O ciclista suíço Colin Stüssi (Voralberg) conquistou hoje a 84.ª edição da Volta a Portugal em bicicleta, após a 10.ª e última etapa, um contrarrelógio de 17,9 quilómetros em Viana do Castelo, ganho pelo espanhol Txomin Juaristi (Euskaltel-Euskadi). A Volta a Portugal, pela primeira na sua história, passou pelos 13 municípios do Médio Tejo na mesma edição.
Para se tornar o primeiro corredor de uma equipa estrangeira a vencer a Volta desde 2006, quando o espanhol David Blanco venceu pela Comunitat Valenciana, Stüssi terminou com 1.04 minutos de avanço sobre Juaristi e 1,07 sobre o português António Carvalho (ABTF-Feirense).
A etapa final foi ganha por Juaristi, que gastou 24.56 minutos para vencer o ‘crono’, à frente do uruguaio Mauricio Moreira (Glassdrive-Q8-Anicolor), a três segundos, e de Stüssi, a 26.
Em três etapas, a 84ª Volta teve passagem nos 13 concelhos do Médio Tejo (Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Ourém, Mação Sardoal, Sertã, Tomar, Torres Novas, Vila de Rei e Vila Nova da Barquinha), entre os dias 10 a 14 de agosto. numa iniciativa inédita na região.
Mação recebeu partida da etapa rainha
Mação recebeu no dia 14 de agosto a partida da 5ª etapa, em direção à Torre, num dia em que os ciclistas pedalaram na região do Médio Tejo ainda por terras de Mouriscas (Abrantes), Sardoal, Vila de Rei e Sertã.





Médio Tejo na rota da Volta a Portugal em bicicleta
A prova passou pelos concelhos de Ferreira do Zêzere, Tomar e Ourém, na primeira etapa, e ligou na segunda etapa Abrantes e Vila Franca de Xira, tendo os ciclistas pedalado ainda por vários municípios do Médio Tejo, como Constância, Vila Nova da Barquinha, Entroncamento, Alcanena e Torres Novas.

A segunda etapa, que ligou Abrantes a Vila Franca de Xira, teve duas metas volantes (Torres Novas e Cartaxo) e duas contagens de montanha, o Alto da Agruela (quarta categoria) e a Carvalha (terceira), tendo os ciclistas pedalado pelos concelhos de Constância, Vila Nova da Barquinha, Entroncamento, Torres Novas e Alcanena, todos no Médio Tejo.




A Volta a Portugal de 2023, na 84ª edição da prova, teve este ano um percurso que abrangeu os 13 concelhos do Médio Tejo, e que custou 160 mil euros à região, segundo a proposta de modelo de participação e contratualização aprovado pela Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo.
Passagem em Tomar/1ª etapa/Fotos de Zé Paulo Marques:
Perfil | O desconhecido Colin Stüssi confirmou finalmente o seu potencial
O ‘anónimo’ Colin Stüssi foi hoje ‘promovido’ ao estatuto de campeão, confirmando um potencial demonstrado nos primeiros anos no pelotão, em que rivalizou com ciclistas agora de renome, e ‘desaparecido’ nas últimas épocas.
Uma rápida pesquisa na Internet não lhe permitirá saber absolutamente nada sobre a história do vencedor da 84.ª Volta a Portugal, um perfeito desconhecido no ciclismo mundial, tanto que no Instagram tem meros 600 seguidores, um número irrisório na era das redes sociais, principal veículo de comunicação do pelotão.

As poucas linhas escritas na Wikipédia contam que Stüssi nasceu em 04 de junho de 1993, em Glarus, um cantão germânico da Suíça, ‘incrustado’ nos Alpes, num cenário idílico de lagos e glaciares, mas o contacto nos bastidores da prova que hoje ganhou revelam um homem tímido, mas simpático, educado e disponível e dono de um sentido de humor que foi arrancando gargalhadas aos jornalistas.
“Eu sou um tipo de números, lembro-me dos números, não dos nomes”, descreveu após a oitava etapa, depois de ter disparado os dorsais dos seus adversários como se dos números do bingo de tratasse.
Foi discreta mas consistentemente que o ciclista da Vorarlberg chegou à liderança da Volta a Portugal, à sétima etapa, com uma vitória no alto do Larouco que culminou três dias consecutivos dentro dos sete melhores das tiradas, abrilhantados ainda pelo segundo lugar na Torre, prenúncio de que a melhor versão do suíço estava de regresso.
Profissional desde 2015, foi vencendo classificações da juventude em provas por etapas em Itália – por exemplo, na Volta à Toscana de 2016, ficou à frente de nomes como Richard Carapaz ou Miguel Ángel López -, antes de estrear o palmarés na Volta a Rodes (Grécia), em 2017, um dos seus melhores anos no pelotão até agora.
Nessa época, Stüssi prometeu muito, com vários top 10 em gerais, nomeadamente um segundo lugar na Volta a Sibiu (Roménia), atrás do campeão do Tour2019, o colombiano Egan Bernal, ou um quarto posto no Tour de Almaty (Cazaquistão), ganho pelo conceituado Alexey Lutsenko.
O trajeto ascendente do suíço, que correu quase sempre a nível continental – a exceção foi 2016, quando a Roth subiu ao segundo escalão -, estagnou na temporada seguinte, quando correu com as cores da histórica Amore&Vita; ainda foi sexto na prova de fundo dos Nacionais e no Tour de Almaty, mas pouco mais.
Curiosamente, foi em 2018 que se estreou na Volta a Portugal, agora apenas uma recordação de má memória, já que caiu na etapa da Senhora da Graça, na zona das Fisgas de Ermelo, e não chegou então a conhecer a mítica subida. “Ouvi tantas coisas boas sobre ela [Senhora da Graça], sobre os espetadores, a cerveja. Foi muito bom subi-la”, revelou no sábado.

Foi na Vorarlberg que Stüssi regressou aos triunfos; a equipa austríaca apostou nele em 2019 e o agora campeão da Volta correspondeu com uma vitória no Grande Prémio com o mesmo nome e numa etapa do Tour de Savoie Mont Blanc e um quinto lugar na clássica Paris-Bourges.
As duas épocas seguintes foram bem modestas, sem resultados de destaque, num ‘declínio’ profissional travado este ano. O 12.º lugar na Volta à Eslovénia era o seu principal cartão de visita antes desta Volta – referido até por alguns diretores desportivos de equipas portuguesas, que já o tinham debaixo de olho -, à qual chegou com a ambição de um top 10 e saiu como um ciclista vencedor.
c/LUSA