seis meses parados, longe vão os tempos em que atravessavam o país de noite e dia com os camiões cheios de equipamentos de som e luz. Sentem-se deixados para segundo plano e sem qualquer luz que os guie para sobreviver àqueles que têm sido tempos difíceis.

É o caso da empresa Cor do Som, Produção de Espetáculos, Unip., Lda., especializada em serviços de som e iluminação e sediada em Arreciadas, São Miguel do Rio Torto, no concelho de Abrantes, que trabalha para todo o país.

Em atividade desde 2003, hoje os trabalhadores estão “completamente parados” desde “o primeiro dia em que alguém falou em Covid-19”, em meados de março.

“É um pontapé que eu levo de cada vez que chego ao armazém e olho para o equipamento todo parado”, conta ao mediotejo.net Ricardo Casimiro, o responsável pela empresa.

Confessa que os profissionais se sentem esquecidos e prejudicados.

“Nós é que fazemos os investimentos, é que temos os empregados, é que temos as despesas. Os artistas chegam, fazem muito bem o seu trabalho, mas sem nós o espetáculo não vai acontecer, de certeza. Acho que houve uma desvalorização completa da nossa função, foi completamente posta de parte. Porque, na realidade, o Estado nunca nos ajudou em nada, zero”, confessa, em declarações ao mediotejo.net.

A situação não é muito diferente na área do agenciamento de espetáculos.

O dia 12 de março de 2020 é uma data que ficou marcada na memória de Nuno Madeiras, diretor-geral da Zona B Events, uma empresa de agenciamento sediada também no concelho de Abrantes. Foi o dia do último espetáculo antes da pandemia.

“Estamos parados, já fizemos algumas coisas mas não muito, e estamos a reagendar os espetáculos para o ano que vem, quase todos”, revela ao mediotejo.net.

O responsável conta-nos que houve capacidade para manter os três trabalhadores, não tendo a empresa requerido o lay-off.

No entanto, a força para seguir em frente não é 100% “como era nos outros anos”. Apesar de outubro se avizinhar um mês promissor, com alguns espetáculos já agendados, Nuno Madeiras salienta a importância que teria um maior apoio por parte do Estado.

“Temos tido algum apoio mas devíamos ter mais. Não temos sido totalmente esquecidos, mas deviam ter-se lembrado mais de nós”, afirma.

É precisamente o sentimento de esquecimento que motivou a criação este ano da Associação Portuguesa de Serviços para Eventos (APSTE), que une já quase duas dezenas de empresas e que realizou na terça-feira uma ação de sensibilização no Terreiro do Paço, em Lisboa, com o propósito de alertar o Governo para a falta de apoio no setor.

Num manifesto, a APSTE defende serem necessárias medidas concretas e urgentes, como a criação de fundos de apoio ao setor, “para que a indústria dos eventos e dos espetáculos sobreviva neste tão especial contexto”. Uma indústria que, note-se, representou no nosso país uma faturação de mais de 100 milhões de euros o ano passado e que em 2020 vive um ano negro.

Um cenário que não foge à regra no caso da Cor do Som, uma das empresas que é já associada da APSTE e que hoje está “sem qualquer tipo de rendimento” e que aponta a faturação deste ano como “negativíssima”, à semelhança das perspetivas para o futuro.

Atualmente, a Cor do Som mantém os três empregados que tinha antes da pandemia. Ricardo Casimiro explica que a empresa requereu o apoio de lay-off, mas que este “é todos os meses tirado a ferros, tem se andar a pedir por amor de Deus para nos entregarem o dinheiro”.

“Tínhamos os mesmos [trabalhadores] que temos neste momento. Somos três empregados. Por decisão minha, ninguém foi despedido e é isto que os nossos governantes não conseguem compreender: nós para não prejudicarmos os empregados estamo-nos a prejudicar a nós. Achamos que todos os empregados merecem a nossa consideração porque nos ajudaram muito nos outros anos e neste momento somos nós que estamos a ficar prejudicados”, desabafa.

No caso dos serviços para eventos, não há uma data definida para o regresso ao trabalho, o que torna mais preocupante a situação de famílias que, diz Ricardo, “só podem estar a passar mal, não há maneira de estarem bem”.

A Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE) organizou um protesto, no Terreiro do Paço, em Lisboa, para sensibilizar o Governo para a necessidade de medidas urgentes para o setor. Foto: Vitor Paiva

O desejo dos trabalhadores é apenas um: “Trabalhar. Se nos deixarem trabalhar, nós conseguimos ter dinheiro, conseguimos avançar. Mas não nos deixam.”.

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