A seca desperta os piores sentimentos para com a água, denunciando uma sede insaciável!
“Prendam-na!
Aprisionem o mais que puderem!
Não a deixem correr para o mar!
Muito menos evaporar!”
“Cortem-lhe a cabeça!” diria a rainha de espadas.
E os peixes? Os animais, a floresta e as plantas?
Num repente, as máximas irrefutáveis ecoam estridentes por todos os vales…
“Primeiro o homem, depois os “bichos”!” sucedida pela “água que se perde no mar!”.
Não se aperceberam que “bichos” somos nós?!
Que nos perdemos para nos reencontramos num ciclo contínuo e repetido?!
Ainda que durante a seca não tenhamos tido falta de água para a boca, a dança das barragens sobrepôs-se à ancestral dança da chuva dos nativos.
O olhar aflito daqueles que sofreram com a seca contrastou com o brilho ávido de ganância daqueles que mais beneficiam com os projetos de betão armado das barragens.
Após tudo isto, sente-se e ouve-se novamente a força das águas e, se o ciclo das cheias não for interrompido, neste ano as águas do rio Tejo voltarão a inundar as lezírias, a fertilizar os campos, a recarregar os aquíferos e a encher as albufeiras!

Esta época de chuvas é o momento em que recuperamos a água que alimenta, a esperança que nos guia e fortalece, e a capacidade de refletir sobre o que permitirá sustentar as nossas Vidas.
A chuva convida agora a que reflitamos, com bom senso, sobre a seca passada, que durou dezoito meses, bebendo do melhor conhecimento científico e não cedendo às fáceis soluções de infraestruturas e tecnologia atraentes prontas a consumir para gáudio dos seus vendedores.
Será importante refletirmos como agir no combate às alterações climáticas que são a causa do agravamento e do acentuar das secas e das inundações.
Agir sem corrermos atrás do prejuízo imediato de curto prazo e sem cedermos à tentação de soluções paliativas que não resolvem o problema estrutural e não criam bem-estar para a nossa Vida e para a das gerações futuras.
Durante a seca vimos surgir na neblina o duo ministro bom/mau e ministra boa/má, Duarte Cordeiro, o Senhor Ministro do Ambiente e da Ação Climática, e Maria do Céu Antunes, a Senhora Ministra da Agricultura.
Traziam no bolso o anúncio da salvação da bacia do Tejo com a nova barragem do Ocreza, o desvio de água do rio Zêzere a partir da barragem do Cabril para o rio Tejo, em tudo semelhante aos transvases entre bacias, e os novos 4 açudes e 2 barragens no Tejo a contruir de Abrantes a Lisboa pelo Projeto Tejo, com base num estudo do Ministério da Agricultura que retirou 400 mil euros ao bolso dos contribuintes para um projeto anunciado por promotores privados.
Ambos de braço dado em prol da agricultura intensiva de regadio que desperdiça um terço (30%) de toda a água que capta, face aos 75% dos consumos de água e 40% de perdas no seu transporte, e que esgota os solos e a sua produtividade.
Mas em boa verdade, as barragens não geram nem regeneram a água e agravam a seca!
As barragens apenas retêm a água que a chuva precipita acima de onde estão amarradas, ao sabor de onde a natureza escolhe depositar as suas preciosas gotas de Vida.
As barragens potenciam a evaporação da água e geram emissões de gases com efeito de estufa que agravam as alterações climáticas, acentuando a intensidade dos períodos de seca e de inundações.

Nem vou aqui percorrer o infindável rol de impactos negativos das barragens sobre os ecossistemas, os habitats, a saúde pública e o bem-estar das populações, as atividades económicas a jusante e a montante, bem comprovados pelos especialistas e cientistas, e denunciados pela cidadania e pelas organizações não governamentais de defesa do ambiente.
E, em tempo de seca, qual seria o aspeto dos charcos dos novos açudes e novas barragens de Lisboa a Abrantes do projeto Tejo? O cenário não seria muito agradável se nos lembrarmos do charco em que se transformou a albufeira de Castelo de Bode.

Adicionalmente, os transvases de uma bacia hidrográfica para outra bacia, personificados nas atuais propostas de construção de autoestradas de água do Douro para o Tejo e do Tejo para o Guadiana no Alqueva, dos mesmos promotores, apenas criam artificialmente uma procura de água adicional onde não existe água para satisfazer essa procura.
São uma pescadinha de água na boca gerando sede onde se desvia a água e uma ilusão de abundância e de falsa saciação onde se faz chegar e armazena água alheia, mas que se desfaz no dia em que a seca aperta.
Um bom exemplo disso é o transvase Tejo-Segura em Espanha que alimenta os insaciáveis setores do turismo e da agricultura do sul de Espanha, deixando sem água suficiente a agricultura e os ecossistemas ribeirinhos da comunidade autónoma de Castilla La Mancha no médio Tejo espanhol.
Sejamos capazes de aprender com os maus exemplos!
Se queremos dispor de mais água e de melhor qualidade em todo o território, se queremos mitigar as alterações climáticas que geram a seca e a inundações, a aposta será na restauração da biodiversidade, da floresta autóctone e na criação de corredores ecológicos de árvores e vegetação ribeirinha (ripícola) ao longo dos rios e ribeiros.

A ciência demonstra hoje que chove onde existe floresta ao contrário da crença de que a floresta apenas vingava onde chovia.
Não podemos controlar o sítio onde chove, mas podemos agir e promover a restauração fluvial, melhorando a floresta e os corredores ecológicos que envolvem os rios e ribeiros.
A exigência é ainda de um planeamento e gestão da água que, sem construir mais barragens, utilize as barragens existentes e que sejam necessárias para que a água armazenada em anos húmidos possa: compensar a escassez de água em anos secos; assegurar os caudais ecológicos essenciais a todas as atividades humanas ao longo do rio, sejam agrícolas, turísticas ou de lazer e contemplação, a jusante e a montante das barragens; e satisfazer as necessidades ecológicas dos rios e dos seus ecossistemas, que prestam serviços que asseguram os ciclos vitais para a sustentabilidade da nossa Vida.
E a resposta é sim!
Existem alternativas à captação e ao armazenamento de água feito em barragens!
As soluções alternativas de oferta de água e satisfação da sua procura passam primeiramente pela reutilização dos efluentes tratados das ETAR’s e pela eficiência do uso da água, com prioridade aos bens e serviços com maior utilidade social, económica e ambiental, como bem observado foi pelo Senhor Ministro do Ambiente e da Ação Climática.
As estações de captação de água diretamente do rio permitem satisfazer as necessidades de consumo imediato a partir de redes de distribuição ao longo do território e assegurar o armazenamento de água em charcas ou bacias de retenção fora do leito do rio para, em períodos de seca prolongada, fornecer a água para satisfazer as necessidades humanas e ecológicas.
As charcas ou bacias de retenção envolvidas em ecossistemas biodiversos permitem amenizar as temperaturas e reduzir a evapotranspiração sendo uma excelente alternativa para o florescimento da biodiversidade.
Além disso, a captação de água diretamente do rio é muito mais económica que a construção de novas barragens e, atentas as economias de escala, permite custos unitários mais reduzidos para cada consumidor.
Queremos acreditar na visão e na boa vontade do duo ministerial!
Mas estamos atentos e dispostos a agir!
Merecemos menos betão e mais água, mais biodiversidade, mais floresta e mais Vida!
Que o ano novo a todos ilumine!
O Tejo e a Vida merecem!
Visão sensata e contra a corrente.
Não há ninguém que explique a este Sr que ele não percebe nada disto.
Palavra de honra, caro amigo Paulo, mas quando é que mudam de disco, essa das alterações climáticas, já cheira mal, e não pega, só serve para confundir os incautos que se deixam levar na vossa conversa da treta, gostaria de concordar com a vossa teoria, mas já passei essa fase, que está mais que demostrada que não é verdadeira, e só serve para confundir as pessoas. Por isso digo os espanhóis é que têm razão em aproveitá-la e desviá-la, para onde lhes faz falta, já que nós não a aproveitamos e a deixamos correr livremente para o mar, assim o plano nacional de barragens fico por concluir com prejuízo de todos nós cidadãos. Pensem bem no assunto e deixem de fazer política negativa e contribuam para o bem comum. Com os votos de Boas Festas.
Um monte de disparates este artigo !!
A única coisa com o que concordo é que devemos aprender com os erros cometidos , mas isso não significa não fazer !!
Fico aqui a pensar qual será a sua profissão /Formação !!
Se sabe o que é viver na província , no campo !!
Qual a sua ideia de desenvolvimento e segurança alimentar para o país autonomia energética etc , !! Autonomia mínima , de sergurança ,claro!!
A conclusão a que chego é que não percebe nada disto , quase que aposto que vive na cidade , ou uma utopia no campo , e o sonho ou a ignorância , são totais ,,