A primeira vez que degustei um cocktail, Alexander, aumentou a boa disposição, ao verificar o bom casamento dos ingredientes, bebi o segundo correspondendo ao convite de um companheiro de mesa, o terceiro deixou-me eufórico e legou-me uma tremenda dor de cabeça no dia seguinte, porém com vontade de repetir a experiência. Repeti, posteriormente só espaçadamente fui conhecendo várias receitas e desde há anos que não toco nesta bebida de lastro internacional que terá surgido em 1798.
Para milhões de pessoas o cocktail deve anteceder o jantar, outras apreciam-nos desde o entardecer, desde as composições clássicas às mais bizarras para gáudio dos seus criadores os bartenders cujas composições figuram nos anuários e dicionários dedicados a desfazer dúvidas sobre a origem e as mais célebres composições da trepidante bebida.
Se os bebedores puros e duros querem e gostam de cocktails de acentuado teor alcoólico – Cognac, brandy, rum, tequila, vodka, gim, whisky, whiskey – em dose generosa associada a sumos de frutas e por fim pedras de gelo, sendo a mistura batida vigorosamente antes de ser servida.
Estes cocktails serviam de ingrediente líquido em muitos filmes dos anos quarenta e cinquenta do século passado, lembro Casablanca, ou os mojitos perversos do escritor Ernesto Hemingway autor da célebre odisseia marítima em torno de um cachalote, O Velho e o Mar, livro tal como outros sepultados no olvido.
A aura de periculosidade dos cocktails aumentou à medida que as estrelas da sétima-arte morriam em acidentes de automóvel ou mota, ainda da ingestão da bebida associada a barbitúricos, no primeiro caso recordo James Dean, no segundo Marylin Monroe, fogosa devoradora de homens corolário de tórridas paixões por um lado, por outro a imortalizar as receitas da bebida. O mercado editorial sobre os cocktails expressa-se em dezenas de obras, algumas delas no âmbito das obras de referência.
Os tempos mudaram ou evoluíram, também no nicho desta sedutora bebida graças ao sentido de negócio e artístico (conceber um bom cocktail é um acto cultural de natureza artística desde a sua preparação até ser derramado em copo apropriado) passado a aquelas «bombas calóricas e de elevado grau» à condição de espingardas de pressão de ar. Os cocktails passaram a ter menos potência, fazem-se de misturas praticamente neutras a lembrar os panachés (cerveja e seven-up) ou sangria (abastardamento do vinho) incidindo no sumo de frutas o doseamento principal, a «coisa» raramente ultrapassa os oito graus.
Os puristas blasfemam contra tal tipo de aleivosias, se o leitor duvidar faça o favor de verificar indo a bares da «movida» lisboeta, por essa razão os dogmáticos desviam-se dos locais de profanação como o Diabo (não o de Setembro) foge da cruz, concentram-se nos sítios costumeiros onde a regra continua a ser a bebida dobrar a fruta convenientemente macerada e onde não falta o toque de classe do borrifo de bitter.
Desviei-me da tentação dos cocktails, no entanto não esqueço dias gloriosos de os beber na companhia de homens e mulheres especialistas na matéria capazes de os descreverem ao pormenor, infelizmente a maioria abandonou os sofás terrenos e agora bebem no local onde ninguém sabe identificar, muito menos o viver dos desaparecidos.