Há anos, publiquei um livro dedicado à flauta viva de sete orifícios, tão do agrado dos romanos que a podiam apreciar e, à qual o Mestre dos Mestres cozinheiros da época e vindouras, dada a sapiência que foi Bartolomeo Scappi, dedicou várias receitas ora publicadas na monumental OPERA.
As populações ribeirinhas na orla do Tejo conhecem a lampreia, no entanto, no que tange à sua confecção culinária, predomina o arroz com o seu sangue ao modo de cabidela e troços da mesma mais ou menos nédios. Quanto aos condimentos, variam conforme os conhecimentos e gostos de quem as cozinha.
A lampreia provoca repulsa a muitas pessoas, enquanto outras não se importam de percorrer centenas de quilómetros a fim de a apreciar seja ao modo de Bordéus, assada em travessa, tacho ou no espeto, cozida ao vapor, frita, estufada, fumada guisada, em fricassé ou integrada num calórico cozido de carnes, como me foi apresentada no Alto Minho.
Na Galiza têm fama as empanadas (empadas) de lampreia, os Bispos de Estrasburgo conheceram a famosa e suculenta receita de pastelão da especiosa lampreia a que Luís de Camões aludiu num poema, quando as vislumbrou e, certamente, deglutiu deliciado – de outra forma não as referenciava na referida poesia.
A prova bem provada da lampreia, neste início de temporada, decorreu no restaurante Almourol, em Tancos. O arroz correspondeu inteiramente às expectativas: caldoso, a escorregar lentamente prato fora, e as toras da dita cuja provocaram gulosa alegria palatal, a justificar nova incursão passados dois dias.
Restaurante Almourol
Aberto de quinta-feira a domingo. Avenida e Cais de Tancos, 2, Vila Nova da Barquinha. Tel. 249 720 100