A Janela Manuelina do Convento de Cristo, em Tomar, tem estado a ser alvo de obras de intervenção e restauro, numa empreitada de um milhão de euros, e que inclui as fachadas e coberturas da igreja, anunciou o governo em julho de 2022, dando na altura a indicação que a empreitada deveria estar concluída no prazo de um ano.
As janelas da sacristia manuelina, dita “Casa do Capítulo”, inicialmente em número de três, chegaram aos nossos dias duas: Uma, em segunda luz, virada a sul, é visível do Claustro Principal, a outra, na fachada ocidental, é a famosamente conhecida por Janela do Capítulo.
Ladeada por dois gigantescos contrafortes, ou botaréus, esta janela é ornada por um exuberante universo figurativo onde estão presentes os temas de marinhagem – a madeira, o cordame, as bóias, etc., – as insígnias da Ordem – a cruz heráldica, esfera armilar, o brasão do reino, – e figurações simbólicas, particulares à mística da Cavalaria Espiritual e à missão que a Ordem de Cristo tinha na empresa das Descobertas.
Numa conferência de imprensa que teve como fundo a janela “porventura mais famosa e charmosa do Mundo”, como se lhe referiu o diretor-geral do Património Cultural, João Carlos Santos, a secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, realçou, em julho de 2022, no arranque dos trabalhos, a “enorme relevância” da intervenção que se iria iniciar no monumento Património da Humanidade.


Isabel Cordeiro disse que a obra “percorre todo o exterior da igreja, onde está a mundialmente famosa Janela do Capítulo”, que possui “elementos escultóricos de extraordinária importância para o entendimento deste monumento absolutamente único em Portugal” e que se encontram cobertos por líquenes que os cobrem de uma coloração negra e amarela.
A intervenção de conservação e restauro prevista, com financiamento do Programa Operacional Centro 2030 (85% de fundos comunitários e 15% de comparticipação nacional), “é delicada”, salientou.
“Vai permitir retirar a ‘biocolonização’ excessiva que ao longo de séculos se acumulou nestes extremamente imbricados elementos pétreos e escultóricos, devolvendo-lhes a plena leitura iconográfica, decorativa, permitindo uma fruição e um entendimento muito mais imediato do monumento”, declarou.
Delgado Rodrigues, consultor científico da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), explicou que, para reabilitação da Janela Manuelina, vai ser usada uma “abordagem diferente”, já que a área a intervir vai ser completamente tapada.
Esta técnica naturalista permitirá que, sem humidade e sem luz, morram os micro-organismos que invadiram os elementos escultóricos em pedra, cobrindo-os da coloração negra e amarela dos líquenes, que impedem a leitura iconográfica dos elementos pétreos.
Mais morosa, esta intervenção evita o recurso a biocidas, normalmente usados por não serem agressivos para a pedra. Mas, no caso da Janela Manuelina, foi considerado mais prudente ir “de forma mais suave”, afirmou.

Isabel Cordeiro destacou a congregação de várias equipas de especialistas e o envolvimento do Instituto Politécnico de Tomar, que permitiu que, durante a obra, o público pudesse acompanhar “a alteração que se vai processando”, seja em imagens que serão projetadas em ‘videowalls’, seja na página do monumento.
“O que é de realçar é que é uma intervenção bastante abrangente, bastante grande, bastante completa, e que acaba por ter um contributo para a história da conservação e restauro em Portugal”, afirmou.

A obra “inscreve-se num plano diretor para o monumento”, que, numa outra intervenção, a concluir até ao final de 2026 e com financiamento a 100% pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), incluirá o castelo e a criação de uma nova zona de acessos, permitindo “devolver à fruição publica uma área desconhecida, mas de extraordinária relevância para a história da arte, para a história de Portugal” e para identidade nacional, acrescentou.
O investimento anunciado para a próxima empreitada de requalificação do Convento de Cristo é de 4,4 milhões, verba que vai, nomeadamente, permitir a reabilitação do Castelo (Paço Henriquino, Alcáçova e Jardim; 2,8 milhões de euros) e dos Claustros D. João III (1,25 milhões de euros).
Numa visita à zona do Castelo, atualmente em ruína, João Santos sublinhou que esta intervenção vai permitir criar uma nova entrada e uma “roda” de distribuição dos visitantes por dois circuitos, um resultante da herança Templária (antiga fortaleza e Paço) e outro da Ordem de Cristo (complexo monástico).
A diretora do Convento de Cristo, Andreia Galvão, sublinhou a “necessidade de intervenção continuada” num monumento com um elevado risco de degradação, dada a “fragilidade” da pedra calcária retirada das pedreiras da região para a sua construção.
Andreia Galvão salientou não existir conhecimento de uma intervenção, no passado, da grandeza e complexidade da que tem estado a decorrer na igreja do convento, mas destacou “experiências anteriores” que permitiram obter informação relevante sobre a camada pétrea e a cobertura orgânica, essencial para agora se “avançar com solidez”.

Visita do Primeiro-Ministro às obras atuais e futuras no Convento de Cristo
A presidente e o vice-presidente de Câmara, Anabela Freitas e Hugo Cristóvão, e o presidente da Assembleia Municipal, Hugo Costa, acompanharam no dia 11 de agosto a visita do primeiro-ministro, do ministro da Cultura e do secretário de estado adjunto às obras do Convento de Cristo e às que agora se preconizam para o Convento e para o Castelo Templário, tal como o mediotejo.net noticiou.
Nas conversas ao longo da visita, oportunidade para o município destacar as intervenções que, também na valorização e preservação do património, tem efetuado por sua iniciativa, destacando-se as da Igreja de São João Batista, Sinagoga e Aqueduto dos Pegões, pedindo que também o Estado dê mais atenção ao Aqueduto, uma vez que este precisa ainda de uma intervenção de fundo.
c/Lusa