A bailarina e professora Maria João Rodrigues, com Raushummann enquanto nome artístico, está a assinalar 50 anos de carreira ao serviço da Dança em Portugal. Com raízes em Mação, terra dos seus avós e do seu pai, e onde agora reside, inicia este sábado, 20 de maio, as comemorações deste percurso profissional, com a exibição de um filme dos seus espetáculos, num evento evocativo e retrospetivo, aberto ao público e com entrada gratuita. Estão já previstos três eventos públicos até final do ano, um deles integrado na Feira Mostra de Mação, este verão.
Os bilhetes são gratuitos podendo ser levantados na Câmara Municipal de Mação durante a semana e, sábado, a partir das 15h00, na bilheteira do Cine-Teatro.
Maria João Rodrigues, conhecida no mundo do espetáculo como Maria João Raushummann, lançou as mãos ao desafio de ser professora na Universidade Sénior de Mação este ano, estreando uma nova disciplina nesta área que tanto lhe diz: Introdução às Artes do Espetáculo. Aqui aliou a dança, ao teatro e à música.
Do seu percurso enquanto bailarina profissional, com meio século de carreira a ser comemorado em 2023, constam outras atividades no currículo enquanto coreógrafa, figurinista, produtora de espetáculos, colaboradora da RTP1 e da RTP2, professora de dança e empresária.

Maria João Rodrigues tem 64 anos, dos quais 50 são dedicados à dança. Com o sobrenome artístico Raushummann pisou palcos de diversa ordem, dançou para praticamente todos os Presidentes da República à exceção de Marcelo Rebelo de Sousa, mas, divertida e determinada, não descarta que ainda vá a tempo de o fazer. Até porque continua a dançar até hoje.
Começou a aprender a dançar em 1962. Ingressa no Conservatório Nacional de onde sai diplomada em 1973 com o Curso de Dança e Bailarinos. Entra na Escola de Dança da Fundação Calouste Gulbenkian.
“Em 1978 fiz a primeira abordagem à coreografia. Criei um solo de Bailado Clássico, dançado em sapatilhas de ponta, com a música do concerto nº1 de Tchaikovski. O local que escolhi para o estrear foi, contra tudo e contra todos, as Festas de Santa Maria de Mação”, contou, referindo que Mação “viu pela primeira vez Bailado Clássico pelo meu pé e pela minha mão”.
Enquanto coreógrafa, conta mais de duzentos bailados “testados, produzidos, realizados e vistos pelo público português e estrangeiro”.
Além de bailarina e coreógrafa, acumulou ao longo da vida as funções de figurinista, com desenho de guarda-roupa, adereços, maquilhagem, penteados e palcos.
“Em 1981 abri o meu primeiro Estúdio de Dança, em Lisboa, e nessa altura dei início, também, àquele que viria a ser um modo de vida durante 35 anos. Tornei-me professora de Dança”, deu a conhecer, referindo que ao mesmo tempo frequentou o curso de Línguas e Literaturas Modernas, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Chegou, por convite, a dar cursos de Português a estrangeiros durante o
verão.
Entrou no mundo empresarial em 1988, quando fundou a sua primeira Escola de Ballet, em parceria com
Fernando Schaller. Chegou a ter cinco secções abertas em Lisboa, Póvoa de Santa Iria, Amadora e Alfragide.

“Aliás, devo dizer que a ideia foi dele. Ao Fernando cabiam,essencialmente, a contabilidade, informática, área administrativa e contacto com fornecedores e pais de alunos; já eu acumulei as funções de diretora pedagógica, professora da Escola, conceção e produção de espetáculos, direção artística e negociação com as entidades que nos encomendavam espetáculos”, enumerou.
A Escola por si fundada esteve aberta durante 24 anos, tendo sido reconhecida como uma das maiores escolas privadas de dança do país.
Maria João Rodrigues protagonizou ainda alguns momentos importates em prol do reconhecimento da Dança e dos bailarinos profissionais em Portugal, tendo sido chamada em 1994 à Assembleia da República “para debater o Projeto-Lei sobre a Reforma dos Bailarinos em Portugal, juntamente com a Fundação Calouste Gulbenkian, Companhia Nacional de Bailado, Conservatório Nacional, a Professora Anna Mascolo e a Coreógrafa Olga Roriz”. Em 1995 voltou à Assembleia da República para debater a situação da Dança em Portugal.
Entre a organização de estágios de Dança internacionais, frequentou ainda diversos cursos na área das Artes do Espetáculo, mas sempre com a dança no horizonte. Desde o curso de Expressão Dramática e Afro-Cubano com Eva Winkler, na Fundação Calouste Gulbenkian, a um Estágio Internacional de Dança,
dirigido pelo Mestre Gelu Barbu, com a colaboração de Galina Radomskaia, da Academia Vaganova, de São Petersburgo, na Rússia.
Corria o ano de 1996 quando se dedicou ao lançamento de um novo projeto: o Maria João Raushummann – Projecto de Dança (MJR-P.D.). “Era um grupo constituído por 12 bailarinas, vindas das fileiras das Escola de Ballet e dois bailarinos profissionais, que eram ex-Ballet Bolshoi, na Rússia
“Esperei 30 anos para dançar com um Bailarino do Theatre-Ballet Bolshoi e um deles foi meu partenaire durante 15 anos! Valeu a pena esperar!”, notou, de forma efusiva, recordando o seu percurso e os momentos felizes e de conquista que o marcaram.
“Também tive o privilégio de trabalhar, durante 4 anos, com a Professora Pavlovsky, da Roménia e relembro, particularmente, com saudade a Mestra Professora Irina Stoupina, da Rússia, com quem tive a distinção de trabalhar durante 10 anos. Ela era Medalha Diaghilev, que é a mais Alta Condecoração atribuída pelo Estado Russo a um artista”.

Com o grupo Maria João Raushummann – Projecto de Dança dedicou-se a produzir espetáculos profissionais de Dança, dirigidos para grandes eventos com entidades oficiais, em hotéis 5 Estrelas, banquetes, congressos, Agências de Viagem, Teatros e Televisão.
“Os bailados do grupo MJR – Projeto de Dança divulgavam as caraterísticas de Portugal e do Povo Português, nos seus aspetos mais nobres: a época áurea dos Descobrimentos, a Poesia, o som único da Guitarra Portuguesa, o destino sofrido do Fado e as fortíssimas ligações do Povo ao Mar e à Terra”, recordou.
Em 2009 deu por encerrada a sua carreira como Bailarina profissional, tinha 50 anos de idade. Afirma que “com a mesma convicção com que entrei, saí de cena”.
Em 2012, com o falecimento do parceiro e companheiro encerrou também todos os projetos, desde a Escola de Ballet ao Projecto de Dança. Foi a partir daqui que Mação começou a estar nos planos.
Este ano, completa 50 anos “ao serviço da Dança em Portugal”. E diz que não podia ter escolhido melhor forma de os celebrar, começando com este primeiro passo, da disciplina de Introdução às Artes do Espetáculo para os seniores de Mação, que se encontra a desenvolver na Universidade Sénior local.

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