Cinco bailarinos, dois ceramistas e uma tonelada de barro protagonizam o novo espetáculo de dança contemporâneo da companhia Corpo, de Leiria, que estreia sexta-feira em Alcanena, uma produção inspirada no Maciço Calcário Estremenho.
É no “chão comum” que esteve na base da candidatura – sem êxito – de Leiria e outros 25 municípios a Capital Europeia da Cultura 2027 que estão os alicerces de “Maciço”, um “objeto artístico tripartido”, como lhe chama a diretora artística do projeto, porque conjuga espetáculo, videodança e documentário.
“Houve uma sessão de apresentação da ideia por detrás da candidatura [de Leiria] a Capital Europeia Cultura em que ouvi o [coordenador] Paulo Lameiro falar no maciço cársico”, recordou Marina Oliveira à Lusa.
A partir daí, achou que seria “interessante juntar um mundo aparentemente antagónico – o de uma pedra gigante que, aparentemente, não tem qualquer tipo de movimento – e a dança”, explicou.
Essa “ideia muito poética” levou a “um bom desafio”: combinar num espetáculo a aparente antinomia entre a rudeza do calcário e a sensibilidade da dança, explorando o contraste entre a dureza da rocha e a plasticidade do barro.
Nos últimos meses, a companhia tem desenvolvido residências em pedreiras na serra, espaços naturais ou em Alcaria, no concelho de Porto de Mós (distrito de Leiria), no ateliê dos ceramistas Ana Lousada e Carlos Neto, que também integram o elenco do espetáculo.
“Eu conhecia o Carlos e a Ana, e sempre fiquei curiosa como podia funcionar cruzar cerâmica, dança, barro, escultura… E convidei-os para virem integrar esta aventura connosco”. À equipa juntou-se também Rafael Almeida, cineasta de Figueiró dos Vinhos.
Em “Maciço – Estórias em corpo vivo esculpidas por gentes”, uma das ideias que venceu o programa de apoio municipal de Leiria Rede Cultura 2027, a companhia revela uma criação “muito terrena” – “o material é muito pesado e quase nos empurra para a terra” -, com situações de “muita força física” e “momentos de vulnerabilidade e fragilidade”.
Nas entrelinhas desta dualidade força-fragilidade evoca-se também o regresso à natureza. “Se calhar ainda não sabemos como chegar lá, mas acho que temos essa vontade de nos conectar com a nossa natureza biológica”.
Em palco estará também a tal tonelada de barro vermelho, que se assume como uma das centralidades do espetáculo: o barro pinta corpos, figurinos e espaço, surgindo como matéria de manipulação numa “interação muito interessante”, que foge ao figurativo.
“É tudo um bocadinho abstrato, não se vão ver em palco formas muito específicas. Queremos deixar a leitura em aberto”, sublinha.
Neste novo espetáculo, Corpo, que faz parte da Associação de Dança de Leiria, cumpre a missão expressa de inclusão: o elenco integra um bailarino com deficiência cognitiva, uma bailarina na casa dos 40 anos e os dois ceramistas, “que não têm proficiência física que se exige a bailarinos profissionais”.
“A nossa companhia é inclusiva e isso é transversal a todos os trabalhos que fazemos. Inclusão não é só uma questão de deficiência, é também trabalhar com corpos não normativos. É inclusão no sentido lato”, esclarece Marina Oliveira, que assume a direção de cena.

A coreografia é de Rute Vitorino, que também dança, juntamente com Beatriz Pereira, Clara Marchana, Júlio Benfica, Patrícia Roda, além dos ceramistas Ana Lousada e Carlos Neto.
A estreia de “Maciço” está marcada para o Cine-Teatro de São Pedro, em Alcanena, sexta-feira, às 21:30. A segunda apresentação será no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, no dia 06 de maio.