Lentilhas. Foto: DR

Por um prato de lentilhas vendeu o esfomeado Esaú a primogenitura, arranjando um tremendo sarilho nas tribos de Israel o qual continua por sarar. Ficou a perdurar negativamente a expressão: vendeu-se por um prato de lentilhas…

É semente leguminosa redonda, achatada, aparece em duplicado em cada vagem, come-se descascada e cozida, seja como excelente acompanhamento de carne de porco salgada, também sopas e saladas.

Originária da Ásia Central, os romanos importavam grandes quantidades do Egipto, pois constituíam importante papel na alimentação dos pobres. Por cá, até ao aparecimento da batata, do tomate e das pimentas, a par dos chícharos e grãos-de-bico, supriam as continuadas carências na dieta das populações de parcos recursos.

As pessoas, de idade avançada sabem quanto valiam as lentilhas, no respeitante ao papel das leguminosas no aconchego estomacal das populações, a partir do fim da II guerra mundial a leguminosa de Esaú deixou de aparecer nos mercados, fruto das alterações políticas e económicas daí decorrentes.

Agora voltaram ao nosso convívio, porém, raramente as vejo anotadas nas cartas de comeres dos restaurantes pois a globalização trouxe até nós muitas espécies desconhecidas.

Se consultarmos forais, crónicas e elucidários de alimentos verificamos a «revolução» ocorrida ao gasto dos séculos. Outrora os leirões tinham mercado garantido, nestes dias de inflação só interessam aos laboratórios de investigação farmacêutica os quais ganham biliões com as vacinas destinadas a livrar-nos das maleitas até à hora da nossa morte.

Armando Fernandes é um gastrónomo dedicado, estudioso das raízes culturais do que chega à nossa mesa. Já publicou vários livros sobre o tema e o seu "À Mesa em Mação", editado em 2014, ganhou o Prémio Internacional de Literatura Gastronómica ("Prix de la Littérature Gastronomique"), atribuído em Paris.
Escreve no mediotejo.net aos domingos

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