Dezenas de professores manifestaram-se esta manhã em Abrantes, em frente à Escola Secundária Sr. Solano de Abreu e à Escola D. Miguel de Almeida, aderindo ao movimento de greve nacional por tempo indeterminado lançado pelo S.T.O.P. (Sindicato de Todos os Professores). Os docentes reivindicam respeito pela carreira, contagem do tempo de serviço, ajudas de custo e salários mais justos, para além de estarem contra os novos modelos de concurso de colocação de professores, referiu ao mediotejo.net a professores Ema Calado, porta-voz dos professores em protesto.
“Há 10/15 anos para cá que nós sentimos que não somos valorizados pelo Ministério da Educação, portanto os professores reivindicam melhores condições de trabalho, que implicam também o futuro e melhores condições para os alunos. Portanto, o nosso foco são os nossos alunos. No entanto, se não nos valorizam, também a classe docente está muito descontente porque nos estão a cortar constantemente as pernas, como, por exemplo, nas progressões na carreira”, disse a professora de informática, de 43 anos.
ÁUDIO | EMA CALADO, PROFESSORA DE INFORMÁTICA:
“O que acontece com os professores é que há escalões em que os professores são impedidos de subir, mesmo que tenham as condições, porque não há vagas. Portanto, o Ministério decide que há um número de vagas naquele específico escalão e enquanto não houver disponibilidade para entrar mais ninguém entra e há professores que estão anos e anos parados para subir. Este é um exemplo e nós damos os exemplos aos nossos alunos assim: imaginem que vocês estão no 10º ano e tem tudo classificações para passar para o décimo primeiro, mas não podem porque não há vagas. Nós falamos isto com os nossos alunos. Por exemplo, nós estamos sem aumentos salariais já há uns anos, penso eu desde 2016 que está parado, retiraram-nos tempo de serviço na altura da troika, portanto, o tempo de serviço que é contado todos os anos, que nós precisamos para progredir, houve nove anos do nosso trabalho que não contaram para subir na carreira, é como se esses nove anos não existissem e o Governo não quer contabilizar esses anos”, notou, dando Ema o seu próprio exemplo.
“Eu sou professora há 20 anos e só o ano passado é que vinculei na carreira. Portanto, eu andei 20 anos a contrato e isto é muito difícil e o que está a acontecer agora é que todos os professores, a grande maioria, estão nas idades de 60/61 anos e daqui a cinco anos vai-se tudo embora. E nós vamos ficar sem professores, já estamos sem professores. Eu já tenho horas extraordinárias e há muitos colegas que já têm, porque não há professores para virem substituir quem está a faltar. E isso faz com que eu não tenha tanto tempo para preparar e para trabalhar para os meus alunos, porque é esse o objetivo, que é ter tempo para preparar e para dar aos meus alunos. Nós andamos… como se costuma dizer, a tapar uns buraquinhos aqui e ali, eu até falo nos equipamentos informáticos, nós temos de trabalhar com aquilo que temos. E muitos de nós trabalham com os próprios equipamentos porque não é possível, com as condições que nós temos, fazer mais e melhor e queríamos muito isso. Queríamos um ensino de qualidade público para os nossos alunos e está difícil porque não nos reconhecem o trabalho e quando não nos reconhecem o trabalho, as pessoas ficam descontentes e tristes”.

Ema Calado disse ainda ser importante “conseguir que os alunos e os encarregados de educação percebam” porque é que os professores estão em protesto porque, notou, “nem sempre a informação passa da maneira correta”, e lançou um apelo à tutela.
“Eu gostava que eles ficassem do lado dos professores, dos funcionários, dos alunos, eles que pensem nos alunos, porque se nós não temos um ensino público de qualidade, os nossos alunos também não atingem todas aquelas capacidades necessárias para a sua vida futura. Isso era muito importante, que nos valorizassem e que nos ouvissem, as nossas preocupações e reivindicações”, concluiu.

No âmbito da greve nacional, o S.T.O.P. reivindica a “gestão e recrutamento pela graduação profissional e sem “perfis/mapas” por conselhos intermunicipais de diretores. Hoje começam pelos colegas QZP, DACL e contratados, amanhã, se nada fizermos agora, poderá abranger toda a classe docente. Não esquecemos os abusos que houve nas BCE e não aceitamos a estratégia de «dividir para reinar»”.
Também defende o aumento salarial “que compense a inflação”, uma vez que “desde 2009 os professores perderam cerca de 20% do poder de compra, no mínimo queremos um aumento de 104 euros”.
O Sindicato pretende ainda alcançar uma “vinculação dinâmica”, crendo que “a vinculação não deve ser feita pela injusta norma travão, mas considerando o tempo de serviço que os professores contratados têm (independentemente se por horários completos/incompletos e/ou anuais/temporários)”.
Outro dos motivos desta greve passa pela luta pela contagem de todo o tempo de serviço. “Os enfermeiros, com lutas fortes e prolongadas, conseguiram recentemente uma vitória importante relativamente ao seu tempo de serviço. Os professores, com lutas mais fortes e prolongadas, também podem (e merecem) justiça no seu tempo de serviço roubado”, refere o memorando do S.T.O.P.
Por fim, o Sindicato acusa o Ministério da Educação de tentar “dividir para reinar” na classe docente, quanto ao acesso ao 5º e 7º escalões, “querendo retirar as quotas de acesso a estes escalões apenas aos professores doutorados. Defendemos que todos os professores devem ter esse direito”.
Escolas por todo o país têm sido encerradas devido a ações de greve de professores, mobilizando-se em torno da greve nacional que decorrerá por tempo indeterminado, tendo começado a 9 dezembro.
O S.T.O.P. disse contar com a participação recorde de mais de 4500 professores a nível nacional para aderirem a esta greve.
O sindicato que representa milhares de docentes portugueses refere que “esta greve por tempo indeterminado será interrompida quando o Ministério de Educação ceder em algo que a classe considere significativo ou quando os professores que estão nas escolas decidirem”.

Foram lançados pré-avisos de greve para os dias 14, 15 e 16 de dezembro. No sábado, dia 17 de dezembro, está ainda convocada uma manifestação de professores na rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa.
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