Já por lá passaram israelitas, australianos, franceses, alemães e espanhóis, entre outros. Chama-se Terradágua e mais do que uma unidade de alojamento local, é um espaço que permite aos seus visitantes o contacto com a natureza e quer, a curto prazo, abrir uma “folk school”, espaço de partilha de saberes.
A árvore pintada de vermelho com a inscrição “Terradágua”, que se encontra à beira da estrada, diz-nos que chegámos ao local: o nº 694 na Rua Principal da Pucariça, aldeia que se reparte entre as freguesias de Aldeia do Mato e Rio de Moinhos, no concelho de Abrantes, onde o mediotejo.net é recebido por Marina Delgado e António José Carvalho, os mentores do projeto.
A Terradágua, criada em 2015, é “uma marca que inventámos para o nosso projeto e tudo o que estamos a pensar desenvolver na Pucariça”, explicam Mariana Delgado e António José Carvalho.
Para já, a Terradágua é uma unidade de alojamento local que surgiu na casa antiga que era do avô de António José Carvalho, e vários terrenos propriedade da sua família, marginais à ribeira da Pucariça, que Marina e António José têm vindo a recuperar e onde já criaram diversas hortas e um pomar com mais de 20 espécies de árvores que lhes permite ter produtos hortícolas e fruta da época que é depois usada para fazer doces caseiros ou sumos para os seus hóspedes. Das mãos de Marina Delgado saem verdadeiras obras de arte, doces para todos os gostos, desde os mais tradicionais, de abóbora, gila ou tomate, aos mais inovadores, como o doce de abóbora e malagueta, ou o doce de abóbora com beterraba.
Mas o grande projeto dos mentores da Terradágua, a curto prazo, é colocarem em funcionamento uma “folk school”, um conceito com mais de 100 anos, que é pouco conhecido em Portugal mas que tem uma grande expressão nos países nórdicos e nos Estados Unidos da América, e que consiste na troca de conhecimentos de saberes populares como, por exemplo, as formas de fazer o pão, ou noções de carpintaria, de trabalhar o ferro, etc.
Nesta “folk school” que irá nascer na Pucariça, Marina e António José querem promover a partilha de saberes, sobretudo de interesse para o mundo rural, mas também no âmbito do ambiente, da geografia, da história, da pintura, fotografia, etc.
“Estas folk schools têm uma característica interessante porque que o seu conhecimento não está certificado, é um local de troca de experiências e conhecimento para aprender técnicas e competências pelo puro prazer de aprender”, salienta António José.
Em frente à casa que serve de alojamento local, estão atualmente as ruínas de uma habitação, que ardeu durante o grande incêndio de 2005 que fustigou o vale da Pucariça, mas que, uma parte, vai agora ser recuperada para apoiar a “folk school”.
A ideia, segundo explicaram ao mediotejo.net, é recuperar parte daquele imóvel e criar um espaço multiusos, com cerca de 100 m2, para apoiar as ações e eventos promovidos pela Terradágua e que “será o embrião para implementar a folk school”.
Este novo espaço, estará também equipado com uma cozinha “para fazer a produção de doces que poderá também ser aberta à comunidade”, avança Marina Delgado, dizendo que estão a avaliar esta hipótese.
É desejo dos mentores da Terradágua que este projeto de recuperação do imóvel degradado avance ainda no primeiro semestre deste ano para que, em abril do próximo ano, já seja uma realidade ao serviço de todos. “É um espaço que nos falta para podermos desenvolver as nossas atividades durante todo o ano, mesmo quando as condições climatéricas não permitem que se façam ao ar livre”, refere António José Carvalho.

Aliada à Terradágua, cujo nome surge pela abundância de água existente na propriedade que é atravessada pela ribeira da Pucariça, está uma forte componente de prática de atividades ligadas à natureza e ao ambiente.
Marina e António José querem potenciar ao máximo o contacto dos seus visitantes com a natureza envolvente. Já organizaram um retiro de yoga, uma oficina de artes circenses, caminhadas e diversos encontros de amigos ao ar livre e para este fim-de-semana, no 16 de abril, está agendada uma aula de yoga e meditação na natureza, com passeio e lanche incluídos, das 15h às 18h30, com Elisabeth Lavrador.
E as ideias não param de surgir: para a população em geral, e em particular para os amantes do geocaching, um passatempo e desporto de ar livre que, muito resumidamente, se trata de um espécie de “caça ao tesouro”, Marina e António José têm preparada uma atividade com canoagem, que irá decorrer a 23 de abril, entre o pôr-do-sol e o aparecer da lua, e que envolve a procura das “caches” existentes nas ilhas da Barragem de Castelo de Bode, perto da Aldeia do Mato.
Regresso às origens
Marina Delgado e António José Carvalho trocaram as paisagens algarvias, onde viveram durante 20 anos, deixaram os empregos que tinham (Marina, formada em engenharia química, era funcionária pública na área dos recursos hídricos e António José, geógrafo, é professor) e mudaram-se para a Pucariça há cerca de dois anos com o objetivo de dinamizar e aproveitar as potencialidades locais.
Deitaram mãos à obra e fizeram renascer um local que estava abandonado. Não só a casa onde a mãe de António José nasceu, como também os terrenos à volta que noutros tempos foram de grande atividade agrícola.

A velha eira ganhou uma nova vida e hoje é um local aprazível para acolher um conjunto diverso de eventos, a mina existente na propriedade dá apoio aos tanques que existem e que voltaram a ficar cheios de água, os campos agrícolas voltaram a ser cultivados e a dar abóboras, tomates, curgetes, beringelas, pimentos, beterraba, batata doce, entre outros, e o espaço junto à ribeira da Pucariça foi limpo e rearborizado, recriando espaços de lazer.
“As pessoas que vêm de Lisboa, com miúdos, pedem para ir ver a horta e os miúdos ficam encantados com os diversos produtos hortícolas”, refere Marina Delgado contando a história “de uma menina de seis anos que estava espantadíssima pelas melancias estarem no chão e não virem da árvore”.
A longo prazo, além de concluírem a recuperação da casa em ruína que dará lugar a mais espaços de alojamento, Marina e António José gostariam que o seu exemplo contribuísse para reanimar e valorizar o Vale da Pucariça, demonstrando que o abandono do mundo rural não é uma fatalidade.
“Dias tranquilos” é o slogan da Terradágua. A tranquilidade rural é o grande atrativo deste espaço, visitado por pessoas de várias nacionalidades: “Já tivemos na Pucariça israelitas, australianos, um casal que veio da Estónia, franceses, espanhóis e alemães”, refere António José salientando que “a facilidade da internet permite que pessoas organizem os seus próprios percursos”. Além disso, “a relativa centralidade e proximidade a Lisboa são importantes trunfos turísticos da região”.