O circo contemporâneo é pouco conhecido entre os portugueses, mas é um espetáculo divulgado e promovido pela Europa. Dois grupos de artes circenses mexicanos passaram o último mês na vila de Minde, concelho de Alcanena, em residência artística na Fábrica da Cultura. Para além do trabalho criativo e participação no Jazz Minde, realizaram atividades com as crianças das escolas do concelho, em espetáculos de artes de circo. Parte do grupo parte agora para Inglaterra, onde vai construir um novo espetáculo.
“Vão cair” – gritam as crianças. Os artistas manejam bolas, cadeiras, sobem mastros, uniciclos e brincam com bolas de fogo sem que pareça que algo lhes aconteça. Na plateia estão 150 crianças do primeiro ciclo das escolas de Alcanena e outras tantas acompanharão o espetáculo da tarde na Fábrica da Cultura, em Minde. No fim, os mais novos são convidados a experimentar alguns dos malabarismos apresentados. Bolas saltam e caem em inúmeras tentativas frustradas, crianças saltam e rodam tentando imitar os profissionais. Foi uma manhã a assistir a alguns exercícios de malabarismo de circo, mas não do circo tradicional, com animais e truques de magia, a que estão habituadas.

A iniciativa da residência artística dos dois grupos de artes circenses foi de Maria Gameiro, jovem dançarina de Minde que divide atualmente o ano entre a Europa e a América do Sul. Em Barcelona começou a seguir a arte de circo e nunca mais parou. No México convive com estes artistas, tendo procurado organizar a oportunidade de lhes proporcionar uma residência artística na Europa.”Como sabia destas condições (na Fábrica da Cultura), trouxe-os cá”, explica. Procurou apoios, elogiando a colaboração da Câmara Municipal, mas também junto da família e associações. Conseguiu trazer assim a Minde os “Coletive en Breve” e os “Fuoco di Strada”.
O programa incluiu a participação no Jazz Minde e os espetáculos para as crianças do concelho. Os dois grupos de artistas tiveram ainda a hipótese de percorrer um pouco a região e visitar o norte do país. É apenas no Porto, admite Maria Gameiro, que há algum desenvolvimento e reconhecimento das artes circenses. Um circo que já pouco tem a ver com o tradicional, dos animais amestrados e dos palhaços, e que inclui uma grande variedade de performances, que vão da dança à pintura. Em Portugal, “pouco a pouco”, começa a ser visto, refere, mas ainda não é muito conhecido.
O que não acontece pela Europa fora. “Por toda a Europa há muito circo, grandes festivais”, salienta, “foi o ambiente da Europa que os chamou. Eu trouxe-os a Portugal”. Depois desta passagem, adianta, os “Coletive en Breve” seguem para Inglaterra, onde farão outra residência artística e criarão um novo espetáculo. Já não é a primeira vez que Maria Gameiro traz artistas circenses a Minde, mas mediante a receptividade desta experiência poder-se-á ponderar em levá-la a outros sítios na região.

A porta-voz dos “Coletive en Breve”, Carolina Canas, comenta ao mediotejo.net que gostou de conhecer a região. “Estivemos em Minde, Porto, Fátima, Nazaré, Torres Novas, Serra de Santo António”, enumera, salientando que cada vila/aldeia tem características específicas que as as distinguem umas das outras. Entrou para o circo por meio do irmão e no último ano recebeu um convite para ir a Inglaterra desenvolver um projeto. Criou assim esta equipa e vai à aventura procurar novas experiências.
Jesus Diaz, dos “Fuoco di Strada”, lembrou ao mediotejo.net que começou no circo ainda em criança, com cerca de 12 anos, com um grupo de amigos. “Começámos a fazer malabarismos e decidimos formar a companhia”, recorda. Hoje têm quatro espetáculos, uma escola de circo, tendo já passado duas vezes pela Europa. Depois de Portugal seguem para França, Polónia e Alemanha onde vão atuar em festivais de rua.
A recetividade do circo no México é diferente de em Portugal, constata. Há muito público, garante, e o Estado dá vários apoios. É fácil lançar-se neste mundo.
O último dia da residência artística em Minde foi a 16 de junho, sexta-feira, marcado pelos espetáculos com as crianças. A atividade encheu a Fábrica da Cultura com muitos gritos e palmas. Ao todo, as duas equipas atuaram para cerca de 400 crianças das escolas do concelho de Alcanena.