Em matéria de dicionários quase se pode afirmar que existem para todos os gostos e palpites. O busílis está no – quase – é que uns são mais, outros são menos. Os dicionaristas afirmam completarem-se uns aos outros, mas volta a surgir o quase, isto porque há dicionários de consulta obrigatória, como há dicionários dispensáveis.

Trabalho recorrendo frequentemente aos dicionários e aos vocabulários, no entanto, volta que não volta surge-me um termo o qual não está registado nos meus excelentes amigos e vejo-me obrigado a procurar a informação recorrendo a pesquisas longas e às vezes inglórias. Mas não desisto.

Ora, este dicionário cuja tema são as artes culinárias de expressão portuguesa não vem preencher lacuna nenhuma, pura e simplesmente é o primeiro editado em Portugal, sem embargo de os existentes de autores e publicados no Brasil, mas mais de índole gastronómica e muito marcados pelo Larousse Gastronomique.

Bem sei, há anos foi editado um dicionário de gastronomia de uma autora portuguesa. Na altura, critiquei-o azedamente e disso dei conta à Senhora responsável pela edição, que não gostou de ouvir a minha opinião. Paciência!

Este Dicionário é um conjunto de 3500 entradas relativas à ciência de preparação das matérias-primas alimentares, posteriormente passadas à condição de produtos e…estes a comida mercê da imaginação, talento, trabalho e experimentação de mulheres e homens a quem coube e cabe confeccionar, fazer, preparar, apresentar a dita cuja comida.

O acto cultural (de res non naturalis) de criar comida é explicado nesta obra da autoria de Virgílio Nogueiro Gomes experiente gourmet, estudioso da Nona Arte – Gastronomia, no dizer de Albino Forjaz Sampaio, empenhado defensor do património imaterial e material de tudo quanto a ele diz respeito e adjacências. Sublinhe-se que o autor tem sido e é docente neste segmento do saber, antes exerceu funções de elevado grau no nicho da hotelaria e restauração, bem escoradas no travejamento científico e técnico que recebeu nas Escolas onde estudou.

DICIONARIOSe estamos ante uma obra perfeita? Não há obras acabadas no referente a dicionários, mas é uma obra merecedora de figurar na casa de todos quantos se dedicam a resolver dúvidas e somar ensinamentos no que tange às interrogações culinárias formuladas em tempo pelo formidável contista e fundibilário Fialho de Almeida. O autor de Os Gatos arranhava e deixou-nos, pelo menos, duas gozadas receitas da sua autoria.

O livro foi editado pela Mercator.

Armando Fernandes é um gastrónomo dedicado, estudioso das raízes culturais do que chega à nossa mesa. Já publicou vários livros sobre o tema e o seu "À Mesa em Mação", editado em 2014, ganhou o Prémio Internacional de Literatura Gastronómica ("Prix de la Littérature Gastronomique"), atribuído em Paris.
Escreve no mediotejo.net aos domingos

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *