Ovos mexidos de mioleira de cabrito. Foto: Diana Vaz

Entende-se por mioleira, em termos alimentares, os cérebros de animais de açougue após cozinhados. As mioleiras mais finas são as de borrego e carneiro, as mioleiras mais utilizadas são (eram as de vaca e vitela) que, sendo mais duras, custavam, e custam menos.

Escrevo (eram) porque a doença das vacas loucas ocorrida há anos levou a um enorme retrocesso no seu consumo. Até ali as mioleiras faziam parte da dieta dos bébés por causa da sua riqueza em proteínas e vitaminas, mas especialmente por conterem fósforo, daí o seu emprego na alimentação das crianças.

Em termos culinários utilizam-se como guarnições de inúmeros pratos de carne além de proporcionarem patés suaves e apelativos.

Sendo apreciador de mioleiras, a doença das vacas loucas, para lá do anedotário suscitado, passaram a rarear na mesa doméstica e, mesmo nos restaurantes, não se encontram com facilidade.

Muito boa gente recorda-se do pânico instalado na população portuguesa relativamente às mioleiras que ainda persiste, mais a mais em tempos de pandemia. Mas que uma boa mioleira de cabrito ou carneiro com ovos mexidos e uma salada de acelgas e/ou beldroegas aspergida por bom vinagre continua a provocar-me saudades lá isso continua.

Armando Fernandes

Armando Fernandes é um gastrónomo dedicado, estudioso das raízes culturais do que chega à nossa mesa. Já publicou vários livros sobre o tema e o seu "À Mesa em Mação", editado em 2014, ganhou o Prémio Internacional de Literatura Gastronómica ("Prix de la Littérature Gastronomique"), atribuído em Paris.
Escreve no mediotejo.net aos domingos

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *