Tem apenas 24 anos mas uma vida já cheia de experiências em causas solidárias. A abrantina é voluntária em vários projetos, sempre comprometida com a missão de ajudar, e sonha trabalhar em missões humanitárias além fronteiras. Por cá, concebe ideias que coloca em prática desde muito cedo – para ela, as leis do retorno e da retribuição parecem tão naturais como respirar.
“O importante não é aquilo que se dá, mas o amor com que se dá”. A frase pertence a Madre Teresa de Calcutá mas espelha-se no trabalho de outra Teresa, que integra o grupo daqueles que se dedicam à causa de ajudar o próximo de forma voluntária. A decisão de se entregar à solidariedade surgiu depois da experiência que teve no desenvolvimento de algumas ações de responsabilidade social, através do Corpo Nacional de Escutas.
Este contributo “para deixar o mundo um pouco melhor” surgiu dos “valores que recebeu da mãe” e que desenvolveu no Agrupamento 172 dos escuteiros de Abrantes e também no Interact do Rotary Club de Abrantes. A vontade de se voluntariar na ajuda ao próximo, de assumir um compromisso de longo prazo, é inata. “Só posso estar bem quando todos estiverem bem”, diz ao mediotejo.net, motivada para combater as “desigualdades existentes na nossa comunidade e no mundo em geral”.

Teresa Valente é uma jovem psicóloga com mestrado em Conflito, Governação e Desenvolvimento Internacional, gestora de projetos na Cáritas em Coimbra, nasceu no Porto, por acaso (porque toda a vida viveu em Abrantes, onde os pais, a mãe vinda de Vila Real e o pai de Caldas da Rainha, se conheceram e casaram). Estudou em Inglaterra, fez uma missão no Ghana e acredita que os jovens poderão ter um papel mais interventivo na sociedade se forem criadas as oportunidades.
Por essa razão desenvolve projetos solidários, como o ‘Adota um Avô’, que surgiu durante a pandemia para proporcionar companhia aos idosos retidos em casa, conversando todos os dias através de telemóveis. No espaço de um mês, o projeto solidário tinha já 30 avós adotados em todo o país, 19 dos quais em Abrantes, e teve destaque noticioso em vários meios de comunicação nacionais e internacionais.
A jovem já esteve envolvida áreas de voluntariado muito diversas: da educação à saúde emocional, passando pela recolha de alimentos para o Banco Alimentar. Agora diz que, apesar da desgraça, a covid-19 trouxe “algo positivo” ao revelar “entreajuda entre as pessoas” e mostrando a nossa humanidade nas adversidades.
Desde pequena no Corpo Nacional de Escutas iniciou ações que ajudaram a colmatar as necessidades mais prementes das pessoas mais carenciadas, como as visitas a lares ou no Banco Alimentar Contra a Fome. Na universidade, em Inglaterra, envolveu-se em projetos de integração de emigrantes na comunidade e agarrou a oportunidade de fazer voluntariado internacional.

“Estive três meses no Ghana. Abriu os meus horizontes e comecei a preocupar-me não tanto com temas locais mas mundiais”. É por isso que hoje integra o HeForShe, movimento pela igualdade de género criado pelas Nações Unidas, com o objetivo de encorajar jovens e homens de todo o mundo a tomarem medidas contra a desigualdade de género. A vontade de alcançar a igualdade e incentivar os cidadãos a participar como agentes de mudança contra os estereótipos, é atualmente uma das missões de Teresa Valente que está igualmente ligada ao Secretariado da Pastoral Juvenil da Diocese de Portalegre-Castelo Branco.
“Fiz missões em Alandroal e Estremoz com as irmãs dominicanas. Missões de uma semana em várias valências onde despertou o meu interesse para as comunidades seniores onde comecei a ter outra perspetiva, a preocupar-me, Decidi então criar o projeto ‘Adota um Avô’ e outros projetos.
Do Ghana relata “uma experiência muito enriquecedora” como a qual cresceu muito como pessoa, tornando-se mais resiliente, uma vez confrontada com condições adversas. Com a sua equipa posicionada em Bolga, o seu trabalho passava por “enquadrar” ou seja, “capacitar” por exemplo nas comunidades artesãs. “Criamos um sistema de estágios para jovens criarem o seu próprio emprego. Era muito variado. Queríamos enriquecer a zona e conseguir que os artesãos fossem mais independentes e autónomos no seu trabalho”, conta.

Uma aventura em que Teresa deu o primeiro passo ao optar ir estudar para Inglaterra, onde ficou quatro anos. Na universidade onde estudou chegou a ser diretora de Projetos Sociais, chegando à Nicarágua e a zonas marginalizadas. “Senti que seria o local ideal, queria sair da minha zona de conforto. Uma experiência muito positiva. Quando fui estudar para Inglaterra ainda nem tinha 18 anos, tornei-me muito mais independente apesar das dificuldades, Inglaterra será sempre a minha segunda casa”, diz.
Por terras de Sua Majestade, Teresa Valente sentiu a necessidade de ser “ativa na comunidade” como era em Portugal, o que a levou a juntar-se a um grupo com vários projetos solidários, nomeadamente a ajudar emigrantes. “Senti que era o projeto onde poderia fazer a diferença até pela minha própria experiência. Ensinávamos inglês e ajudávamos na integração através de sessões de empregabilidade”, lembra.
Neste envolvimento com comunidades estrangeiras tomou o gosto pelo mundo e, apesar da licenciatura em psicologia, decidiu apostar num mestrado em Conflito, Governação e Desenvolvimento Internacional. Estavam assim combinados os fatores para solidificar o seu trabalho de voluntariado.
“Não estávamos a dar as coisas às pessoas, estávamos a capacitá-las” sublinha, até porque sabe como poucos o significado do verbo ‘dar’. Teresa é valente! A certa altura, preocupada com o problema dos distúrbios alimentares que afeta uma parte da população jovem, rapou o cabelo para “raise awareness”, que é como quem diz: para despertar consciências, e colaborou na angariação de dinheiro para a causa.

Nesta distribuição de solidariedade Teresa Valente garante que “os jovens estão mais ativos que nunca. Conseguimos ver isso pelos projetos que foram criados durante o confinamento, preocupados com o próximo. Os jovens querem fazer e não sabem como, não têm as ferramentas” nota. Por isso defende que as gerações mais velhas têm um papel determinante no ajudar os jovens a pôr a sua solidariedade em prática. “Nos projetos temos centenas de jovens a juntarem-se a nós!” revela.
Teresa testemunha que a juventude “não está parada e é o agente da mudança”. Para tal considera o voluntariado “essencial” principalmente em contextos complicados. “Não podemos baixar os braços perante as desigualdades que existem, problemas sociais, são imensos, muito vastos”. E o voluntariado é a base porque “os serviços, sejam organizações ou instituições, não têm os meios financeiros para ter staff. Para colmatar as necessidades só com voluntários e a pandemia só veio aumentar as necessidades e as igualdades”.
Também nas crianças, nomeadamente nos Lobitos do Corpo Nacional de Escutas, Teresa encontra motivação e empenho para a ação social, por isso facilmente afirma ter muita esperança nas gerações futuras. Como a maioria dos jovens, Teresa não diaboliza as redes sociais, considera-as uma ferramenta de comunicação apesar das fake news e da desinformação. Na verdade “vieram conectar mais os jovens. Que se preocupam naquilo que fazem procurar uma componente solidária. Têm os valores dentro de si, só não os sabem implementar”, insiste.
Teresa queria participar na ajuda aos infetados pelo novo coronavírus, mas com um pai doente de risco não arriscava sair de casa para ajudar nos lares, por isso surgiu-lhe o projeto ‘Adota um Avô’, com o objetivo de minorar os sentimentos de isolamento e de solidão dos mais idosos em tempo de pandemia, proporcionando companhia a quem está retido em casa, conversando todos os dias através de telemóveis.

Na diversidade das suas ações de voluntariado também a sua “especialidade”, ou seja, o tema da sua tese ‘Radicalização de Cidadãos Portugueses para o Estado Islâmico’ entra na equação, nomeadamente no que diz respeito ao seu trabalho para a ONU, ao criar uma rede de apoio psicossocial para combater a radicalização violenta.
Aliás, o avanço dos populismos políticos que ameaçam as democracias é uma realidade “preocupante” para Teresa, não só como ativista pela igualdade de género mas também “como pessoa que tirou um mestrado em Governação” afirma.
“Preocupa-me imenso o crescimento da extrema-direita em Portugal e todos os populismos no mundo. Lembro-me que, quando estudei estas matérias na universidade, Portugal não era um caso abordado e agora o fenómeno está a crescer. Mas as pessoas não estão caladas. Estão a unir-se e a ir para a rua como na Polónia e na Hungria. Preocupa-me mas sei que existem pessoas a lutar por um mundo mais justo”, declara.
Quanto ao futuro, sonha em trabalhar, no terreno, em missões humanitárias no estrangeiro. “Tive oportunidades de trabalho em Abu Dhabi e no Líbano. Fiquei em Portugal por razões familiares mas no futuro gostava de voltar a sair. Para mim é importante aprender sobre novas culturas e até a desafiar-me. Por cá, caio um bocadinho na rotina e não consigo chegar ao meu potencial máximo”, confessa.
A curto prazo as ambições passam por continuar a criar projetos solidários e de voluntariado na comunidade abrantina mas também na sua diocese, através da Pastoral Juvenil. “Dar oportunidade aos jovens: gostava de poder contribuir para isso na comunidade onde cresci e da qual gosto tanto.”
Além disso, num cenário pós-pandemia pensa criar um programa de voluntariado mais longo, para fomentar uma maior relação entre jovens e idosos. “Infelizmente a solidão na comunidade sénior é mesmo muito grande.”