Anseio por um Ribatejo alfobre de boas matérias-primas, transformadas em bons produtos, por seu turno objecto de qualificada confecção de forma a comida daí resultante permanecer uma eternidade na memória do gosto. Ou seja: para além da morte de quem a apreciou. A eternidade em vida perpetua-se em documentos nos mais variados suportes, sem esquecer a tradição, a qual agrega: quem conta um conto, acrescenta um ponto.
Anseio por casas de comeres (restaurantes, casas de pasto, snack-bares, tabernas, e tal e coisa) onde se degustem pitanças objecto de apurada confecção, bem apresentadas, em louças sem falhas, imaculadas no tocante a limpeza, colocadas em mesas ataviadas adequadamente, servidas por profissionais dotados de formação, atentos e simpáticos sem serem subservientes.
Anseio pela plena e merecida representação das cozinhas ribatejanas – oral, escrita, conventual, burguesa, popular, rural, urbana – no contexto nacional e internacional que ainda não conseguiu, mas urge conseguir pois cada dia que passa é prejuízo.
Anseio pela recuperação das fontes documentais do passado no que tange a práticas culinárias, dietéticas e encerradas no chavão – Gastronomia – as quais estão à mercê de toda a sorte de atropelos, desde a mutilação até ao desaparecimento puro e simples, passando pela distorção mais ou menos grotesca.
Anseio pela concepção de rotas gastronómicas centradas nas existências culinárias deste território numa perspectiva de valimento das sucessivas incorporações ao longo da história, de molde a construirmos um activo económico de primeira grandeza no contexto regional.
Anseio pela conjugação de factores de molde a serem levados a cabo actos e acções no âmbito gastronómico que preservem, potenciem e promovam a Região, contrariando a tendência dos turistas verem e observarem apressadamente comerem e beberem o trivial e costumeiro sucedâneo da cozinha rápida e absorvida em pé.
Anseio pela observância de rigor no atendimento dos clientes, longe da ideia do gato por lebre, da procura do lucro a todo o transe, da inflação dos preços, do incumprimento da palavra dada.
Anseio pelo incremento de programas educacionais tendentes a contribuírem para a formação do gosto das acrianças e adolescentes de forma a serem combatidas a anorexia e a bulimia.
Anseio pela construção de uma carta dietética a servir de guião às ementas das refeições destinadas aos debilitados e idosos a viverem ou frequentadores de lares e casas de repouso.
Anseio pela consolidação da gastronomia enquanto património segundo a definição do Manifesto da UNESCO, levando-se a efeito os trabalhos necessários a tal propósito.
Anseio pelo reconhecimento das dietas mais marcantes do modelo alimentar português tal como a dieta mediterrânica logrou em Itália, Espanha e Grécia, pois se a mesma é tão referenciada e elogiada em Portugal apesar de o Mar nostrum não banhar as nossas costas, o Atlântico e as montanhas portuguesas também regurgitam de matérias-primas capazes de proporcionarem modelos alimentares de igual ou melhor quilate dos da referida região.
São inúmeros e grandes os meus anseios para o novo Ano, é verdade, mas sendo nós pequenos e periféricos, pelo menos no pedir não posso ser acusado de pobre. Ao menos isso!