Cartuchos de Amêndoa de Cernache do Bonjardim. Foto: DR

Este termo congrega o pensar criativo dos pasteleiros que ao crismarem de delícias, essas mesmas criações procuram suscitar o interesse dos consumidores adoçando-lhe a boca de tal forma que o cérebro registe a intensidade do prazer lhe fique na memória para sempre e, por isso, fidelize tal gosto de maneira a nunca o esquecer.

As delícias estendem-se para além das fantasias dos confeiteiros, doceiros e os citados pasteleiros, todos os sentidos proporcionam eflúvios de prazer, não por acaso o livro clássico do erotismo ‘O Jardim das Delícias’, do Xeque Nefazeui, continua a ser lido em todo o Mundo por ser delicadamente delicioso, ao contrário de outros mais crus e explícitos.

Uma coisa é certa: as delícias não se confinam à pastelaria, confeitos e doces de colher e a imaginação não tem limites. Pensemos na nossa doçaria conventual cujas representações foram baptizadas de modo a ninguém as apreciar sem sorrir ou gargalhar aludindo aos desejos confessados com ovos, farinha, açúcar, mel, frutas cristalizadas, frutas verdes, secas e frutos secos.

Por seu turno, no tocante à cozinha burguesa, também encontramos vocábulos de teor sexual, enquanto a cozinha popular continua a ser vicentina e parente de Bocage, o qual tem um irmão advogado a exercer em Abrantes. Não sabem? Façam o favor de se informarem!

Armando Fernandes é um gastrónomo dedicado, estudioso das raízes culturais do que chega à nossa mesa. Já publicou vários livros sobre o tema e o seu "À Mesa em Mação", editado em 2014, ganhou o Prémio Internacional de Literatura Gastronómica ("Prix de la Littérature Gastronomique"), atribuído em Paris.
Escreve no mediotejo.net aos domingos

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