Uma mala de alumínio. Lá dentro, uma diversidade de objetos que têm como principal objetivo prevenir comportamentos de risco junto dos mais jovens e não só. Quem a transporta é Luís Patrício, médico psiquiatra.
A Mala da Prevenção, uma ideia do médico psiquiatra Luís Patrício, esteve em Mação para três sessões onde abordou temas como o consumo, consumismos, prazeres, mentiras e comportamentos de risco: uma primeira sessão no auditório do Centro Cultural Elvino Pereira, na sexta-feira, dia 29, e duas sessões com alunos da Escola Secundária de Mação, na manhã desta segunda-feira, dia 1.
Numa conversa informal, descontraída e sem tabus, o médico, que é natural de Mação, esteve com os alunos da Escola Secundária de Mação para falar sobre “Consumos e comportamentos de risco para a saúde individual, familiar e social”.
“Porque a educação para a saúde e bem-estar faz bem. Porque a educação cívica e a pedagogia fazem falta”, podia ler-se no primeiro slide de apresentação do médico.
Perante um auditório repleto de alunos, Luís Patrício começou por cumprimentar com um aperto de mão alguns alunos, pedindo-lhes que o olhassem nos olhos porque “se temos o olhar baixo é sinal de que estamos a fazer alguma coisa de errado”.
Em cima da mesa, a sua Mala da Prevenção aberta. De lá de dentro saíram alguns livros que Luís Patrício pediu a alunos para lerem excertos em espanhol e francês onde se falava de uma sociedade que nos propõe muitos gastos, dos agarrados da internet e de comportamentos com o álcool entre os mais jovens.
E para que serve a Mala da Prevenção? Serve para a prevenir o “mau uso e do abuso do uso de substâncias psicoativas e de atitudes/comportamentos de risco”, podia ler-se no placard que se encontrava na sala.

Associada à Mala da Prevenção, existem mais de 20 cartas/cartolinas com mensagens sobre o consumo de álcool, que foram entregues aos alunos, com um conjunto de perguntas e respostas que “desmitificam” algumas ideias que se tem, como por exemplo: “O álcool aquece?”. “Não!”, respondem as cartas de Luís Patrício, “o álcool arrefece o corpo e aumenta a sede”, salienta o médico perante a plateia de alunos.
Os medos, as relações com os pais, os malefícios do uso das drogas no sistema nervoso central, a importância de aprender a pensar, o mau uso e abuso do dinheiro e de substâncias lícitas (álcool e tabaco) e ilícitas (drogas) foram outros temas abordados durante o encontro.
Na Mala da Prevenção ficaram muitos objetos por mostrar: testes de alcoolémia, imitações de drogas legais e ilegais, preservativos, seringas ou os tampões para os ouvidos que Luís Patrício usa para mostrar que, por vezes, temos de nos abstrair de alguns sons ou conversas. Um mundo de objetos que convergem todos num tema: a prevenção de comportamentos de risco.
Objetos do dia-a-dia que fazem pensar
O mediotejo.net quis saber como é que surgiu a Mala da Prevenção ao que Luís Patrício respondeu com um “é uma história muito longa…”. Mas explicou que “nos anos 80 comecei a juntar os materiais de prevenção que ia recolhendo por este mundo fora. E ia pondo tudo numa mala e quando surgia a oportunidade de falar sobre prevenção, olhava para aqueles panfletos. Um dia convidaram-me para fazer uma sessão na Assembleia da República sobre o tema da “Prevenção” e eu expliquei que era da área do tratamento e não da prevenção, mas insistiram e acabei por ir com a mala que tinha com os objetos da prevenção. Pus o malote em cima do púlpito inclinado e caiu tudo para o chão, era uma reunião com jovens e desatou tudo a rir, eu fiquei um pouco aflito e pedi ajuda aos jovens para me ajudarem a recolher e generosos vieram e pedi a um que ficasse. Então, fiz uma dramatização, pegando nos autocolantes, nos lápis e panfletos que tinha e fui enchendo o rapaz com folhetos, com autocolantes, com papéis e no fim, eu já cansado e ele sem se poder mexer disse ”Deus te ajude, estás prevenido!”. Isto é aquilo que eu vejo que é a prevenção, que é fardar por fora e não mexer por dentro”, critica o médico.

Para alterar mentalidades e atitudes, Luís Patrício colocou na mala “objetos do dia-a-dia que fazem pensar”, como por exemplo lápis de três tamanhos: um pequeno, um médio e um enorme. “Se eu quiser que algum jovem pense sobre o seu corpo ou a dismorfofobias, no que diz respeito às mudanças da adolescência, eu pergunto se prefere ter um lápis pequenino, médio ou grandão e eles desatam-se a rir porque projetam aqui qualquer coisa ligada à sexualidade e qual é a finalidade? É explicar que não importa o tamanho, importa é como funciona porque muito grande não dá muito jeito”, refere.
E a brincar, este médico vai falando de temas importantes e, como diz, desmitificando ideias que se têm. Por exemplo, refere, “drogas pesadas e leves não existem, só se for na balança”, defende. Ou que “quando falam de que as substâncias estão legalizadas na Holanda não é verdade, não é legal mas sim tolerada”, explica.
O projeto da Mala da Prevenção de Luís Patrício surgiu nos anos 90, mas foi a partir de 2002 que ganhou mais força. Não é reconhecida pelo Ministério da Saúde, lamenta o médico Luís Patrício, explicando que já fez várias vezes o pedido junto desta entidade para que este trabalho seja reconhecido. Mas não é isso que o faz parar.

A Mala da Prevenção já andou durante um mês na América Latina a fazer formação sobre substâncias sintéticas: uma semana na Colômbia, uma semana no Peru, outra na Bolívia e também no Equador. Também já esteve em Cabo Verde, vários sítios na Europa e em Portugal “vai onde é convidada a ir, a Mala vai ao bordel, à universidade, ao seminário, à cadeia e onde a convidarem a estar ”, refere Luís Patrício.
“A ideia é trabalhar com professores que possam trabalhar com os jovens, há uma mala para pais”, salienta o médico psiquiatro que aguarda autorização para avançar com este projeto em Alcanena, Oliveira do Hospital e Montpellier (França) “para fazer formação com a Mala e prosseguir com este trabalho, porque a ideia não é eu ficar com as malas, a ideia é que elas circulem”.