Ensaio da peça teatral "A Viagem", que vai ser apresentada no dia 9 de junho, nas Pomonas Camonianas. Foto: mediotejo.net

A recriação histórica, organizada pela Câmara Municipal de Constância, pela Casa Memória de Camões e pelo agrupamento escolar, vai ser feita por centenas de alunos apoiados pelos professores e auxiliares de ação educativa do agrupamento de escolas de Constância e encarregados de educação que se vão trajar a rigor para personificar os mercadores, membros do clero, nobres e plebeus.

Nuno Coelho, artista residente do agrupamento de escolas de Constância e diretor artístico das Pomonas Camonianas deste ano, contou ao mediotejo.net num dos ensaios que o agrupamento já tinha um “know how adquirido” ao longo destes anos, e que o seu trabalho como profissional “foi pegar em tudo o que já existia e se tem feito, e melhorar”, incutindo uma visão e uma ideia própria para a peça escolar, centrada em Camões e nos poetas que inspirou.

Comunidade escolar encena “A Viagem” para as Pomonas Camonianas, peça inspirada na obra de Camões. Foto: mediotejo.net

“Este ano, visto que para o ano fará 500 anos do nascimento de Camões vamos abordar a ideia de uma viagem pensada em termos literários, porque Camões foi ao fim ao cabo o pai da língua portuguesa, deu origem a muitos textos a partir da sua obra e figura, teve um grande peso como poeta. A viagem é uma forma de abrir um pouco o leque para que não foquemos apenas na obra de Camões, mas em outros autores que se basearam nele, abordar a cultura portuguesa até aos dias de hoje, inspirada no universo camoniano”, adiantou Nuno Coelho.

Nuno Coelho, artista residente do agrupamento de escolas de Constância. Foto: mediotejo.net

Desta forma, nos dia 9 e 10 de junho vamos poder ouvir textos e poemas de Bocage, Almeida Garrett, Herberto Helder e Sophia de Mello Breyner, que em muito se inspiraram em Luís de Camões para comporem as suas obras e estão totalmente relacionados com o poeta. No teatro realizado pelos alunos do 9º ano de escolaridade, os visitantes vão poder assistir a uma encenação teatral de vários episódios.

A partida das naus de Vasco da Gama para a Índia; a dedicatória de Os Lusíadas a S. Sebastião, o encontro das naus de Vasco da Gama com o monstro do Adamastor; a representação de um excerto da peça “Que Farei Com Este Livro?”, de José Saramago; Baile Quinhentista; representação do Concílio dos Deus e um encontro de poetas que ao longo do século se inspiraram em Camões, terminando com um tema musical de Zeca Afonso, a partir de versos do poeta, são alguns dos momentos que vão marcar a noite de sexta-feira, da 9 de junho, às 21h30, junto ao Largo Cabral Moncada.

Olga Antunes, Diretora do Agrupamento de Escolas de Constância, notou que esta é “uma das principais atividades, que une o currículo, a cultura, a tradição e tudo o que Camões viveu em Constância”, frisando que existe uma parceria vincada “da escola, com a Câmara e a Casa-Memória de Camões, onde vai estar patente uma exposição que esteve no Museu Nacional dos Coches”.

Olga Antunes, Diretora do Agrupamento de Escolas de Constância. Foto: mediotejo.net

A 26ª edição das Pomonas Camonianas está inscrita no Plano Nacional das Artes, participando na segunda bienal do mesmo, o que faz toda a diferença para o agrupamento, sendo um reconhecimento a nível nacional e escolar para Constância.

Questionada sobre a disponibilidade dos alunos e a sua vontade em participar, Olga Antunes diz que existe sempre os dois lados, um que é “o gosto de representar o agrupamento e participarem ativamente nas atividades, onde eles se divertem, por outro lado é o esforço no final do ano, em que já existe uma maior resistência, porque também há exames”.

Trabalhar a educação nas artes é para o agrupamento de escolas de Constância uma prioridade na promoção de sucesso escolar. “Pedi a contratação de um artista residente, em vez de pedir, por exemplo, um psicólogo ou um terapeuta. Trabalhar as artes de uma forma transversal não pode ser só o que dizemos”, explicou a diretora.

“Eu já vi trabalhar a matemática na dança. Qual é a melhor forma dos alunos ganharem competência de falarem em público do que no teatro? E o teatro é realmente uma área que desenvolve muitas competências importantes. A nossa aposta no ensino da música, da dança, do teatro, os grupos de animação, tudo isso é um trabalho que é uma mais valia para os nossos alunos”, frisou.

Beatriz Maques, Joana Duval, Leonor Dias e Leonor Vieira são quatro alunas do 9º ano de escolaridade que participam há alguns anos nas Pomonas Camonianas, sendo um evento em que gostam de participar.

“Esta é uma forma de nos divertirmos, ver a minha terra cheia de gente, e como estou envolvida no teatro ajuda-me na apresentação de trabalhos, sinto-me sempre mais à vontade a falar em público e conhecer melhor a época quinhentista e saber como os nobres e o povo se apresentavam”.

“Moro em Constância e sempre foi um sonho ser [representar] os que são do povo a vender ou os nobres que estão a passear. O ano passado fui do povo e este ano sou uma nobre, é bom ver as diferenças e encená-las”, foram algumas das impressões que as estudantes revelaram ao nosso jornal, após um pequeno ensaio numa das bibliotecas do agrupamento.

VIDEO/ENSAIO DE ‘A VIAGEM’:

YouTube video

Os ensaios ainda estão no início e não se pode revelar muito, mas como tradição e tendo por inspiradora Pomona, a divindade romana dos pomares e dos jardins, que Camões também cantou, o evento apresenta, na sua essência, um mercado quinhentista, com exposição e venda de frutos e flores referidos por Camões na sua obra, e vários espetáculos teatrais, poéticos e musicais.

Notícia relacionada:

Natural de Vila Nova da Barquinha, tem 25 anos e licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade da Beira Interior.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *