Luís Contente, conhecido como o “Zidane da Golegã”, conta com 44 anos de idade, 35 deles dedicados ao futebol. Passou por 18 clubes, incluindo o Sporting Clube de Portugal (formação), clube que representa atualmente no escalão de veteranos. Depois de uma vida dedicada ao desporto rei, a sua despedida do futebol federado decorre este sábado, dia 25 de junho, às 15h30, no Entroncamento, num jogo que vai opor o Sporting CP e o Entroncamento Atlético Clube (EAC).
Um momento que se antevê marcante e emotivo, e que foi o pretexto para uma breve entrevista com um jogador que, mesmo com lesões graves ao longo da carreira desportiva, nunca desistiu de fazer amizades e o que mais gosta: praticar futebol.
Vai fazer a sua despedida no sábado, dia 25, mas como federado, porque vai continuar a jogar futebol…
Sim, exatamente. O momento vai marcar a minha despedida do futebol federado, que começou em 85/86, a última época foi feita em 2019/2020, houve esta paragem de quase dois anos por causa da questão do Covid-19 (…) entretanto integrei no projeto de veteranos do Sporting Clube de Portugal. E quer dizer, como nós no distrital fazemos aproximadamente 23, 24 jogos, os campeonatos acabam por acabar muito cedo, no final de março princípio de abril. Nós nos veteranos do Sporting o que acontece é que fazemos praticamente 60 jogos por ano, só paramos no mês de agosto, ou seja, eu agora como veterano faço mais jogos do que fazia quando era federado.
O que acontece é que houve esta possibilidade de fazermos o jogo, nomeadamente para ficar registado, houve esta possibilidade pelo Paulo Costa, que é o presidente do Entroncamento Atlético Clube, ele é que me lançou este desafio para fazermos o jogo no estádio municipal do Entroncamento, porque tem todas as condições, é totalmente diferente, é relvado natural e entretanto vai-se realizar o jogo com a equipa de veteranos do Sporting Clube de Portugal, os meus atuais colegas, contra uma equipa que vai representar o Entroncamento Atlético Clube em veteranos que são ex-colegas meus da minha vida desportiva ao longo destes anos. Eu jogarei meia parte em cada equipa e depois a 10 minutos do fim lá será o apito para eu ser substituído e dar por finalizado este meu trajeto federado.
Vão ser muitas caras conhecidas, tanto de um lado e do outro a fazer a festa?
Sim, o Sporting Clube de Portugal, os meus colegas, nomeadamente malta que passou nas camadas jovens do Sporting que marcaram uma geração grande. Entretanto o meu ex-colega, o Luís Boa Morte, à partida é capaz de estar presente, entre outros que vieram do Sporting, e do outro lado vamos ter aqui grandes nomes que representaram o distrito de Santarém nos últimos 30 anos, jogadores como o Afonso Alves, o Miguel Cunha, o Chambel, o Vinagre, tudo grandes nomes que fizeram uma história muito bonita no distrito de Santarém.

Quais são as expectativas para este jogo?
Como é um jogo de veteranos não há aquele nível de competição, ainda mais estamos a falar de um jogo que vai ser realizado num quadro festivo, porque também é para comemorar o quarto aniversário do Entroncamento Atlético Clube, as expetativas é que seja um jogo divertido, ninguém se aleije e que ao fim ao cabo tenha muitos golos porque é o que o público gosta.
O que é que significa este momento?
Este momento para mim é um momento de enorme gratidão, porque ao longo desta vida desportiva tive sempre o acompanhamento, principalmente do meu pai que, praticamente do primeiro ao último minuto, me acompanhou sempre, inclusive chegou a ser meu treinador em dois clubes e isto representa para mim uma gratidão enorme. Se tudo correr bem vamos dar o pontapé inicial no sábado. Eu fui operado ao joelho quatro vezes, passei por momentos complicados e sempre com a força de vontade que tive e com dedicação e com a ajuda do meu pai em termos psicológicos, nunca desisti. Como o meu pai era treinador, um bocadinho por minha culpa porque joguei sempre até ao último minuto e sabia que para ele era uma satisfação enorme.
E quando era mais novo e andei na 2ª divisão, 3ª divisão, e um dia teres o teu pai a dizer que no dia em que o filho fosse jogar em estádios enormes, cheio de gente, ele podia morrer logo, porque ficava satisfeito… eu batalhei sempre para chegar o mais longe possível, sabendo que era difícil por jogarmos a nível regional, mas o objetivo foi sempre jogar para que houvesse essa satisfação do meu pai.

O que é que te fez correr, porque são 30 anos de carreira, durante tantos anos?
É o seguinte, eu desde cedo que comecei logo a ter um impacto do futebol, por causa do meu pai, se bem que hoje as condições são completamente diferentes, antigamente as condições de trabalho eram mais precárias, estamos a falar de balneários sem condições, mas desde cedo incuti logo aquela ideia de jogar por dedicação e paixão e desde cedo que fui sempre um apaixonado pelo campeonato italiano. Quer dizer, o campeonato italiano foi durante anos e anos o melhor campeonato do mundo e o que tinha mais jogadores com excelentes índices de longevidade. Depois o que é que acontece, depois das lesões que tive desde cedo, fez-me ver o desporto de outra maneira e o facto de não poder correr durante 6 meses, devido às lesões. fez com que ficasse mais apaixonado e agarrado, tanto pelo treino como pelo jogo. O meu lema sempre foi assinar por um clube para treinar, porque depois quem coloca a jogar ou não são as pessoas que estão credenciadas e é assim que o jogador de futebol tem de ver as coisas. Nós assinamos para representar e honrar o cube, o treinador treina, os jogadores jogam, o presidente preside, cada um tem a sua função.
Uma carreira recheada, a quem a dedicas?
Em primeiro lugar tenho de dedicar a minha carreira ao meu pai e depois aos restantes familiares, nomeadamente a minha mulher, a minha filha, logicamente que a minha mãe está agregada ao meu pai, também os meus primos. Depois a todos os amigos que tive ao longo desta vida, quer dizer representantes de outros clubes eu vou a todo o lado e tenho malta amiga, não há melhor título que a amizade. Isso é o que ficou e vai ficar e além disso, em toda a minha carreira desportiva, nunca levei um cartão vermelho.
Foram 18 clubes representados, algum o marcou em especial?
É o seguinte, eu aos 11 anos de idade fui viver para Lisboa sozinho, fui jogar no Sporting Clube de Portugal, acho que aos 11 anos de idade atingir este patamar é algo extraordinário e muitas pessoas não têm noção, aquilo é uma escola totalmente diferente, não digo que a do Sporting seja melhor que a do Benfica ou do Porto, não é isso que está em causa, mas quer dizer, eu saio do Entroncamento e fui jogar para o Sporting, é totalmente diferente. Eu posso dizer que aos 11 anos de idade foi possivelmente o ano em que aprendi mais na minha vida, não só a nível desportivo, mas em tudo, porque saí de um lugar para ir para Lisboa, ficar lá toda a semana, de vez em quando vinha o fim de semana e ter de fazer esta gestão da minha vida toda, tudo isso e jogar no Sporting, acho que acabou por ser o clube mais marcante.
Contudo, não posso deixar nunca de realçar o impacto que o Futebol Clube Goleganense teve na minha vida desportiva, porque o Goleganense acaba por ser o grande clube do meu coração, é o clube da minha terra e toda a vida vai ser.

O que é que ganhaste nesta vida mais dedicada ao desporto rei, que é o futebol?
O que mais ganhei sem dúvida foi conhecimento, relacionamentos e, principalmente, amizades. A minha vida profissional assim o permite, dá para tomar um café com um colega ou outro, quase todos os dias ou todas as semanas estou com colegas meus, com treinadores, e isso para mim é algo incalculável em termos de valor, o melhor que eu levei desta vida, em termos desportivos. Foi esta situação de conviver com alguns dos meus ídolos, porque no distrital também tive os meus ídolos, essa é a realidade. Porque quando éramos mais novos e víamos que eles chegavam à 2ª divisão e depois acabávamos por ser colegas deles e depois mais tarde venho a encontrar alguns nos veteranos, eles um bocadinho já velhotes, eu um bocadinho mais novo, para eles acabo sempre por ser um miúdo. Por isso a conclusão final é mesmo a amizade.
Uma palavra final e uma palavra que queiras deixar a jovens jogadores que se estejam agora a iniciar?
Eu gostaria de deixar um abraço enorme de gratidão a todos aqueles que foram meus colegas ao longo desta vida desportiva, como todos aqueles que pertenceram às estruturas dos clubes, os presidentes, diretores, roupeiros, massagistas, sou grato a todos eles sem dúvidas. A única coisa que posso lamentar é que alguns já partiram, mas isso faz parte da lei da vida.
Relativamente a esta malta nova, o que posso dizer é o seguinte, a malta quando se compromete é para levar até ao final, temos de cumprir e se alguma coisa não corre bem só temos de falar com as pessoas para entender onde se pode melhorar porque isto é a realidade das coisas. Agora as pessoas têm de ser educadas e tem de haver responsabilização, se não houver compromisso, força de vontade, dedicação e resiliência, são mais uns que andam a dar uns pontapés na bola, esta é a realidade. Se quiserem ir mais além têm de dar sempre um passo a mais, caso contrário sem esforço, sem trabalho não vamos a lado nenhum.

Clubes representados por Luís Contente:
2019/20 – Futebol Clube Goleganense
2018/19 – GDR Os Lagartos
2017/18 – AC Pernes/ Dragões Alferrarede
2016/17 – ACD Aldeiense
2015/16 – Assentis / Atlético Clube Pernes
2014/15 – F.C. Goleganense
2013/14 – U.D. Atalaiense
2012/13 – U.D. Chamusca / U.D. Atalaiense
2011/12 – F. C. Goleganense
2010/11 – Tramagal SU / U.D. Chamusca
2009/10 – U.D. Atalaiense
2008/09 – FC Goleganense
2007/08 – FC Goleganense
2006/07 – FC Goleganense
2005/06 – AC Alcanenense
2004/05 – AC Alcanenense
2003/04 – Carregueirense
2002/03 – Azinhaga / Carregueirense
2001/02 – Ferroviários / Azinhaga
2000/01 – Ferroviários
1999/00 – Riachense / Ferroviários
1998/99 – Riachense
1997/98 – AC Alcanenense
1996/97 – AC Alcanenense
1995/96 – Torres Novas
1994/95 – Torres Novas
1993/94 – União de Tomar
1992/93 – União de Tomar
1991/92 – C.A.D.E
1990/91 – C.A.D.E
1989/90 – Sporting Clube Portugal
1988/89 – Ferroviários
1987/88 – FC Goleganense
1986/87 – FC Goleganense
1985/86 – FC Goleganense
Recorde a entrevista de fundo feita anteriormente pelo nosso jornal a Luís Contente: