Galopim de Carvalho em Torres Novas para assinalar o Dia Mundial da Terra com conferência sobre “Dinossáurios e o Monumento Natural da Pedreira do Galinha”. Fotografia: mediotejo.net

“Um defeito que eu tenho é que sou como aqueles cães que não largam. Eu não largo”, afiançou Galopim de Carvalho ao mediotejo.net, em Torres Novas, onde participou, na sexta-feira, 21 de abril, numa conferência alusiva ao Dia Mundial da Terra, sobre o tema “Dinossáurios e o Monumento Natural da Pedreira do Galinha”, que decorreu na Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes.

Galopim de Carvalho dirigiu-se aos presentes (na sua maioria jovens alunos das escolas do concelho torrejano) com o entusiasmo que o caracteriza, preparado para dar uma verdadeira aula sobre os misteriosos répteis desaparecidos há mais de 66 milhões de anos, que deixaram rasto e descendência no nosso planeta.

“Sabiam que eles deixaram cá descendentes? Não se esqueçam disso sempre que comerem peru no Natal ou galinha na cantina da escola. Vamos escavar e estudar sobre dinossáurios?”, desafiou Galopim de Carvalho, dando início a uma conversa bem disposta, que depressa chegou ao Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios, localizado na Serra de Aire.

“É um luxo para Torres Novas ter estas pegadas cá dentro. Um esplendor imenso. Não há parte nenhuma no mundo com uma jazida tão grande quanto esta. É qualquer coisa de espetacular. Eu sou um apaixonado por isto. Portanto, peço desculpa por algum exagero fruto do entusiasmo”, avançou.

GALERIA

Recorde-se que Galopim de Carvalho foi o grande responsável pela classificação de cinco monumentos naturais de pegadas de dinossáurios em Portugal na década de 90, entre os quais o da antiga Pedreira do Galinha. As pegadas foram descobertas em 1994 pela Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia e classificadas como Monumento Natural em 1996, abrindo ao público um ano depois.

Quase 30 anos após a “grande descoberta”, Galopim de Carvalho lamenta a falta de investimento no maior trilho de dinossáurios do mundo, fruto da “falta de vontade política”, e aponta em direção ao Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF), por “ter feito muito pouco pela proteção do Monumento”, que “esteve muitos anos ao abandono e por isso chegou a um estado de degradação indecente”.

“É um luxo para Torres Novas ter estas pegadas cá dentro. Um esplendor imenso. Não há parte nenhuma no mundo com uma jazida tão grande quanto esta.

Galopim de Carvalho

Em 2022 foram efetuados trabalhos de conservação e preservação da laje, com a construção de um passadiço na área da jazida. Foi também desenvolvido o Centro de Interpretação do Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáurios, projeto museográfico com recursos audiovisuais e tecnológicos com um enquadramento científico feito por técnicos do ICNF em cooperação com Galopim de Carvalho. No entanto, o especialista mostra-se “desiludido” com a intervenção que “deixou as pegadas brancas e sem relevo” e com a criação de um lago, “mais parecido com o charco de um jardim” e “pouco jurássico”, que a seu ver, deveria ter sido naturalizado.

Por outro lado, Galopim de Carvalho continua a não compreender a falta de visão dos responsáveis políticos para o valor e a grandiosidade deste Monumento Natural, com uma localização estratégica junto a Fátima, que por via de um investimento compatível, poderia atrair ao local milhares de visitantes. Por isso, insiste e não desiste da sua revalorização.

Em janeiro deste ano, Galopim de Carvalho entregou na Assembleia da República uma petição que encabeçou, em que exige “o tratamento que se impõe” no Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios.

“A raridade e o significado geológico e paleontológico desta jazida do Jurássico, com cerca 175 milhões de anos, estão, de há muito, internacionalmente reconhecidos. O seu valor monumental aumenta pelo facto de conter cerca de 400 pegadas de grandes saurópodes, muitas delas bem conservadas e organizadas em 20 trilhos, tendo dois deles mais de 140m de comprimento. Acresce a estas excepcionais características, a grandiosidade e espectacularidade da jazida, no topo de uma única camada de calcário com 62500m2 de superfície. Todo este conjunto dispõe de uma extensa área envolvente, susceptível de comportar diversos equipamentos complementares. Na posse de um património com tais potencialidades, Portugal pode e deve dar-lhe o tratamento que se impõe.

Assim, solicita-se a quem de direito:
(1) numa primeira fase, que mande fazer (por entidade competente) um projecto, envolvendo, em especial, as componentes científica, pedagógica, lúdica e turística de superior qualidade, a nível internacional, e
(2), numa segunda fase, a sua concretização, na certeza da sua rendibilidade económica, potenciada pela proximidade (10km) ao Santuário de Fátima.”

(…)

Petição 96/XV/1
Subscritor: António Marcos Galopim de Carvalho

“Juntei mais de cinco mil assinaturas. [A petição] foi aceite pela Assembleia da República e eu já fui chamado para uma reunião com uma comissão especializada. Houve uma boa aceitação. Está à espera que o relator dessa comissão leve o assunto a plenário. Tenho esperança que seja desta. Já falei com o Ministro do Ambiente [Duarte Cordeiro] e sei que está muito interessado na resolução. Falei com o Ministra da Ciência, da Tecnologia e Ensino Superior [Elvira Fortunato], que também ficou muito motivada. Estamos no bom caminho”, afirmou Galopim de Carvalho ao mediotejo.net.

Galopim de Carvalho Foto arquivo: mediotejo.net

Universidade de Lisboa disponível para colaborar com ADSAICA em “projeto grandioso”

Questionado por um dos alunos presentes na conferência, sobre eventuais ideias que pudesse ter para acelerar a dinamização do projeto que defende, Galopim de Carvalho deu a conhecer uma parceria que existe entre a Universidade de Lisboa e a ADSAICA – Associação de Desenvolvimento das Serras de Aire e Candeeiros, apadrinhada pelo próprio e pelo Ministério do Ambiente, com vista à elaboração de um projeto de revalorização do Monumento.

“Que se mande fazer por quem saiba, um projeto digno daquele Monumento. É esta a minha proposta e está a resultar bem. A Universidade de Lisboa, por designação do Reitor, [depois de uma reunião com o Ministro do Ambiente], já colocou os seus recursos à disposição da ADSAICA, para colaborar no projeto que a associação está a conceber. Portanto, estamos a fazer uma coisa que envolve uma grandiosidade compatível com a grandiosidade do Monumento”, revelou Galopim de Carvalho.

“Depois, é conseguir que quem tem dinheiro execute o projeto que está a ser elaborado. Porque não vale a pena fazer um grande projeto se no fim não houver financiamento. E eu estou com medo que o Governo caia, porque estou muito esperançado que o Ministro do Ambiente cumpra o que me disse: ‘Nós vamos ter dinheiro para fazer isso. Façam o projeto, que nós vamos ter o dinheiro’. Estamos neste pé. E eu estou a pedir aos santinhos para que o Governo não caia, que o projeto fique concluído em breve e que se ande com ele para a frente”, confidenciou.

“Com a minha idade, [91 anos], já não o vou ver. Mas já fico muito feliz se souber que o projeto está a andar e que vai concretizar-se. A obra fica para vocês, meninos. E para os adultos que aqui estão, terem também o prazer de ver acontecer a coisa mais importante em termos de geomonumentos feita no mundo”, concluiu Galopim de Carvalho, que encerrou a sessão debaixo de uma enorme chuva de aplausos.

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Natural de Torres Novas, licenciada em jornalismo, apaixonada pelas palavras e pela escrita, encontrou na profissão que abraçou mais do que um ofício, uma forma de estar na vida, um estado de espírito e uma missão. Gosta de ouvir e de contar histórias e cumpre-se sempre que as linhas que escreve contribuem para dar voz a quem não a tem. Por natureza, gosta de fazer perguntas e de questionar certezas absolutas. Quanto ao projeto mais importante da sua vida, não tem dúvidas, são os dois filhos, a quem espera deixar como legado os valores da verdade, da justiça e da liberdade.

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