Foto de arquivo. Imagem: AHBVE

A 6 de janeiro de 1949 nascia a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento. 73 anos depois e numa missão diária e sem horas para dar resposta às necessidades cada vez mais exigentes da comunidade, hoje a AHBVE mantém-se firme e com a perspetiva de um futuro promissor, alicerçado nos valores da cooperação, inclusão social e solidariedade.

Com uma duplicação da resposta de socorro hospitalar em tempo de pandemia, a capacitação do corpo operacional é uma das bandeiras da atual direção, que tem como objetivo que todos os funcionários tenham, pelo menos, o 12.º ano de escolaridade.

Atualmente com 27 funcionários e perto de 4000 sócios, é sob uma lógica de maior abertura e envolvimento com a população, instituições e empresas, que o desenvolvimento de diversas iniciativas e parcerias tem sido uma realidade constante, aliada à consolidação de uma nova forma de gestão financeira, menos dependente de subsídios.

Com o pensamento de que a mão deve estender-se cada vez mais para dar e não somente para receber, Carlos Amaro assumiu a presidência da direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento em dezembro de 2020 em cenário de pandemia. Um contexto que ainda hoje se mantém e que mais um ano limita as celebrações do 73.º aniversário da AHBVE, que acontecem este sábado, 15 de janeiro, com o momento simbólico do içar da bandeira e uma romagem ao cemitério municipal.  

Do debate pela eficácia de toda a estrutura dos bombeiros ao trabalho pela diminuição dos custos operacionais, aliado a uma melhoria da eficiência energética e da mobilidade elétrica, e com o anseio de uma maior articulação entre as várias associações de bombeiros, com vista a uma melhor rentabilização dos meios, o responsável pela AHBVE fala em entrevista ao mediotejo.net sobre o hoje e o amanhã desta associação que, a celebrar mais um ano de vida, continua com a mesma matriz humanitária e com uma missão prioritária: servir os outros.

Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento. Foto: mediotejo.net

MEDIOTEJO.NET: A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento (AHBVE) assinala este mês o 73.º aniversário, o segundo em contexto de pandemia. Qual é a importância de assinalar mais um ano de vida desta instituição?

CARLOS AMARO: Em primeiro lugar, para nós enquanto direção é um enorme orgulho estar à frente dos destinos de uma instituição tão nobre como os bombeiros. Temos de reconhecer a humildade de estar aqui para servir a instituição e servir a nossa comunidade. Celebrarmos é obviamente importante porque a capacitação desta associação e mais um ano que passa com resultados positivos é resultado do esforço dos operacionais, da direção, um esforço meritório de todos e que tem levado a que os objetivos se tenham cumprido. É mais um ano de maturidade e em que superámos as dificuldades inerentes às estas associações. É sempre bom comemorar, infelizmente, de uma forma diferente (a que já nos habituámos) mas que esperamos que seja o último ano que temos estas restrições e que no próximo ano já possamos fazer um aniversário digno desta instituição.

Foi eleito presidente da direção da AHBVE em dezembro de 2020, já passou a marca do primeiro ano à frente dos destinos da instituição. Qual tem sido ao longo deste período o maior desafio com o qual se tem deparado (não obstante o contexto pandémico)?

Os desafios são muitos e não são fáceis, porque temos muitas áreas que ter em conta – desde os recursos humanos, as instalações, a capacitação dos nossos profissionais para prestarem melhor serviço, a segurança dos nossos profissionais, porque são eles que também estão na linha da frente do socorro. Nós temos apresentado diversas iniciativas e, como direção, temos de ter a preocupação financeira de tornar a nossa associação com recursos, não estando dependente de subsídios mas também alargar o nosso âmbito de financiamento, ligando-nos mais à comunidade, às empresas, abrindo os bombeiros a novos desafios.

E o caminho para não se ser dependente de subsídios implica um modelo de gestão financeira diferenciador do praticado pelo comum das associações deste género?

Sim, sim. Esta é uma associação que tem muitos ordenados para pagar e nós sentimos o peso dessa responsabilidade. Não só os ordenados mas também o constante investimento que temos de fazer em várias áreas. E estas associações já não podem ser vistas como antigamente os clubes de futebol das aldeias, digamos assim, ou até mesmo instituições que serviam de degrau para a ascensão dos seus dirigentes.

Nós temo-nos debatido pela eficiência e eficácia de toda esta estrutura, não só na diminuição dos custos operacionais – este tem sido um ponto muito importante e que tem sido conseguido, desde custos com a energia, com combustível, seguros, equipamentos, o estarmos associados a uma central de compras que é inovador em termos nacionais – mas também num modelo de gestão mais empresarial, ou seja, ter cuidados de gestão que normalmente não estão associados a estas entidades. Eu penso que isto tem sido conseguido, mas nunca deixando para trás aquilo que é a nossa matriz humanitária. Portanto, embora tenhamos uma gestão rígida no modelo de gestão, não podemos nunca deixar de melhorar e manter aquilo que a nossa designação diz – associação humanitária. Temos de estar sempre prontos para servir os outros.

“OS BOMBEIROS não devem estar SEMPRE de mão estendida à espera que os outros deem. Nós devemos ser Os primeirOs a dar.”

E têm conseguido dar a resposta precisa às necessidades da comunidade?

Até agora, em termos deste enquadramento pandémico, nós temos conseguido responder àquilo que são as necessidades, inclusive, conseguimos praticamente duplicar a capacidade de prestar socorro à população – fundamentalmente, socorro hospitalar. Neste momento, também prestamos uma grande ajuda aos concelhos vizinhos.

Também cedemos as instalações para fazer testes à Covid-19, através da colaboração com uma entidade, e adequámos as nossas instalações. Até agora, temos conseguido corresponder e espero manter esta capacidade operacional, creio que vamos conseguir manter a nossa capacidade operativa a 100% para responder a alguma eventualidade mais grave que possa haver. Estamos plenamente capacitados, fazemos testes regulares aos nossos funcionários, para também darmos a segurança a quem prestamos o serviço, temos os EPI [equipamentos de proteção individual] necessários, temos feito higienização diária das viaturas, das instalações, e temos um quadro operacional que tem ido muito além daquilo que é o seu mero horário de trabalho. São pessoas permanentemente disponíveis, praticamente todo o corpo operacional tem excedido aquilo que lhes é exigível, têm feito um trabalho extraordinário.

Carlos Amaro foi eleito presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento em dezembro de 2020. Imagem: mediotejo.net

Precisamente a aposta na formação dos operacionais tem sido uma das bandeiras do seu mandato…

Sim, um dos nossos objetivos é que todos os nossos funcionários e todo o nosso corpo operacional tenham, pelo menos, o 12.º ano. Temos uma percentagem muito grande de bombeiros que estão neste momento a acabar o seu currículo para que possam ter o 12.º ano. Também colocámos a possibilidade a todos aqueles que entendam de tirar a carta de pesados, o que nos vai permitir também ter mais meios e recursos para afetar às viaturas que temos. Temos também membros a tirar o TAS [curso de Tripulante de Ambulância de Socorro]. Embora financeiramente não seja fácil comportar esse nível de investimento, penso que é o melhor que podemos dar à comunidade, é ter a certeza da competência de cada um dos elementos, isso é essencial.

“A nossa aposta é formar todos os nossos operacionais com o nível mais elevado para que, quando estiver presente um elemento da corporação do Entroncamento, a comunidade saiba que aquele elemento tem as competências necessárias para enfrentar qualquer desafio que se lhe coloque à frente, nomeadamente na área hospitalar.”
 

Aliada à formação, estão os equipamentos. A aquisição de veículos mais práticos e que melhorem a prestação do socorro tem também sido uma prioridade concretizada?

Aqui temos de ter alguma racionalidade. Nós investimos em viaturas para o transporte de doentes, são viaturas cujos custos operacionais são muito mais reduzidos do que aqueles que normalmente as corporações usam e que permitem uma outra qualidade, segurança e outro conforto a quem transportamos. Com o apoio da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia, conseguimos adquirir duas viaturas. Adquirimos também uma viatura – essa com fundos próprios – moderna, bem equipada e fundamentalmente adequada àquilo que são as nossas necessidades em termos de combate a incêndios urbanos.

Veículo Urbano de Combate a Incêndios adquirido pela associação em agosto de 2021. Imagem: AHBVE

Muitas associações vão-se equipando de um parque de viaturas extenso e muitas vezes não é adequado àquilo que são as suas verdadeiras necessidades. E o que nós pretendemos é adequar o nosso parque àquilo que são as nossas necessidades. E deixe-me aqui fazer um lamento: não tem havido grande articulação entre as várias associações, porque as necessidades são diferentes de concelho para concelho. Poderia haver aqui uma gestão correta dos meios afetos e, infelizmente, essa gestão não há. Cada associação apenas olha para si própria e não se consegue que haja aqui um apoio. (…) Em termos da CIMT [Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo] pode ser efetivamente uma forma de gerirmos os meios de forma mais eficiente e eficaz. É um desafio que eu lanço. Nós fomos das primeiras associações a associar-nos a uma central de compras da CIMT. Neste momento, todo o economato da nossa associação passa pela central de compras da CIMT, conseguimos ter uma poupança de 40% em média, relativamente ao ano passado.

“Não é normal: como é que em termos regionais ou nacionais não existe uma central de compras adequada para aquilo que são as necessidades das corporações? Eu comprar 10 equipamentos de proteção individual é diferente do que haver um acordo-quadro a nível nacional para equipamentos, porque temos de ter uma gestão de quantidade. Infelizmente, essa gestão não tem sido feita.”

Nos últimos meses tem havido um incremento do número de sócios da AHBVE. Esse aumento acha que se deve a quê?

Eu acho que se deve a uma abertura da nossa associação à comunidade. Nós temos feito uma série de iniciativas com vários agentes da nossa comunidade, temos feito parcerias e acordos com outras empresas, no fundo deixámos de estar fechados sobre nós mesmos e abrimo-nos à comunidade. Recebemos alunos nas atividades escolares, fazemos formações aos alunos, colaboramos com várias instituições, e temos tido sempre uma atitude muito proativa. Deixámos de estar na nossa zona de conforto e temos o desafio constante de nos envolvermos com a comunidade.

Esse envolvimento com a comunidade tem também tido expressão a nível da inclusão social e de parcerias com instituições nessa área…

Há um caso de sucesso que é a integração de um jovem especial nos quadros da nossa corporação. Veio através do centro de emprego com contrato [para pessoas com deficiência] e neste momento está completamente integrado nas nossas equipas, tem funções de limpeza das instalações. Tínhamos custos com a limpeza, através de uma empresa que nos prestava esse serviço, deixámos de ter empresa e é um jovem que vai ficar inserido no mercado de trabalho, vai ter o seu salário e vai-se sentir realizado naquilo que faz. Agradece todos os dias a oportunidade que lhe deram de estar enquadrado na equipa e todo o corpo operacional o acarinhou e trata-o com um respeito e carinho especial. Tem feito um trabalho excecional, dedicado, empenhado e é nossa intenção integrá-lo no quadro como efetivo.

ÁUDIO | Presidente da Direção da AHBVE fala sobre envolvimento em projetos de inclusão social (com o CERE) e solidariedade:

 

Hoje, aos seus olhos, a população entroncamentense reconhece a importância e o valor dos bombeiros?

Eu acho que a nossa comunidade sempre reconheceu a importância dos bombeiros. As associações muitas vezes é que se colocam numa posição de obrigar a comunidade a reconhecer o trabalho deles e acho que não deve ser assim. Nós estamos aqui para servir. O nosso espírito de missão deve ser esse: servir os outros.

É óbvio que temos que ter aqui cuidados na gestão mas esse desafio é constante, o de incutir nos nossos operacionais que a sua missão é servir os outros. Nós sabemos que a comunidade hoje em dia é muito exigente e as críticas a qualquer atividade são cada vez maiores, mas sinto neste momento uma atitude muito positiva perante o nosso corpo de bombeiros e acho que a nossa comunidade tem sabido responder bem àquilo que são os nossos desafios – permanentemente temos desafiado a nossa comunidade e tem sido muito interessante.

Para terminar, questiono-lhe sobre que futuro e que investimentos de relevo é que se perspetivam para o futuro próximo da AHBVE?

Já temos programado investimentos estruturantes, sem nunca descurar a certeza das nossas contas. Pretendemos concorrer a fundos comunitários, fundamentalmente naquilo que é a eficiência energética e a mobilidade elétrica.

É uma grande aposta para este ano, a aquisição de viaturas elétricas para transporte de doentes. Queremos alterar a nossa frota de viaturas de transporte de doentes para mobilidade elétrica, o que nos vai permitir reduzir em muito os custos operacionais e dar outro tipo de conforto às pessoas que transportamos. Queremos também estreitar laços com o INEM, e para isso já temos reuniões agendadas. No fundo, pretendemos protocolar novos serviços com o INEM. E, além de novos equipamentos de proteção individual, continuar uma gestão cuidada e rigorosa, o que queremos também é adequar o nosso parque de viaturas àquilo que são as nossas verdadeiras necessidades – e aqui precisamos sempre do apoio das várias instituições.

Este é um trabalho contínuo de melhoria que nunca estará acabado. Neste momento, vamos também apostar no equipamento informático, com a renovação da nossa capacidade de telecomunicações. São investimentos constantes, sempre numa perspetiva de melhorar a eficácia e eficiência, se possível diminuindo os custos operacionais e nunca onerando. E, paulatinamente, gaveta por gaveta, temos conseguido.

Abrantina com uma costela maçaense, rumou a Lisboa para se formar em Jornalismo. Foi aí que descobriu a rádio e a magia de contar histórias ao ouvido. Acredita que com mais compreensão, abraços e chocolate o mundo seria um lugar mais feliz.

Entre na conversa

1 Comentário

  1. Permitam-me uma emenda. A Associação foi criada em 6 de janeiro de 1949.
    Muito obrigado.
    Vitor Bertelo
    Cmdt. Q.H. dos Bombeiros Voluntários do Entroncamento

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *