Lapas. Foto: DR

A primeira vez que vi, olhei, cheirei e apreciei lapas foi na ilha de Santa Maria – Açores, numa taberna rente à estrada, estávamos no ano de 1970, exercia funções de Encarregado de uma Biblioteca Itinerante da Fundação Gulbenkian. Para pesar meu as Itinerantes acabaram debaixo da chancela Gulbenkian e, eu, entrei na quarta idade da vida como agora se escreve e diz.

As lapas fazem parte da família dos gastrópodes, medem entre 3 a 7 centímetros, as atlânticas são amarelo alaranjadas no interior das conchas, comendo-se cruas com sumo de limão ou vinagreta, grelhadas com um pouco de manteiga na «popa» de cada concha, ainda em arrozes de múltiplas maneiras, também trituradas na qualidade de recheio a recender a maresia.

Nos Açores uma especialidade é as lapas serem grelhadas com a dita manteiga e «pimenta da terra», ou seja, malagueta, que as torna mais apelativas a serem acompanhadas com vinho de cheiro (morangueiro).

As lapas são de digestão difícil, abundam nos rochedos da costa portuguesa. Porque são lapas, se lhe tocamos aferram-se ao local onde estão e, por isso, mesmo com faca apropriada não é fácil capturá-las. Sendo autênticas lapas têm de ser apanhadas quando estão a repousar nos côncavos de areia.

Há quem assegure serem afrodisíacas, o célebre escritor Zola escreveu um delicioso conto nesse sentido. Em época de férias, se o leitor estiver à beira-mar não custa experimentar!

Armando Fernandes é um gastrónomo dedicado, estudioso das raízes culturais do que chega à nossa mesa. Já publicou vários livros sobre o tema e o seu "À Mesa em Mação", editado em 2014, ganhou o Prémio Internacional de Literatura Gastronómica ("Prix de la Littérature Gastronomique"), atribuído em Paris.
Escreve no mediotejo.net aos domingos

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