Com o objetivo de minorar os sentimentos de isolamento e de solidão dos mais idosos em tempo de pandemia, um grupo de jovens de Abrantes implementou a 23 de março o projeto “Adota um Avô”, proporcionando companhia a quem está retido em casa conversando todos os dias através de telemóveis. No espaço de um mês, o projeto solidário já tem 30 avós adotados em todo o país, 19 dos quais em Abrantes, e teve destaque noticioso em vários países de todo o mundo, contou hoje ao mediotejo.net Teresa Valente, mentora do projeto social e solidário.

“Do projeto “Adota um avô”, agora com um mês no terreno, fazemos uma avaliação muito positiva. Pelo perfil generoso dos jovens voluntários – os “netos”- sabíamos que os “avós” iam ficar muito felizes por terem alguém que os acolhe incondicionalmente. De facto, de ambos os lados, ouvimos ecos muito positivos da experiência e percebemos, nos 19 pares de Abrantes, o forte desejo de um primeiro encontro que se fará mal acabe o confinamento atual”, contou, dando conta que o projeto ultrapassou mesmo as fronteiras de Portugal.

Débora Santos é uma das 18 jovens de Abrantes que adotou um avô a quem faz companhia todos os dias. Foto: DR

“Não se esperava uma divulgação tão rápida do projeto fora de Portugal, como aconteceu no Brasil e em Espanha. Foi derivado a estas notícias que Ana Rita Góis e Joana Gerardo entraram em contacto com a Pastoral Juvenil. As jovens finalistas em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, motivadas a fazer algo solidário durante o período de quarentena, ofereceram-se para ajudar”, contou.

“Para além de se tornarem responsáveis locais, em Setúbal e na Benedita, respetivamente, acabaram também por criar e dinamizar as redes sociais do projeto. Setúbal já conta com quatro famílias e Benedita com três, e estamos ainda a tentar começar também no Porto e em Lisboa”, disse Teresa Valente. “No dia 23 de abril estavam constituídos 28 pares e hoje [sábado], dia 25 de abril, já temos 30. Só em Lisboa já temos 25 jovens prontos a começar a adotar avós’, contou.

Joana Gerardo soube do projeto pelas notícias e decidiu ajudar os idosos na zoa da Benedita. Foto: DR

“Com o projeto “Adota um avô”, a cada voluntário, na maioria estudantes, é atribuído um sénior durante este período de quarentena e o jovem faz companhia todos os dias por telemóvel ao avô ‘adotado’, numa ideia solidária que arrancou em Abrantes com meia dúzia de pares adotados e que tem crescido a cada dia que passa.

“O número de “netos” em espera subiu e temos 48 jovens em lista de espera para esta “adoção”. O contacto com os Avós é feito com muito cuidado para que tudo se efetue de forma segura. De facto, os idosos ou pessoas sós sentem, e muito bem, grande desconfiança em falar com estranhos, uma vez que, apesar de existirem pessoas muito boas neste mundo, também há outras muito oportunistas. Por isso, contamos sempre com alguém ou alguma Instituição que seja uma boa referência para os Avós no local, notou Teresa, dando conta que em Setúbal, por exemplo, trabalham em conjunto com a Casa Santa Ana, e na Benedita com uma senhora ligada à Paróquia.

Teresa Valente, mentora e coordenadora do projeto ‘Adota um Avô’. Foto; DR

“Esperamos que esta situação do país passe depressa, mas entretanto apraz-nos referir que é muito reconfortante perceber de que forma uma simples conversa telefónica cheia de carinho faz desabrochar sorrisos e acender a esperança na Avó ou Avô que está do outro lado do telefone”, observou.

Desde sempre ligada aos escuteiros de Abrantes e à Igreja, Teresa, 23 anos, Licenciada em Psicologia, lembra que tudo começou com um desafio lançado numa reunião do Agrupamento 172 do Corpo Nacional de Escuteiros, a que está ligada, tendo pensado e desenvolvido a ideia em projeto no seio da Pastoral Juvenil da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, cujo Secretariado integra.

Ana Rita Góis está a coordenar o projeto ‘Adota um Avô’ em Setúbal. Foto: DR

“Começou aqui [em Abrantes] pela facilidade de encontrar jovens, uma vez que estou envolvida em grupos juvenis na cidade, e de sabermos de alguns idosos que estão sozinhos, tendo em conta que a Irmã Fernanda os conhece do trabalho que faz na comunidade”, notou.

De início, conta, devido à quarentena, os idosos “são primeiramente contactados pela irmã Fernanda por telefone a convidá-los para o projeto, e depois são emparelhados com um jovem”, sendo a reação deles de muita felicidade e contentamento. Ficam muito agradecidos”, refere.

Teresa mantém a sua atividade profissional diária em teletrabalho, a partir de casa, ao mesmo tempo que gere a equipa de voluntários do projeto e se vai inteirando de como estão a decorrer as relações ‘familiares’ entre os novos netos e avós.

“Tem sido muito enriquecedor para todos, sendo que eu também adotei uma avó, que chama Violante. Cada caso é um caso e há situações em que o neto telefona e faz companhia todos os dias, outros em que é três a quatro vezes por semana, depende do estado de espírito de cada avô adotado, outros ainda em que já é o avô a ligar ao neto quando o idoso é mais desinibido e quer falar de algum assunto ou simplesmente conversar”, conta Teresa.

Margarida Farinha é uma das voluntárias de Abrantes que adotou uma avó em tempos de pandemia. Foto: DR

Os jovens interessados em participar podem contactar a organização através da página ‘SDPJuventude e Vocações de Portalegre Castelo Branco’ e os seniores que estejam sozinhos podem também contactar a Pastoral para adotarem um neto, sendo o objetivo de Teresa “alcançar o máximo de seniores possível para saberem que não estão sozinhos nesta altura e que têm alguém com quem conversar”.

A jovem psicóloga tem mais etapas delineadas para este percurso entre novos netos e avós, dando conta que o projeto “vai originar relações de proximidade” que terão continuidade.

“Depois de passar este tempo de confinamento, o jovem e o sénior irão encontrar-se ao vivo para se conhecerem, depois de terem desenvolvido uma amizade na quarentena. O objetivo é organizar um convívio com todos os netos e avós, quando voltar tudo à normalidade”, antecipa.

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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