Luís Contente, conhecido como o "Zidane da Golegã". Foto: DR

Luís Contente, 40 anos de idade e apelidado de “Zidane da Golegã”, é um dos jogadores mais experientes do distrito e continua no ativo, sendo um exemplo de persistência e paixão pelo futebol. Foi operado quatro vezes aos joelhos, já representou 17 clubes e nunca viu um cartão vermelho. Actualmente a representar o Grupo Desportivo e Recreativo “Os Lagartos”de Sardoal, o veterano atleta conta-nos um pouco sobre o seu percurso como jogador, desde as camadas jovens até aos dias de hoje.

Até ao momento, Luís Contente já representou 17 clubes, passando, na formação, pelo Sporting Clube de Portugal. 

Luís Contente, 40 anos, é conhecido no distrito como o Zidane da Golegã. Foto: DR

B.I

Nome: Luís Miguel Constâncio Rodrigues Contente

Data de nascimento: 05-12-1977

Naturalidade: Golegã

Percurso enquanto jogador: FC Goleganense; Ferroviários; Sporting Clube de Portugal; CADE; União de Tomar; Torres Novas; Alcanenense; Riachense; Azinhaga; Carregueirense; Atalaiense; Tramagal S.U; U.D Chamusca; Assentis; Atlético Clube Pernes; ACD Aldeiense; Dragões Alferrarede; GDR “Os Lagartos”.

Conquistas: 3º lugar na Taça Nacional de infantis; 3 Taças de Disciplina; Campeão distrital da 2ª divisão; Campeão de série da 2ª divisão distrital (Chamusca e Atalaiense).

Luís Contente com o seu pai.

Entrevista: 

mediotejo.net: Quando é que descobriu a sua paixão pelo futebol?

Luís Contente: O futebol, como qualquer outro desporto, por norma está relacionado com os nossos ídolos, que, normalmente, acabam por ser os nossos pais. O meu pai sempre foi uma pessoa que acabou por estar muitas vezes ausente de casa, porque era treinador de futebol. Desde cedo houve aquela questão da bola e eu, como todos os outros miúdos, milhares deles, passava horas na rua a jogar futebol, porque os carros também eram poucos e as balizas eram feitas com pedras.

Ainda tenho uma vaga ideia do mundial de 1982, em Espanha, o símbolo do mundial até era o laranjinha, e começou logo aí a paixão, também por causa do Brasil, porque tinha uma grande equipa na altura. E foi a partir daí, 1982/1983, que comecei, claramente, a ter uma noção do que é a paixão pelo futebol. A partir desse momento, temos uma bola que é a nossa melhor amiga.

Na formação, passou pelo Sporting Clube de Portugal. Como foi a transição do clube Ferroviários do Entroncamento para o Sporting? E como foi a experiência num dos maiores clubes portugueses? 

Eu comecei na Golegã e depois passei para os Ferroviários, mas é engraçado que nesse ano dos Ferroviários, ainda era 1º ano de infantil e, foi um ano em que marquei à volta de 30 e tal golos, porque eu nessa altura jogava a ponta-de-lança. Entretanto, no verão de 1989, havia a possibilidade de ir treinar ao Benfica, através de um indivíduo que era o Raúl Bernardo, da Golegã, mas o meu pai, por uma questão de ser um bocado anti-benfiquista, disse-me sempre: “Tu podes ir ao Benfica, mas primeiro vamos treinar ao Sporting”.

E assim foi, fui treinar ao Sporting Clube de Portugal, o treinador era o falecido Osvaldo Silva e o mister Paulo Leitão, que passou por alguns clubes aqui na zona, nomeadamente o Fátima. No treino que fiz marquei logo 3 golos, as coisas correram muito bem e, no final do treino, lembro-me do Osvaldo Silva perguntar quem eram os meus pais e essas coisas todas. Apresentei o meu pai e depois mandou-nos estar 3/4 dias depois em Alvalade, para treinar.

Foi curioso que acabei por não fazer mais nenhum treino, acabei por assinar logo nesse dia, porque o nosso roupeiro, que ainda hoje está na academia, o Zeca, apanhou uma grande bebedeira e não tinha as chaves do balneário, não tinha nada. Eles não me deixaram vir embora sem falarem com os meus pais, onde a questão foi chegar a um entendimento onde haveria de ficar, porque, com 11 anos sozinho em Lisboa não foi fácil, mas foi aquilo que eu passei.

A transição, ao passar de um clube aqui no distrito, um clube com “nome” na altura, os Ferroviários do Entroncamento, é o sentimento de que vamos viver um sonho. É esta a realidade, não pensamos nos contras, só pensamos nas coisas boas que é representar o Sporting. Eu tive a possibilidade de fazer “hat-trick” pelo Sporting, de marcar “bis”, marquei muitos golos pelo Sporting. No entanto, não tive aquele sucesso que poderia ter porque, nos milhares de miúdos que aparecem nas camadas jovens, acabam por sobressair uns 2 ou 3.

Na altura tinha o Vargas, que em termos de carreira nas selecções jovens e camadas jovens no Sporting, talvez tenha sido o melhor marcador que apareceu até hoje. Ele era o ponta-de-lança e eu era o suplente dele.

Luís Contente na passagem por um dos maiores clubes do nosso país, o Sporting Clube de Portugal.

Contou-nos que foi operado quatro vezes aos joelhos. Sabe-se que ultrapassar uma situação dessas é complicado, mas qual foi a sensação quando voltou a lesionar-se? E como arranjou motivação para voltar a jogar futebol?

Eu olho para trás e vejo os tempos que passei, as dificuldades, as lágrimas, mas o que é certo é que, no meio disto tudo, acabo por sorrir. Nós para jogarmos futebol temos de ter uma atitude mental muito forte e positiva e, nesse aspecto, eu acho que tenho. Sempre tive o lema de quem manda sou eu e não há-de ser a minha mente e, com 21 anos, achei que era uma grande injustiça ter de ser operado a um ligamento cruzado anterior e as coisas não correrem bem. Voltei a ser operado uma segunda vez, voltou a não correr bem mas, à terceira, acabei por fazer a recuperação no Tita, em Tomar, a quem devo mesmo muito. O que é certo é que, para 90% das pessoas, na altura estava na 3ª divisão, davam-me como acabado para o futebol e, eu achei que aquilo era uma grande injustiça. Lutei contra tudo e contra todos, no sentido de mostrar às pessoas que não estava acabado e que tinha muito para dar ao futebol.

O que é engraçado é que, no meio disto tudo, já se passaram 20 anos e eu continuo cá, mas sempre com um dos meus lemas de vida, que é: querer é poder. Foi muito complicado, passei muitos anos sem lesões, até aos dias de hoje não tenho praticamente nada, quase nenhumas mazelas porque também me cuido bem.

No entanto, aos 35 anos voltou a acontecer no outro joelho. Estava na União Desportiva Atalaiense, num treino que até nem era para ser realizado e, a saltar sozinho, acabei por fazer uma rotura no cruzado anterior. Quando estava no chão naquele momento até fiquei com a perna dormente, foi dos dias que tive mais dores. Depois, os tempos que se seguiram foram muito complicados porque, eu trabalho na indústria farmacêutica, tenho muitos médicos amigos ortopedistas que me disseram para esquecer, porque estava acabado para o futebol e, alguns dos meus melhores amigos, também me disseram que nunca mais seria competitivo, mas isto deu-me uma força tremenda.

Falei com o Doutor Luís Lavado, fez-me a cirurgia, disse-me que durante a cirurgia falava comigo para saber como estava a nível de cartilagens e, recordo-me perfeitamente que ele disse que se eu quisesse podia ir para o Tita, para a recuperação, porque ainda tinha muitos golos para marcar. O que é certo, é que uma recuperação ao ligamento, por norma, são necessários 6 meses para estarmos bem e, ao fim de 5 meses e meio eu fiz o meu primeiro jogo oficial.

Recordo isso como um limite que foi ultrapassado porque, muitas vezes, nós pensamos que o nosso limite é aquele, mas não é. Eu cheguei à conclusão que deixaria de jogar futebol quando eu decidisse que haveria de deixar de jogar porque, como eu digo, querer é poder. O mesmo aconteceu, mesmo estando a comparar o incomparável, com o Ibrahimovic. O ano passado, também aos 35 anos, teve uma lesão destas, disseram que ele estava acabado e estamos a falar de um jogador que em 22 jogos tem 25 golos.

Luís Contente, 41 anos, foi operado quatro vezes aos joelhos, já representou 17 clubes e nunca viu um cartão vermelho.

Até aos dias de hoje passou por 17 clubes. É certo que tem muitas histórias para contar. Gostaria de nos contar alguma?

Muito honestamente, guardo carinho de todos os clubes. Joguei nos melhores clubes do distrito, passei pelo Sporting Clube de Portugal, uma experiência extraordinária com 11 anos de idade, os meus pais deixaram-me ir sozinho para Lisboa e, talvez tenha sido o ano em que eu aprendi mais na minha vida. Devo muito aos meus pais por isso e, também penso que nunca lhes falhei com nada. E destaco um exemplo de um grande capitão de equipa, que foi o Valbom. Recordo-me também que, quando subi a sénior e fui para a 2ª divisão B, para Alcanena, e houve uma história que me marcou bastante.

Estávamos na primeira semana de treinos e tínhamos um jogador que era internacional do Senegal, o Drissa que jogava como interior direito, muito bom jogador, mas ele estava com líquido no joelho. O nosso treinador era o Esmoriz, que fez muita história no distrito de Santarém e, recordo-me perfeitamente que o nosso lateral direito era o Ruas, que é o actual treinador da União de Santarém, e numa jogada passou pelas costas do Drissa que flectiu para o meio e, em vez de dar a bola para uma desmarcação obrigatória continuou a jogar.

Lembro-me que o treinador parou a jogada para dizer ao Drissa que era ali que queria a bola e o jogador disse para o treinador que para ali era melhor. Então, o treinador disse para ele ir ter com o Sr. Gaspar, o massagista, para ele tratar do líquido no joelho. No treino seguinte, o nosso capitão de equipa que, talvez dos jogadores com quem já joguei tenha sido o melhor marcador de livres, disse para nos equiparmos e para irmos para o centro do terreno porque tínhamos uma reunião marcada. Chegámos ao centro do terreno, o presidente já lá estava e o Esmoriz quando chegou disse que o Drissa já não fazia parte do plantel e o próximo que quisesse mandar na equipa tinha a porta aberta. É uma história que me marca para o resto da vida, tínhamos jogadores que jogaram em clubes conceituados em Portugal, foram para o Alcanenense naquela altura e até eles tinham medo de olhar para o Esmoriz. Foi uma experiência totalmente diferente daquela que eu estava habituado, eu vinha dos juniores do Torres Novas e passar para uma 2ª divisão B, alto rendimento e acontecer uma situação destas, marcou-me bastante.

Entre outras histórias engraçadas, há uma que eu gostava de realçar. Em 2004 voltei ao Alcanenense, já tinha umas grandes “entradas” ao nível do cabelo, comecei a rapar o cabelo e a ficar careca, as pessoas na brincadeira tratavam-me por Zidane.

Recordo-me que nesse ano fizemos o jogo de apresentação contra os juniores do Portomosense e, no estádio Joaquim Batista, em Alcanena, temos uma parte que é a quinta coluna e é onde, por norma, ficavam as pessoas que criticavam tudo e todos. Nós entrámos para dentro do campo, na altura estava quase a fazer 25 anos, e ouvi um indivíduo a dizer que o Contente já tinha quase 40 anos e o resto da equipa começou a rir-se. O que é engraçado é que isto passou-se há 15 anos e, eu há 15 anos atrás já tinha 40 anos, portanto eu ando há 15 anos com 40 anos de idade (ri-se).

Luís Contente a usar a sua técnica, um dos pontos que considera mais fortes no seu jogo.

Numa carreira futebolística, os jogadores têm de tomar decisões importantes que podem mudar um pouco a sua vida pessoal e profissional. Olhando para o seu percurso enquanto jogador, mudaria alguma decisão que tenha tomado?

Talvez uma situação ou outra porque, as pessoas que me conhecem sabem que eu ando no futebol por paixão, não ando pelo dinheiro. As decisões que tomei foram sempre, principalmente em consciência comigo e, uma coisa é certa, ainda nos dias de hoje eu organizo a minha vida para poder estar presente nos treinos, porque tenho um grande sentimento de responsabilidade pelos clubes que represento. Um clube gasta muito dinheiro numa inscrição e, o comprometimento que nós temos é que se somos jogadores, assinamos para treinar porque, depois temos as pessoas credenciadas que decidem se nos metem a jogar ou não.

Eu tenho um lema que é, o treinador treina, o presidente preside e o jogador joga. Se jogamos ou não, é uma decisão que cabe ao treinador e temos de respeitar.

Aos 40 anos, o Sardoal é o 17º clube que Luís Contente representa na sua carreira, um exemplo de longevidade e dedicação ao desporto. Foto: mediotejo.net

Como se define enquanto jogador?

Isto é complicado porque nós, perante todas as pessoas, somos sempre perfeitos mas, ao longo dos anos, fui-me modificando bastante. Eu comecei como ponta-de-lança porque o meu pai dizia que os avançados eram sempre os mais procurados e os que ganhavam mais dinheiro e, portanto, havia aquela mística de uma pessoa quando é jovem. Depois passo para uma posição mais recuada, para médio ofensivo, que é a que tenho ocupado ao longo destes anos, mas também tive duas ou três épocas que joguei nas alas com o objectivo de depois partir para o meio. Apesar de jogar em posições mais avançadas tive de aprender a defender mais por mim e também em benefício da equipa, mas logicamente que me considero um jogador 100% tecnicista. Não sou um jogador de ir à luta, sabemos que qualquer jogador tecnicista não o é, agora acho que sou um jogador que trata, claramente, bem a bola e ela sai dos meus pés a sorrir.

Ao longo destes 34 anos de federado, 17 clubes, 4 operações, há uma coisa que me orgulho. Há 7 épocas seguidas que não levo nenhum cartão e, até aos dias de hoje, nunca fui expulso. O ano passado, em abril, fui alvo de homenagem por um árbitro do nosso distrito que me deixou completamente com lágrimas nos olhos. Eu não sou capitão de equipa, já fui durante muitos anos mas não ligo a isso minimamente, mas ainda no domingo os árbitros pediram-me ajuda porque houve um momento mais quente. Talvez as pessoas que menos erram são os árbitros, nós ralhamos com eles porque falhamos golos, porque a equipa que ganha não ralha com o árbitro.

Actualmente joga no campeonato distrital, mas já passou pela 2ª divisão B. Na sua opinião, quais são as diferenças entre estes campeonatos?

Estamos a falar de um campeonato onde o semi-profissionalismo era mais que evidente. No campeonato distrital os jogadores jogam por paixão, por divertimento, o que não quer dizer que não haja responsabilidade. Nos dias de hoje, o que acontece é que eu sou amador mas levo isto de uma forma muito profissional. Uma das principais diferenças que eu noto é que, nós vimos que há jogadores que têm qualidade para jogar nas divisões superiores, mas de divisão para divisão o ritmo de jogo é mais elevado e, no campeonato distrital as equipas acabam por oscilar mais. Só quem lá passou é que sabe isso perfeitamente.

Luís Contente é um dos jogadores mais experientes do distrito de Santarém.

E hoje em dia, qual é a sua opinião sobre o estado do futebol no distrito de Santarém?

Eu sou um apaixonado pelo que faço e, olhando para o futebol distrital de há uns anos atrás, não tenho dúvidas nenhumas em dizer, sem desprimor a quem o pratica e aos clubes que apostam nas subidas que o futebol é muito nivelado por baixo, é esta a realidade. Sabemos, claramente, que há 20 anos atrás havia muito mais qualidade em todos os plantéis e mais jogadores. O que acontece hoje em dia é que o jogador compromete-se com o clube e, se fizer as duas primeiras convocatórias e não jogar, à terceira semana já não lá está para treinar.

Se nós formos verificar, em grande parte das equipas, na primeira distrital também acontece, há muitos clubes que em maior parte dos treinos têm lá 14 ou 15 jogadores para treinar. Muitas situações estão relacionadas com a responsabilidade dos jogadores, com a palavra dada e, eu até costumo dizer na brincadeira, que era importante um clube no início da época, quando um jogador está a assinar, fazer uma filmagem de 2 ou 3 minutos e perguntarem o que ele espera do clube e o que pode dar ao mesmo. Depois, passado duas meses era reunir o plantel para mostrar o vídeo e o que é certo é que 7 ou 8 elementos já não estavam lá.

Luís Contente em ação no jogo da semana passada diante do Pego. Foto: mediotejo.net

Actualmente joga nos “Lagartos” de Sardoal. Quais são os seus objectivos pessoas e colectivos neste clube?

O clube recebeu-me de uma forma extraordinária, pessoas muito humildes, super bem dispostas, merecem tudo até aos dias de hoje. Eles sabem perfeitamente que eu fui para lá bastante satisfeito com o convite que me foi feito e, muito honestamente a nível pessoal, o principal objectivo que eu tenho, logicamente que todos os jogadores querem jogar o máximo possível, mas quero jogar, melhorar, evoluir e ajudar o clube. Passar os meus testemunhos quer seja à parte directiva, à parte da equipa técnica e dos jogadores, isto porque, em termos de experiência acho que os posso ajudar muito, naquilo que for útil para eles.

A nível colectivo, o clube está a começar pela primeira vez no campeonato distrital e, só para termos uma ideia, eu recordo-me do clube no campeonato distrital em 2005 quando eu estava no Alcanenense, e fomos lá ganhar 1-0 com um golo meu. Em termos pessoais as coisas até nem me estão a correr muito mal, porque tenho vindo a marcar golos seguidos. Ao clube não está a correr muito bem, mas as coisas estão a melhorar. As pessoas são sérias, honestas, e quem trabalha, mais cedo ou mais tarde, será recompensado.

Luís Contente integra esta época o plantel dos Lagartos de Sardoal. Foto: mediotejo.net

Até ao momento, a equipa não conseguiu atingir resultados positivos. Gostaria de deixar alguma mensagem aos seus colegas de equipa e aos adeptos que vos acompanham? 

Os adeptos têm sido pessoas excepcionais. Na jornada passada perdemos 2-1 com a Ortiga, num dia com muita chuva, poças de água, campo pesado, já não jogava assim há muito tempo. Mas, eu falei com o meu pai no final do jogo, e o que é certo é que tivemos muitos adeptos a ver o jogo, e apoiaram-nos até ao fim. Não tenho dúvidas nenhumas que acreditam na equipa, agora é claro, não estamos a falar de um acreditar numa equipa que vai disputar a liga dos campeões. Estamos a falar a nível regional e ganhámos o apoio deles. Há sempre uma mudança quando se muda de treinador, não está em causa a pessoa que saiu porque cada um tem o método de trabalho, mas a mudança estimulou bastante. As pessoas podem estar cientes que nós vamos continuar a dar tudo e, com trabalho, rigor, disciplina e força de vontade, os resultados positivos vão aparecer. Apesar de ser apenas um jogo de futebol, todos gostamos de ganhar, esta é a realidade.

Luís Contente está actualmente ao serviço dos “Lagartos” de Sardoal, equipa que disputa a 2ª divisão distrital de Santarém.

Visto que estamos a falar de futebol distrital, como consegue conciliar a sua vida profissional com a presença aos treinos?

Eu trabalho na indústria farmacêutica, é uma área em que não temos horário de trabalho, mas consigo e faço sempre o meu planeamento em função dos treinos para poder estar disponível. No dia em que eu sentir e, que o meu pai e alguns amigos me digam que eu estou a mais no futebol, ou que a imagem do Luís Contente não é aquela que estavam habituados a ver, sou a primeira pessoa a abandonar. Por isso, no primeiro dia em que eu comecei a jogar em 1985/1986 até ao último em que deixar de jogar como federado vai ser sempre com muito rigor, com muita disciplina, chegar a tempo de vir treinar porque o treino é a melhor preparação para um jogo. Como deve imaginar, não deve ser fácil para mim, após 4 operações, fazer 90 minutos quando os tenho de fazer, mas faço-os com uma satisfação tremenda.

Quando terminar a sua carreira de jogador, pretende ser treinador?

Não. Estou a dizer, claramente, que não vou ser treinador. As pessoas que têm trabalhado comigo ao longo dos anos, desde treinadores, os meus colegas, sabem perfeitamente que eu tenho ideias bem vincadas. Sei, minimamente bem, como se deve trabalhar no treino, sou uma pessoa que adora treinar. Aliás, uma das coisas que eu notei nos meus colegas que, ao longo dos anos, deixaram de jogar, alguns mais cedo, está relacionado com o facto de financeiramente as coisas no futebol já não serem aquilo que eram, pois as pessoas tinham uma motivação que era o dinheiro. A mim nunca me fez qualquer diferença, na semana passada falava com um jogador que jogou comigo na terceira divisão que me dizia que não sabia como é que eu tinha paciência para ir treinar e, eu respondi-lhe que cada maluco tinha a sua pancada.

Nem todos somos iguais, eu não vou ser treinador, posso enumerar alguns motivos, nomeadamente: responsabilidade dos jogadores. Ter uma semana de treinos planeada, trabalho táctico para 18 elementos e depois chegar lá, olhar para o balneário e estão lá 7 ou 8 elementos. Eu não tenho “estômago” para isso, não sou mais que ninguém, mas passei por uma segunda e terceira divisão, trabalhei a sério no futebol e sei que só ao trabalhar de forma exigente é que se conseguem resultados. Depois eu teria de colocar jogadores a jogar que nem treinaram e, nos dias de hoje, como jogador, é uma das coisas que mais me revolta no futebol. Seja um colega meu ou não, as pessoas sabem que eu sou assim, alguém jogar sem treinar é uma coisa que me dói muito, porque há injustiças quando há jogadores no banco que treinaram. Isto não é saudável para um plantel porque, um indivíduo que não joga pensa que o outro sem treinar é melhor do que ele a treinar.

Se eu fosse treinador nestes moldes, acho que ao final de uma semana batia logo com a porta. Já tive convites para treinar, nomeadamente para treinador-adjunto de alguns colegas meus, agradeço-lhes encarecidamente, mas não sou pessoa para isso. Após terminar a carreira, certamente irei jogar nos veteranos de algum clube e só me vejo no futebol como presidente de algum clube, num cargo federativo ou associativo.

Qual é o seu lema de vida?

Hoje em dia vejo muitas pessoas a fazerem desporto, a correrem, o que é de salutar. As pessoas da Golegã sabem perfeitamente que há mais de 20 anos atrás não se via ninguém correr nas ruas, mas andava eu com o meu pai de bicicleta. Recordo-me perfeitamente, às vezes estava cansado, o meu organismo já não queria e, o meu pai teve um papel determinante comigo. Ele dizia que o corpo queria que eu parasse, mas eu não podia, eu tinha de vencer o meu corpo. E uma coisa é certa, talvez nunca tenha pensado jogar até aos 40 anos, apesar de ter sido sempre um objectivo de vida e prometi isso ao meu pai, porque sempre fui um adepto do futebol italiano e via jogadores a jogarem até mais tarde, Costacurta, Maldini, entre outros. E, se eu via que eles jogavam tão bem, porque é que eles haviam de deixar de jogar?

No futebol, o prazo de validade dos jogadores, ao chegarem aos 32 ou 33 anos, parece que está a acabar, mas eu não concordo nada com isso. Depende muito da ambição, da dedicação, do profissionalismo, independentemente de estarmos a falar de futebol amador ou não, basicamente está relacionado com o poder da mente. Querer é poder, é sem dúvida o meu lema de vida, para além do resto, do sorrir, porque uma das coisas que eu costumo dizer a muitas pessoas é que, se andamos no futebol por gosto, porque é que andamos muitas das vezes dentro do campo a ralhar uns com os outros, coisas sem necessidade, porque quem jogou a um nível mais alto sabe que eles nem discutem dentro do campo. A jogada passou, há que melhorar, vamos para outro lance.

Luís Contente, conhecido como o “Zidane da Golegã”.

Estudante na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, no curso de
Comunicação Social, na vertente de jornalismo. O gosto pelo desporto, mais precisamente pelo desporto rei, está comigo desde muito cedo. Atleta federado desde os oito anos, a minha ambição é tornar-me profissional na área do jornalismo desportivo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *