Sala de espera da Unidade de Saúde Familiar de Abrantes (Foto: mediotejo.net)

A Unidade de Saúde Familiar (USF) de Abrantes abriu as portas à população esta segunda-feira, dia 30 de maio. Um espaço que vai garantir médico de família aos cerca de 4500 utentes que se encontram sem profissional de saúde e disponibilizar cuidados médicos entre as 8h e as 20h, por uma equipa jovem e cheia de garra.

A consulta aberta para situações agudas e um serviço de atendimento não presencial através de telefone onde os utentes poderão esclarecer as suas dúvidas e questões com os médicos são algumas das mais-valias da USF de Abrantes para a população.

Uma equipa de cinco médicos e cinco enfermeiros (para já encontram-se apenas quatro enfermeiros, uma vez que está a decorrer o processo de mobilidade de uma enfermeira que vem do Hospital de Abrantes) vai assegurar a prestação de cuidados de saúde a cerca de 10 mil utentes residentes na União de Freguesias de S. João, S. Vicente e Alferrarede, dos quais 4500 encontram-se sem médico de família.

Cada médico ficará com cerca de 1700 a 1900 utentes, tendo em conta o horário de trabalho de cada médico ser de 35 horas ou 40 horas, sendo que todos os cidadãos residentes na área da União de Freguesias de Abrantes deverão inscrever-se na USF para que lhes seja atribuído um médico de família.

“Se esses utentes que existem informaticamente já não estiverem cá, se não completarem as listas dos médicos que estão cá, aí teremos de reajustar e abrir, por exemplo, vagas aos utentes que trabalham em Abrantes para facilitar”, esclarece ao mediotejo.net Rita Soares, 38 anos, médica e a coordenadora da equipa de profissionais da USF de Abrantes.

“A nossa escolha não pretende fazer uma exclusão de utentes”

Sobre os critérios de escolha dos utentes a usufruir da USF de Abrantes, Rita Soares esclarece que “há 11 mil utentes no concelho de Abrantes sem médico de família e nós tínhamos de arranjar um critério que fosse plausível pelo nosso trabalho para escolher os utentes que iríamos aceitar e a questão da área de residência prende-se com o facto da visitação domiciliária ser impossível e nós conseguirmos fazer um domicílio em tempo útil ao Carvalhal ou às Fontes ou a outra parte do concelho. Não só nós, mas principalmente a equipa de enfermagem”, frisou.

Ria Soares, médica e coordenadora da USF de Abrantes (Foto: mediotejo.net)
Ria Soares, médica e coordenadora da USF de Abrantes (Foto: mediotejo.net)

“A nossa escolha não pretende fazer uma exclusão de utentes, mas havendo um bolo de utentes sem médico de família, optámos por ter um critério para conseguirmos prestar um serviço de qualidade àqueles que temos”, sublinha Rita Soares.

Em termos de serviços médicos, a USF de Abrantes vai prestar praticamente os mesmos que eram assegurados pelo Centro de Saúde, mas assentam numa filosofia diferente, conforme explicou Rita Soares: “Temos consultas de saúde de adultos, consultas de saúde materna, planeamento familiar, saúde infantil, consultas de hipertensão e de diabetes. Em que, especificamente nestas últimas, excluindo as consultas de adultos, são feitas normalmente consultas de enfermagem prévia em que há um acompanhamento”.

“Aqui”, continuou, “aquilo que difere efetivamente do Centro de Saúde é que há um trabalho em equipa, médico-enfermeiro, em que cada médico tem os seus utentes e o enfermeiro trabalha com o médico, e acaba por estar sempre ligado a estes utentes. O utente nem sempre precisa de chegar ao médico, se conseguir contactar o enfermeiro, muitas vezes consegue resolver uma série de problemas”.

Na USF de Abrantes, os utentes vão ter ao dispor uma Consulta Aberta que serve para responder a situações agudas, ou seja, “serve para os utentes que estão com uma febre, que estão a sentir-se mal, doentes, naquele dia virem à unidade e serem atendidos. Não é um serviço de urgência, o serviço de urgência é no hospital, mas tudo o que possamos aqui resolver, estaremos disponíveis para o fazer: para medicar, para orientar, para aconselhar temos esta consulta aberta que funciona das 8h da manhã às 20h e que vai rodando pelos vários médicos”, explicou Rita Soares.

“No caso de ser possível agendar para o próprio médico de família, isso é excelente, porque a pessoa cria uma relação e não a perde, mas se isso não for possível, a pessoa está com febre, agoniada, a vomitar, e o médico de família só tem a próxima consulta aberta às 18h e são 8h da manhã, é óbvio que vamos perguntar à pessoa se não quer ser atendida por outro médico para resolver a situação”, exemplifica Rita Soares.

Consulta aberta para situações agudas

O principal objetivo desta consulta aberta é evitar que os utentes recorram em primeiro lugar ao serviço de urgência e estejam mais no Centro de Saúde porque, como explica Rita Soares, “é onde a Direção-Geral de Saúde aconselha as pessoas a ir em primeiro lugar”.

“A consulta aberta serve para situações agudas, nomeadamente também situações em que há necessidade de um atestado de incapacidade de trabalho para alguém, o que não é o caso de atestados para carta de condução, que pode ser urgente para uma pessoa que deixou caducar a carta, mas que não é um processo agudo para estas consultas”, refere Rita Soares.

Exterior da Unidade de Saúde Familiar de Abrantes (Foto: mediotejo.net)
Exterior da Unidade de Saúde Familiar de Abrantes (Foto: mediotejo.net)

“No Guião do Utente está muito explícito para que serve esta consulta aberta e é muito importante que as pessoas leiam o Guião e se informem muito bem sobre o que lá está escrito para que não a utilizem de forma errada porque uma pessoa que tem exames para mostrar não é uma situação urgente, não é indicada para aquela consulta”, alerta a coordenadora da USF de Abrantes.

A consulta ao domicílio é outro dos serviços prestados pelos profissionais de saúde da USF de Abrantes, para casos em que “um utente estiver dependente ou acamado, seja de forma mantida ou temporária, por exemplo, uma pós-cirurgia ortopédica, algo que impossibilite o utente de se dirigir à unidade, seja para tirar pontos ou fazer outro tipo de intervenção”.

Nestes casos, o utente ou um familiar liga para USF a explicar a situação, fala com o administrativo dizendo que precisa de uma consulta domiciliária e o médico tem um horário específico para os domicílios “mas pode, eventualmente, fazê-lo fora daquele horário se for uma situação grave, imaginando que é terça-feira e o médico só tem domicílios à segunda-feira, nesses casos tem de haver uma resposta”, sublinha Rita Soares.

“Aqui funciona a flexibilidade acima de tudo, tentamos resolver os problemas dentro daquilo que é possível”, destaca a coordenadora da USF de Abrantes.

Uma das novidades, é o atendimento por telefone, onde os utentes podem esclarecer dúvidas e até obter aconselhamento junto dos médicos.

Haverá um horário de telefone “que serve para utentes esclarecerem dúvidas, falar sobre medicamentos com que se deram mal, por exemplo, em que cada médico terá um período de telefone. O utente liga e é atendido por um administrativo, depois é agendado o contacto telefónico e à hora dessa consulta ligam ao utente que é passado ao médico para fazer esse atendimento”, refere Rita Soares salientando, no entanto, que este atendimento não presencial é um serviço sujeito a taxa moderadora, no valor de 2,50 euros, porque “todo o ato médico é registado para ficar no processo e se detetarmos que é uma situação que não é passível de ser resolvida por telefone, nós orientamos o utente para vir às instalações e para o horário que temos disponível”.

“Serviço de qualidade e segurança no ato médico”

“O que se pretende é facilitar o contacto entre os utentes e os profissionais de saúde porque às vezes há utentes que têm dúvidas sobre algum medicamento que estão a tomar e o que acontecia muito frequentemente é que estamos numa consulta e somos frequentemente interrompidos com dúvidas de utentes e quem vem cá não fica bem servido porque o profissional de saúde está a falar com o utente, é interrompido e perde a linha de raciocínio. Ora, o risco de haver erros médicos é muito superior e daí que haja esta tentativa de focalizar este tipo de atendimento para estarmos mais concentrados e estar totalmente disponíveis para aquele utente e é isso que pretendemos, um serviço de qualidade e segurança no ato médico”, sublinha Rita Soares.

“As USF vieram para que haja uma qualidade de serviço na saúde porque tanto os profissionais se sentem gratificados pela forma como trabalham em equipa e isso espelha-se naquilo que é a satisfação dos utentes, mas isso só mais à frente é que poderemos perceber porque há muitas formas de trabalhar antigas que vão ter de ser alteradas e os utentes vão perceber que essas mudanças serão para melhor”, destacou Rita Soares.

A profissional de saúde disse ainda que “se os utentes forem marcar uma consulta só para passar uma receita, podem estar a retirar oportunidade a um outro utente e é importante que os utentes se co-responsabilizem com esta gestão, no sentido de não deixarem acabar o receituário programado e solicitarem a prescrição, garantindo assim as suas receitas e não fazer com que o receituário seja um motivo para vir para uma consulta, muito menos para uma consulta aberta”.

USF D. Francisco de Almeida

A Unidade de Saúde Familiar de Abrantes chama-se USF D. Francisco de Almeida porque, como explicou Rita Soares, “é um nome ligado à cidade de Abrantes, é uma pessoa importante da nossa história, foi uma pessoa visionária, que foi além-fronteiras e conquistou outras paragens e nós estamos aqui com esta garra de conquistar a saúde e o bem-estar para os cidadãos de Abrantes e porque é um filho da terra, o primeiro filho dos Condes de Abrantes”.

A Unidade de Saúde Familiar de Abrantes D. Francisco de Almeida pretende enaltecer o nome desta figura que pertence à história da cidade (Foto: mediotejo.net)
A Unidade de Saúde Familiar de Abrantes D. Francisco de Almeida pretende enaltecer o nome desta figura que pertence à história da cidade (Foto: mediotejo.net)

“É um nome que não é muito invocado aqui nas escolas, um nome que não é muito lembrado e daí escolhermos este nome para lembrarmos que é alguém importante na nossa história e que faz sentido naquilo que nós vemos como o nosso trabalho e a nossa forma de estar, que é trabalhar com afinco e com vontade de levar as nossas ideias a bom porto”, observou Rita Soares.

A coordenadora da USF, Rita Soares, não é natural de Abrantes, é de Lisboa, mas é considerada uma filha da terra, uma vez que veio para esta cidade com apenas dois anos quando o seu pai, também médico, veio para fazer o chamado serviço de periferia.

Foi em Abrantes que Rita Soares fez todo o seu percurso escolar, tendo ido para Lisboa estudar medicina. Concluiu a sua especialidade em Santarém onde ficou durante mais seis anos, a trabalhar na USF modelo B, “que permite que os profissionais, estando a cumprir um trabalho bom e adequado, sejam remunerados de uma forma diferente e portanto eu vim para cá com um défice orçamental grande, mas vim com muito gosto”, refere.

Foi desafiada a gerir a USF de Abrantes e quando questionada sobre o que a fez abraçar este projeto não hesita em responder: “Pensar que havia muita gente que não tinha a qualidade de atendimento que eu poderia proporcionar onde eu estava, e ver que a população estava muito carenciada e muito abandonada do ponto de vista médico porque não é possível fazer omeletes sem ovos e o Dr. Siborro tem feito um trabalho excelente dentro daquilo que lhe é possível, mas sem médicos não há como ajudar”.

“Nós temos capacidade de fazer muito melhor, não estou a comparar com médicos que têm ficheiros e trabalham com os seus utentes, mas há uma carência muito grande na população de Abrantes e fazia-me muita impressão quando as pessoas se dirigiam a mim e perguntavam-me porque é que estava longe e aqui com tanta falta e fez-me pensar porque estava lá longe e vim para cá”, recorda Rita Soares.

Por detrás da abertura da USF de Abrantes, que aconteceu esta segunda-feira, dia 30 de maio, está um trabalho de preparação intenso de cerca de um ano. “É uma equipa nova, nunca trabalhámos juntos, temos estado a trabalhar neste projeto há um ano, em que nos reunimos para debater aspetos de funcionamento. Fizemos um trabalho de retaguarda intenso, fora do nosso horário de trabalho, muitas vezes, pela noite fora, para já termos algum entrosamento, conhecermo-nos melhor, sabermos como vamos trabalhar e este trabalho de equipa é muito importante para o bem da população”.

No próximo ano, a equipa de profissionais da USF de Abrantes irá ser reforçada com mais uma médica, que está a concluir a sua especialidade, bem como com mais um enfermeiro e um administrativo, de acordo com a candidatura que foi feita e que envolvia um total de seis médicos, seis enfermeiros e cinco administrativos, podendo, assim, vir a abranger mais utentes.

No âmbito da criação da USF de Abrantes, a autarquia local vai atribuir um incentivo financeiro aos médicos que aqui vão prestar serviço e que veem de fora, que aqui se vão fixar, num total de 9 mil euros anuais, suportados pelo orçamento camarário, sendo que, neste momento, apenas três dos médicos que se encontram na USF irão beneficiar deste incentivo, uma vez que a Drª Paula Teixeira e o Dr. João Louro já se encontravam a prestar serviços médicos no concelho de Abrantes.

Utentes desanimam com período de espera

O mediotejo.net esteve na USF de Abrantes esta segunda-feira, dia 30 de maio. Cerca das 10h da manhã, eram cerca de quatro dezenas os utentes que aguardavam na sala de espera da USF, situada no novo edifício da rua Nossa Senhora da Conceição, em frente ao Mercado Municipal.

À entrada, uma funcionária entregava senhas aos utentes que iam chegando e que iam sendo atendidos por três administrativos. Alguns utentes iam entrando mas acabavam por desistir depois de verificarem a quantidades de pessoas que se encontravam para serem atendidas.

abrantes_USF_utentes (Foto: mediotejo.net)
Maria Luísa de Sousa, 87 anos, e Maria do Carmo Alpalhão, 78 anos, na sala de espera da USF de Abrantes (Foto: mediotejo.net)

Maria do Carmo Alpalhão, 78 anos, de Abrantes, estava há uma hora à espera para saber se tinha médico de família. Ao seu lado, encontrava-se Maria Luísa de Sousa, 87 anos, que esperava à meia hora para marcar uma consulta com o seu médico de família. Apesar do tempo de espera, as duas utentes enalteceram a localização da Unidade de Saúde Familiar que permite uma outra mobilidade.

Por sua vez, Sonhe Hunga, 43 anos, encontrava-se na USF de Abrantes para agendar uma consulta de saúde infantil para o filho de 18 meses e, ao mediotejo.net, lamentou a ausência de um local para prestar informações aos utentes, referiu que “a organização é confusa” e mencionou que “um projeto feito de raiz não tem um espaço separado para crianças na sala de espera”. No entanto, “a localização é fantástica e facilita a vida”, referiu esta utente.

Margarida Serôdio

Entrou no mundo do jornalismo há cerca de 13 anos pelo gosto de informar o público sobre o que acontece e dar a conhecer histórias e projetos interessantes. Acredita numa sociedade informada e com valores. Tem 35 anos, já plantou uma árvore e tem três filhos. Só lhe falta escrever um livro.

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