Embrulho de carne em couve. Foto: DR

É o mês de Dezembro, período de muitos e muitos embrulhos, alguns até dispensáveis. No entanto, não escrevo relativamente aos embrulhos de presentes sinceros e hipócritas da quadra natalícia, refiro-me ao acto de embrulhar peças (carnes, peixes grandes, cogumelos gigantes) a fim de a sua cozedura ficar mais apurada.

Recordo (saudades para a Dona Delfina) o modo desenvolto, bem calculado como ela, a saudosa avó materna, agarrava as tenazes de forma desenvolta a abrir o borralho de lenha seca de carvalho de modo a folha de couve em que embrulhava perdizes, pombos, salpicões e azedos (enchido de pão e pitanças de porco acabado de morrer na sua matança agregadora da parentela, mesmo da mais distante, para satisfazermos a gulosa vontade de salivar ansiosamente os recheios de tais embrulhos). Pois embrulhar culinariamente conforme as boas regras da escolha do material de embrulho, da temperatura branda, lenta e uniforme do seu conteúdo.

As Mestras cozinheiras sabem muito bem que o envolvimento das peças de carne ou dos peixes varia conforme a sua natureza, os couratos de porco, ou um pano para peças muito grandes, um caldo destinado a apurar a cozedura do cherne, robalo, dourada, etc.

Também a composição dos patés se coloca em formas para os embrulhar no forno.

Bem sei, proliferam elementos constitutivos de materiais de embrulho, prefiro relembrar lenha, cinzas, borralho, folhas de couve e similares pois Dezembro é… oh tempo volta para trás, cantava o falecido António Mourão. Lembrem-se…

Armando Fernandes

Armando Fernandes é um gastrónomo dedicado, estudioso das raízes culturais do que chega à nossa mesa. Já publicou vários livros sobre o tema e o seu "À Mesa em Mação", editado em 2014, ganhou o Prémio Internacional de Literatura Gastronómica ("Prix de la Littérature Gastronomique"), atribuído em Paris.
Escreve no mediotejo.net aos domingos

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