Os barcos que integram o IV Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo deixaram o Rossio ao Sul do Tejo na manhã de 2 de junho, por terra, entrando novamente nas águas no cais de Rio de Moinhos para cumprir a terceira etapa deste evento que leva a bordo Carmona Rodrigues, ex-ministro das Obras Públicas e ex-presidente da Câmara de Lisboa.
Saindo do cais de Rio de Moinhos já passava das 10h30 da manhã, os barcos do IV Cruzeiro Religioso rumaram ao Tramagal para depois voltarem novamente ao Cais de Rio de Moinhos, onde chegaram cerca de 40 minutos depois do previsto e foram recebidos por mais de meia centena de populares que quiseram ver de perto a imagem peregrina de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo.
A paragem junto às margens do Tejo em Rio de Moinhos, que aconteceu pelas 11h40, foi acompanhada por momentos de cânticos e de orações pelos populares presentes, que também ofereceram flores a Nossa Senhora.
Esta imagem peregrina, segundo explicou ao médiotejo.net José Gaspar, membro da organização do Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo, passa o ano na capela da praia da Vieira, na freguesia de Vieira de Leiria, local onde nasceu a cultura avieira, com a ida dos pescadores para navegar nos diversos rios portugueses, como o Tejo.
“A Praia da Vieira é onde a imagem regressa depois do Cruzeiro, na capela que lá está, que é a única que existe de madeira. É o sítio de origem dos pescadores que há cerca de 100 anos se deslocaram para as margens do Tejo, é lá que vamos buscar a imagem todos os anos, dando ideia também do percurso dos pescadores quando vinham para o Tejo. Este cruzeiro também simboliza este sacrifício, esta força, esta vontade de querer navegar e usufruir do Tejo, que é de nós todos”, salienta José Gaspar.

Ao longo de cerca de 200 quilómetros, o IV Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo, que se iniciou no passado sábado, dia 28 de maio, em Vila Velha de Ródão, tem 43 paragens, em 12 etapas, envolvendo 37 paróquias, 31 freguesias e 20 concelhos ribeirinhos.
Esta jornada irá terminar no dia 18 de junho, em São Julião da Barra, Oeiras, onde também termina o rio Tejo.
A bordo segue também uma figura mediática: António Carmona Rodrigues, ex-ministro das Obras Públicas (2002) e ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa (2004 a 2007). Está a acompanhar todo o Cruzeiro do Tejo, a bordo da bateira avieira que transporta a imagem peregrina de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, e irá realizar as 12 etapas, que culminam em Oeiras.
Ao mediotejo.net Carmona Rodrigues explicou que o motivo da sua presença neste Cruzeiro Religioso se deve à elaboração de um livro sobre o rio Tejo, que partiu de um desafio lançado pelos CTT.
No cais de Rio de Moinhos, Carmona Rodrigues referiu: “Descer o rio era um sonho muito antigo que eu tinha e esta foi uma oportunidade que me foi apresentada e que eu não pude deixar de abraçar. Por isso reservei estes dias todos para fazer este Cruzeiro.”

Nesta experiência que ainda só leva três etapas, Carmona Rodrigues destaca que “além de conhecer muito em pormenor todo o ambiente à volta do rio e os problemas que hoje o rio tem, tem sido comovedor a aproximação das populações ribeirinhas ao rio Tejo, às memórias, àquilo que o Tejo foi noutro tempo, àquilo que as pessoas desejavam que voltasse a ser, com mais peixe, com menos poluição, com mais água, e uma certa devoção das povoações ribeirinhas relativamente à importância que é esta artéria principal que promove a riqueza e desenvolvimento desta região à volta do rio e isso tem sido muito interessante. Pessoas que, de alguma forma, até já estavam afastadas e alheadas do rio e este Cruzeiro tem vindo a criar essa aproximação. Isso tem sido o aspeto mais forte até agora”.
Do cais de Rio de Moinhos, a imagem peregrina partiu para outras paragens, durante a tarde de quinta-feira, 2 de junho: Constância, Praia do Ribatejo, Arripiado, Tancos e Vila Nova da Barquinha, onde terminou a 3ª etapa.
Este ano, o Cruzeiro do Tejo introduziu a “linha do comboio” como meio complementar e auxiliar no transporte de ligação, de todo o percurso de e para Lisboa, de peregrinos até aos locais de paragem do Cruzeiro.
“Toda esta oferta, com a mais-valia do comboio, que há 70 anos foi um entrave ao desenvolvimento do Tejo, hoje pode ser aproveitado como uma vantagem para o peregrino vir de Lisboa, Vila Franca ou Santarém e entrar em Vila Velha de Ródão, alojando-se, ficando, aproveitando a gastronomia e as paisagens e depois entrar no Cruzeiro e sair onde deixou o carro. Este é um dos grandes sonhos e acho que vamos conseguir”, sublinha José Gaspar, membro da organização do Cruzeiro do Tejo e coordenador da equipa de Terra.
José Gaspar desvenda um pouco daquilo que será o Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo do próximo ano: “O nosso sonho, na vertente cultural, é convidar um grupo de folclore, por exemplo, do Escaroupim, para dançar em Vila Velha de Rodão, um grupo de cantares de Vila Velha de Ródão para atuar em Constância, e fazer esta mistura cultural ao longo do Tejo para vermos a riqueza que existe na parte cultural”.

Outro sonho é o que tentaram implantar este ano e não foi possível: “Criar o I Cruzeiro Ibérico do Tejo, em que Talavera de la Reina (município de Espanha na província de Toledo) se mostrou muito interessado e fez todos os possíveis para se concretizar, mas devido a algumas dificuldades na parte portuguesa do Tejo não foi possível”, refere.
Com um orçamento de cerca de 7 mil euros, o voluntariado é a base de todo este Cruzeiro do Tejo: “Se não fossem os voluntários, isto era impossível de fazer. É tudo por carolice, “doidos”, como alguns dizem, porque os gastos que fazemos com as nossas viaturas são tremendos… este ano são 12 etapas e é muito difícil gerir tudo isto”, salienta José Gaspar.
O Cruzeiro do Tejo tem como organizadores principais quatro associações: APCA – Associação para a Promoção da Cultura Avieira; AIDIA – Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça; Envolve – Associação para o Desenvolvimento Local – Rossio ao Sul do Tejo e ACAPSI – Associação Cultural dos Avieiros da Póvoa de Santa Iria, além da Marinha do Tejo. Conta com o apoio das autarquias e da EDP, que facilita a passagem dos barcos e garante que há água suficiente no Tejo para haver navegabilidade, além do apoio do Exército e dos Fuzileiros da Marinha, que auxiliam na passagem dos barcos, que é “um processo difícil”, nas palavras de José Gaspar.
A logística do Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo está organizado em equipas: a equipa Terra, que dá apoio por estrada, garantindo as necessidades dos peregrinos e da equipa de barcos; a equipa de Barcos, composta por cinco elementos e que tem Armindo Leite como coordenador; e as equipas locais, compostas por elementos de cada comunidade ribeirinha, além da equipa de divulgação do Cruzeiro e a coordenação geral do evento, que está a cargo de João Serrano.
Nos sítios onde vai parando, a imagem peregrina de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo umas vezes tem eucarística, noutros locais há só momentos de oração, como aconteceu esta manhã no Tramagal e em Rio de Moinhos, e, em determinadas pernoitas, as capelas ficam abertas para que as pessoas possam fazer as suas orações.

“Esta imagem tem feito a união destas pessoas, de quererem cada vez mais usufruir do Tejo, e a mensagem que ela traz é esta partilha. Tem sido algo cada vez com mais valor, é surpreendente a forma como as comunidades nos recebem e fazem ofertas de alojamento e de refeições, de tal maneira que nos deixam emocionados”, sublinha José Gaspar.
A peregrinação fluvial da imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo é feita com embarcações típicas do Tejo, como o tradicional picoto e a bateira, e tem paragens nas diversas comunidades ribeirinhas e nas aldeias avieiras das margens do Tejo.
PROGRAMA COMPLETO
IV Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo – 2016 – 28 de Maio a 18 de Junho
1ª Etapa, sábado, 28 de Maio
09h30 – Bênção e partida do Cruzeiro Religioso
e Cultural em Vila Velha de Ródão
10h30 – Santana
10h45 – Fratel
13h00 – Barragem do Fratel
(Passagem de barcos na barragem do Fratel)
16h00 – Barca
16h45 – Amieira do Tejo – Nisa
17h15 – Belver – Gavião
17h30 – Praia do Alamal
18h30 – Ortiga
(Passagem de barcos na Barragem de Belver)
2ª Etapa, domingo, 29 de Maio
09h00 – Ortiga (bairro dos pescadores)
11h00 – Alvega
12h30 – Mouriscas
16h00 – Pego
16h30 – Barca do Pego
18h00 – Rossio ao Sul do Tejo
Quarta-feira, dia 01 – Passagem de Barcos
3ª Etapa, quinta-feira, 02 de Junho
09h00 – Rossio ao Sul do Tejo
10h00 – Tramagal
11h00 – Rio de Moinhos
13h00 – Constância
15h30 – Praia do Ribatejo
16h00 – Arripiado
17h30 – Tancos
18h30 – Vila Nova da Barquinha
4ª Etapa, sexta-feira, 03 de Junho
14h30 – Vila Nova da Barquinha
15h30 – Pinheiro Grande
16h00 – Chamusca
19h00 – Azinhaga – Golegã
5ª Etapa, sábado, 04 de Junho
10h30 – Azinhaga
12h00 – Alpiarça
15h00 – Vale de Figueira – Santarém
16h30 – Ribeira de Santarém
18h30 – Alfange
19h00 – Caneiras
6ª Etapa, domingo, 05 de Junho
10h00 – Caneiras
11h30 – Porto de Sabugueiro
12h00 – Porto de Muge – Cartaxo
15h00 – Valada do Ribatejo
21h30 – Procissão fluvial noturna:
VALADA – ESCAROUPIM
7ª Etapa, quinta-feira, 09 de Junho
15h00 – Escaroupim – Salvaterra de Magos
15h30 – Palhota
17h00 – Porto da Palha – Azambuja
8ª Etapa, sexta-feira, 10 de Junho
15h00 – Porto da Palha
16h30 – Vala do Carregado
18h00 – Vila Franca de Xira
9ª Etapa, sábado, 11 de Junho
15h00 – Vila Franca de Xira
16h00 – Alhandra
10ª Etapa, domingo, 12 de Junho
11h00 – Alhandra
12h00 – Alverca
15h00 – Póvoa de Santa Iria
11ª Etapa, sexta-feira, 17 de Junho
09h00 – Póvoa de Santa Iria
13h00 – Moita
19h00 – Montijo
12ª Etapa, sábado, 18 de Junho
(Dia da Marinha do Tejo)
09h00 – Montijo
10h30 – Lisboa /Cais das Colunas
14h00 – Paço de Arcos
19h00 – Oeiras
Final do Cruzeiro