Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

Na aula estava uma vintena de alunos trajados a rigor com capas templárias, sentados nas cadeiras e debruçados sobre as suas secretárias, onde desenhavam e pintavam um monumento de Tomar. Foi este o cenário com que o nosso jornal se deparou quando entrou na sala, no decorrer de uma aula da recente disciplina de “História de Tomar e Tradições Culturais”.

VIDEO/AULA DE HISTÓRIA E TRADIÇÕES DE TOMAR:

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No decorrer da mesma, houve ainda lugar para uma apresentação histórica – onde todos os jovens aprendizes participaram a dizer algumas palavras – e para o reavivar da lenda do surgimento do nome “Tomar”, contada através das palavras de um dos alunos.

Mas muitos outros conteúdos são lecionados nesta disciplina que retirou uma hora semanal à matemática, (sem causar prejuízo à aprendizagem desta disciplina pelos alunos): desde a exploração dos vários povos que passaram por Tomar – como os romanos, os visigodos ou os árabes – ao estudo da reconquista, as batalhas travadas, as personagens históricas que viveram ou passaram por Tomar, o estudo do relevo (e o exemplo do porquê de o Castelo se situar naquele local) até à lenda de Santa Iria ou à Festa dos Tabuleiros e a sua história e tradição.

Muitos são os conteúdos relacionados com a história e as tradições do concelho de Tomar, prontos a serem descobertos pelos jovens estudantes.

Iniciada em 2020, a disciplina conta desde este ano letivo (2022/2023) com um manual próprio, o qual foi escrito pelo professor Carlos Trincão e ilustrado por Joana Trincão Aaltonen. A impressão do livro, que visa permitir um melhor desenvolvimento da disciplina, foi feita pela Câmara Municipal de Tomar a qual ofereceu o manual a todos os alunos do terceiro e quarto ano de ensino, tendo sido publicados dois mil exemplares, na fase inicial.

“É uma disciplina que tenta dar aos nossos alunos um conhecimento da história local, e partindo do local depois para a história de Portugal, tentando perceber primeiro aquilo que têm à sua volta e na sua comunidade”, explica Margarida Cotovio, adjunta do diretor do Agrupamento de Escolas Templários para o primeiro ciclo.

Com este disciplina “pretendemos dar aos nossos alunos, sobretudo, um conhecimento da história da sua terra, do local onde vivem, percebendo assim o passado, o presente, e não diria o futuro, mas talvez percebendo um pouquinho daquilo que pode acontecer daqui para a frente”, disse ainda Margarida Cotovio, acrescentando que no âmbito da disciplina são igualmente feitas visitas à cidade.

“E como podem ver, eles têm sempre um gosto particular porque de facto quando ensinamos aquilo que nós vimos e temos a oportunidade de conhecer mais de perto, somos mais eficazes na aprendizagem”, considera a representante da direção do Agrupamento, a qual considera que esta é uma iniciativa de sucesso, perceção corroborada pelos encarregados de educação na monitorização feita junto destes no final do ano passado.

Manual da disciplina, escrito por Carlos Trincão e ilustrado por Joana Trincão Aaltonen. Foto: Rafael Ascensão/mediotejo.net

“É também uma forma de os preparar para a história de Portugal que depois a partir do quinto ano terão nos seus currículos. Para já eles vão ainda percebendo e às vezes de uma forma mais lúdica, com mais brincadeira, e também com oportunidade de fazerem outras atividades que não são tão usuais nas outras disciplinas. A própria disciplina também é um pouco transversal, porque podemos trabalhar não só o português, como a matemática, a história – como é lógico – e vamos tentando que ela seja transversal a todo o currículo e que eles tenham sempre um ganho nessa área”, explicou Margarida Cotovio.

Essa correlação com outras disciplinas é outro ponto favorável, no entender de Margarida Cotovio: “as outras disciplinas ajudam e interagem com esta, por exemplo com os séculos podemos dar a numeração romana (matemática), podemos trabalhar os anos e fazer as contas para perceber há quanto tempo determinado acontecimento ocorreu, ou podemos como agora estão a fazer, trabalhar a área da expressão artística e ao mesmo tempo a língua portuguesa porque têm um texto que estão a explorar e a tentar compreender aquilo que lhes é dito”, explicou.

Para Telma Cunha, professora desta turma do terceiro ano, são várias as mais valias ao trabalhar esta disciplina, a qual engloba as várias vertentes, desde o português ao estudo do meio, ou matemática.

“Também conseguem ver o passado e presente da nossa história e conseguem identificar-se com o património histórico que nós temos – Tomar tem bastante património – e conseguem identificar e associar à época, situar-se no tempo, em função dos registos históricos que encontram pela cidade, e não só a história da cidade como a história de Portugal, porque a história de Tomar está muito relacionada também com a história de Portugal e eles conseguem identificar na linha do tempo esses factos. E portanto eles crescem como futuros cidadãos e com as suas referências e elementos que os identificam e que os associam a esta cidade”, considera a docente.

Não sendo as tradições tomarenses descuradas nesta disciplina, a Festa dos Tabuleiros é tema incontornável que ganha ainda outro relevo este ano, precisamente por se celebrar esta festividade (a qual é assinalada apenas de quatro em quatro anos):

“Falamos anualmente sempre que é um dos marcos, mas realmente no ano da festa costumamos fazer até alguns projetos de escola em que abordamos todas as vertentes da festa dos tabuleiros, também tem a ver com uma tradição de Tomar. Nós costumamos fazer projetos em que convidamos à escola o Mordomo da Festa, o cesteiro, a latoeira, artesãos que vêm fazer flores ou até mesmo as costureiras que vêm fazer os fatos, todos os elementos que são associados à Festa dos Tabuleiros, nós tentamos trazê-los um bocadinho para os alunos para eles perceberem como é que a festa se desenvolve, e até mesmo antes da festa como é que ela se prepara, todos os elementos que constituem a festa, e depois tentamos que eles se apercebam da importância de cada elemento no todo”, explicou a professora Telma Cunha ao mediotejo.net.

Ouvidos pelo nosso jornal, também todos os pequenos alunos disseram gostar desta nova disciplina, a qual lhes permite, porque “é divertido e estamos sempre a descobrir mais coisas [sobre Tomar]”, conforme disse a Clara, opinião corroborada pelas colegas Madalena e Diana, que dizem estar sempre a aprender coisas novas sobre a cidade e o concelho onde vivem, algo de que gostam “muito”.

Lecionada aos terceiros e quartos anos de escolaridade das escolas tomarenses, prevê-se o alargamento da disciplina aos quintos e sextos anos.

Integrada no Plano de Inovação 2022-2025 do Agrupamento de Escolas Templários, a disciplina “História de Tomar e Tradições Culturais”, tem como objetivos definidos “promover a construção de laços de pertença e de identidade dos indivíduos com a sua comunidade”, “conhecer de forma mais próxima os monumentos e as tradições da cidade e do concelho”, “consolidar memórias da cultura prática”, “estabelecer relações entre o passado, o presente e o futuro” e “motivar e contextualizar o ensino da história local”.

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Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Jornalismo. Natural de Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, mas com raízes e ligações beirãs, adora a escrita e o jornalismo.

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1 Comentário

  1. Excelente inicitiva. Aumentar a literacia também significa estudar a Cultura local. Belo exemplo. Parabéns para toda a Equipa docente, autárquica e para os Estudantes e suas familias. Muito bom. Mesmo!

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