Pelas 9h00, a manhã na entrada da escola sede do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, de Mação, era atípica, com um ajuntamento de professores vestidos de negro, em luta e de luto pelo ensino público, envergando cartazes com expressões de protesto, junto de alunos que ali aguardavam para perceber se teriam aulas, mas que contactavam curiosos com os docentes para perceber o que motivava o movimento de manifestação à porta da escola.
Lucília Nogueira, professora de Português há 28 anos, e Sandra Gil, docente de Matemática há 26 anos, formaram a comissão de greve em Mação, mostrando-se desgostosas e desiludidas com os sindicatos de professores que até hoje não têm defendido os docentes e as suas reivindicações.
No caso de Lucília Nogueira, chegou mesmo a desvincular-se do anterior Sindicato e diz agora crer no trabalho do recente S.T.O.P., que tem mobilizado a comunidade docente em prol das causas que entendem ser pertinentes e urgentes e cuja resolução se tem arrastado.

Em causa está o respeito pela carreira e a não contagem de todo o tempo de serviço, bem como o estabelecimento de quotas na entrada do 5º e 7º escalão,bem como o novo modelo de concurso para colocação dos professores.
“Penso que foi a gota de água, que despoletou todo este movimento dos professores. Acho que estão fartos, fartos, fartos de anos e anos de desrespeito e atropelos na classe”, disse Sandra Gil.
São 35 horas semanais de trabalho e 13 horas de trabalho individual, além das deslocações, sendo que há professores em Mação que vêm de lugares longínquos, caso da Guarda, Fundão, Castelo Branco e Leiria, sendo por isso imperativo também pensar nas ajudas de custo no apoio à deslocação.
Na frente da escola, junto às dezenas de docentes presentes com cartazes e clamando cânticos de luta e manifesto, também os alunos se mantiveram, curiosos, assistindo e questionando os professores sobre o que estava a acontecer.
Para Lucília Nogueira este ato é também “uma aula de cidadania”, uma vez que mostra aos alunos “que é preciso lutar pelos direitos”.
Ana Francisca, 14 anos, era uma das alunas que se encontrava junto dos docentes manifestantes. Ao nosso jornal disse compreender a luta dos professores, tendo noção das horas de trabalho investidas nas escolas para dar aulas e preparar os alunos, bem como o acompanhamento feito em projetos específicos. “Compreendo a parte deles, precisam de melhores condições para nos poderem ensinar”, referiu a jovem.

No âmbito da greve nacional, o S.T.O.P. reivindica a “gestão e recrutamento pela graduação profissional e sem “perfis/mapas” por conselhos intermunicipais de diretores. Hoje começam pelos colegas QZP, DACL e contratados, amanhã, se nada fizermos agora, poderá abranger toda a classe docente. Não esquecemos os abusos que houve nas BCE e não aceitamos a estratégia de «dividir para reinar»”.
Também defende o aumento salarial “que compense a inflação”, uma vez que “desde 2009 os professores perderam cerca de 20% do poder de compra, no mínimo queremos um aumento de 104 euros”.
O Sindicato pretende ainda alcançar uma “vinculação dinâmica”, crendo que “a vinculação não deve ser feita pela injusta norma travão, mas considerando o tempo de serviço que os professores contratados têm (independentemente se por horários completos/incompletos e/ou anuais/temporários)”.

Outro dos motivos desta greve passa pela luta pela contagem de todo o tempo de serviço. “Os enfermeiros, com lutas fortes e prolongadas, conseguiram recentemente uma vitória importante relativamente ao seu tempo de serviço. Os professores, com lutas mais fortes e prolongadas, também podem (e merecem) justiça no seu tempo de serviço roubado”, refere o memorando do S.T.O.P.
Por fim, o Sindicato acusa o Ministério da Educação de tentar “dividir para reinar” na classe docente, quanto ao acesso ao 5º e 7º escalões, “querendo retirar as quotas de acesso a estes escalões apenas aos professores doutorados. Defendemos que todos os professores devem ter esse direito” .
Escolas por todo o país têm sido encerradas devido a ações de greve de professores, mobilizando-se em torno da greve nacional que decorrerá por tempo indeterminado, tendo começado a 9 dezembro.

O S.T.O.P. divulgou contar com a participação recorde de mais de 4500 professores a nível nacional para aderirem a esta greve.
O sindicato que representa milhares de docentes portugueses refere que “esta greve por tempo indeterminado será interrompida quando o Ministério de Educação ceder em algo que a classe considere significativo ou quando os professores que estão nas escolas decidirem”.
Foram lançados pré-avisos de greve também para os dias 14, 15 e 16 de dezembro. No sábado, dia 17 de dezembro, está ainda convocada uma manifestação de professores na rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa, à qual os docentes de Mação não vão faltar.
O estranho mesmo é não aparecer qualquer notícia sobre a greve dos professores na televisão…Muito bem! É para ver se passa despercebida!
Falam de tudo e mais alguma coisa…das greves dos comboios no estrangeiro e das greves dos professores …nada…