Sob o tema “Prevenção de Doenças e Promoção da Segurança das Pessoas Idosas”, a iniciativa contou com intervenção de Fátima Pimenta, Diretora do Serviço de Medicina Interna do CHMT. Foto: mediotejo.net

Na sessão de abertura, que aconteceu pelas 10h00, marcaram presença o presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, e a secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, Isabel Rodrigues, que saudou o compromisso do município com o combate à violência doméstica, enfatizando a necessidade de agir para combater a problemática.

O primeiro painel da iniciativa, que decorreu durante todo o dia de terça-feira, teve como tema “Viver e Envelhecer com Qualidade de Vida”. Após um breve intervalo para café, os trabalhos foram retomados com o segundo painel, pouco após as 12h00, sob o tema “Prevenção de Doenças e Promoção da Segurança das Pessoas Idosas”.

A iniciativa contou com intervenções de Fátima Pimenta, Diretora do Serviço de Medicina Interna do CHMT, Vítor Ruivo, Cabo da Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário do Destacamento Territorial da GNR de Abrantes e Luís Marques, Comandante do Destacamento Territorial da GNR de Abrantes. A moderação esteve a cargo de Casimiro Ramos, Presidente do Conselho da Administração do CHMT.

O moderador da sessão e também Presidente do Conselho de Administração do CHMT, Casimiro Ramos, destacou a importância de debater a temática, face ao forte envelhecimento da população da região.

“Nós temos, na região de Lisboa e Vale do Tejo, a população mais envelhecida: 32% da população do Médio Tejo tem mais de 65 anos e, desses, 29% tem mais de 80 anos. Isto é algo muito bom, porque a esperança de vida na região, felizmente, é mais longa. Há melhores cuidados de saúde que têm permitido isso (…), mas todos nós, com a idade, necessitamos desse acompanhamento. Então, o que se sucede é os próprios internamentos terem uma probabilidade de durar uma ou duas semanas é maior do que era há uns tempos e são pessoas que necessitam de cuidados durante um periodo mais prolongado”, reiterou Casimiro Ramos.

32% da população do Médio Tejo tem mais de 65 anos e, desses, 29% tem mais de 80 anos

Para dar resposta a estes desafios é necessária uma articulação de ações, explicou o moderador. “Se queremos dar resposta a todos (…), temos vários caminhos. Por um lado, a articulação dos cuidados de saúde primários, por outro lado, conseguir ou tentar conseguir que o doente fique estabilizado o mais depressa possível para ter alta e poder admitir outros. E depois, um fator bastante importante, que é a prevenção”.

“A realidade é outra, isto é, nós vivemos num contexto social que é diferente de há 5 ou 10 anos. Por um lado, felizmente vivemos mais anos e temos mais condições para viver, mas isso traz um outro conjunto de realidades, de desafios, que temos de ser imaginativos para ultrapassar”, concluiu.

ÁUDIO | Casimiro Ramos, Presidente do Conselho da Administração do CHMT

Fátima Pimenta é profissional do CHMT há 35 anos. Licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa, integrou o Centro Hospitalar em 1987 sendo, à data, a Diretora do Serviço de Medicina Interna do CHMT. No início, e em concordância com a intervenção de Casimiro Ramos, realçou o envelhecimento populacional português, com especial destaque para a região do Médio Tejo.

“A população idosa é definida cronologicamente como o grupo etário com mais de 65 anos. Portugal é o 4º país [mais envelhecido] da União Europeia. Em 2020, o país mais envelhecido da UE é Itália, com 23,4% de idosos, Portugal estava em quarto lugar, com 22,3%. Em Portugal, em 1960, 7,9% das pessoas tinham mais de 65 anos, em 2020 eram 22,3%. Portanto, triplicámos o número de pessoas idosas no nosso país”.

Na região do Médio Tejo a proporção é ainda maior, e dentro do Médio Tejo, a mais elevada é precisamente a do concelho de Abrantes, onde “por cada indivíduo com menos de 15 anos, há 304 pessoas com mais de 65 anos”.

Sobre a importância do envelhecimento ativo, Fátima Pimenta reitera que “aquilo que se pretende, e que é muito importante para as pessoas terem um envelhecimento saudável e feliz, será manter as capacidades funcionais. A capacidade funcional de qualquer pessoa tem a ver com as suas capacidades intrínsecas, quer mentais quer físicas e com o meio que as rodeia”.

Contudo, “quanto maior é a longevidade, maior o grupo de patologias”, frisou. “O progresso da Medicina levou a que haja uma maior sobrevida e a maior sobrevida, com o envelhecimento da população, leva a uma perda da funcionalidade”. Para a profissional de Medicina Interna, todos estes fatores conduzem a duas vertentes muito importantes: “São necessários mais cuidados de saúde, as pessoas têm mais idade, mais patologias, precisam de mais cuidados e é preciso, também, haver mais apoio social e familiar.”

Ao longo da sua intervenção, Fátima Pimenta vincou a importância de uma rede familiar no apoio à população idosa. “Os cuidados de saúde são muito importantes, mas os cuidados que a família pode prestar, que a comunidade pode prestar, são também muito importantes e nós temos de estar todos alerta. À volta do idoso estar a família, estar a comunidade e estar a sociedade no seu geral”, apelou.

A avaliação geriátrica foi, também, um dos temas desta primeira edição das Jornadas Sociais e da Saúde de Abrantes. “Tem de ser uma avaliação multidisciplinar, não podemos ficar pela avaliação médica ou só com a avaliação da enfermeira, do fisioterapeuta. É importante fazer uma avaliação, quando estamos perante um doente, das suas capacidades funcionais, daquilo que o doente é capaz de fazer, porque as pessoas podem ter a mesma idade, mas não ter as mesmas capacitações”, explicou Fátima Pimenta. “É fundamental prevenir a doença, não só no idoso mas em toda a população, controlar a doença crónica e assegurar a deteção precoce de outras patologias”, acrescentou.

As quedas sofridas pelos idosos foram uma problemática apontada e que é frequentemente associada a esta faixa etária. A médica do CHMT apontou algumas soluções que passam, entre outras, pela prática de exercício. “É claro que os exercícios têm de ser adaptados à idade das pessoas, mas há sempre coisas que as pessoas podem fazer. Será o treino do equilíbrio e da marcha, hidroginástica, pilates, etc”, disse.

A sobre-terapêutica é um problema que, com frequência, é diagnosticado nas consultas realizadas, explicou Fátima Pimenta. “A polifarmácia é um problema muito grande. Nós, por vezes damos conta, nas nossas consultas, de pessoas em que a literacia em saúde não é muito grande e estão a tomar dois medicamentos iguais, o genérico e o da marca comercial. Portanto, é muito importante em cada consulta, os doentes levarem a medicação toda (…) porque isso tem de ser reajustado”.

“Por vezes damos conta, nas nossas consultas, de pessoas que estão a tomar dois medicamentos iguais, o genérico e o da marca comercial. A literacia em saude não é muito grande.”

De acordo com Fátima Pimenta, é necessário “haver um acompanhamento por uma equipa multidisciplinar. O médico, o enfermeiro, o fisioterapeuta para estimular determinado tipo de reabilitação, a assistente social para ajudar a encontrar caminhos que às vezes as pessoas não têm noção dos apoios que podem ter, isto é muito importante”.

A profissional acrescentou que “o domicílio é muito facilitador e permite promover o Plano Individual de Cuidados”, que não é um protocolo. “As pessoas e as situações são todas diferentes, tem de haver um plano individualizado.”

Foto: mediotejo.net

“Felizmente, nas visitas ao domicílio progredimos muito. Temos em termos das Unidades de Saúde Familiar visitas domiciliárias feitas pelos enfermeiros e temos também visitas sociais (…) Acho que este contacto direto tem muita importância, porque uma pessoa mais facilmente fala com um profissional de saúde que esteja com ali, naquele momento, do que fala num hospital”, destacou.

A Medicina Interna é uma especialidade generalista, dedicada a doentes adultos e de ambiente predominantemente hospitalar. “É uma especialidade que vê o doente na globalidade, (…) trata os doentes mais graves e que faz os diagnósticos mais difíceis, embora evidentemente, com a ajuda de todas as outras especialidades”, referiu a médica e oradora do segundo painel.

Relativamente aos trabalhos junto da comunidade, Fátima Pimenta revelou que a medicina interna e o CHMT têm tentado desenvolver algumas respostas na comunidade “que possam ajudar os idosos e não só”. Começando por falar na consulta de Geriatria, que existe desde julho de 2014, explicou que esta se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças da pessoa idosa, focando-se na preservação da autonomia, bem-estar e qualidade de vida.

Vítor Ruivo, Cabo da Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário do Destacamento Territorial da GNR de Abrantes, deu a conhecer o “Programa Apoio 65 – Idoso em Segurança”, que corresponde a uma iniciativa do Ministério da Administração Interna, com o objetivo de apoiar a camada da população mais vulnerável, principalmente aqueles que vivem mais isolados dos centros populacionais.

De acordo com Vítor Ruivo, este é um trabalho feito em comunidade. “Nós fazemos um registo através de um formulário, com todos os dados pessoais da pessoa idosa, morada, contactos de familiares ou pessoas de confiança, no caso de acontecer alguma situação que seja necessário o apoio familiar” e é também feita uma georreferenciação dos idosos mais isolados.

“Fazemos o registo das coordenadas GPS da residência, também para uma melhor localização, porque nem todas as patrulhas conhecem aquele local, por vezes não há números de porta, são residências bastante isoladas… Com georreferenciação é mais fácil as patrulhas identificarem aquele local, se houver alguma questão”, explicou.

Foto: mediotejo.net

Os objetivos do programa de apoio passam por garantir as condições de segurança e a tranquilidade das pessoas idosas, promover o conhecimento do trabalho da GNR junto desta população e ajudar a prevenir e evitar situações de risco. O patrulhamento foi direcionado, originando um levantamento exaustivo dos idosos a viverem isoladamente, foram referenciadas pequenas comunidades e elaboradas listas de instituições públicas e privadas diretamente ligadas ao apoio.

“Fazemos o registo das coordenadas GPS da residência dos idosos, também para uma melhor localização, porque nem todas as patrulhas conhecem aquele local, por vezes não há números de porta, são casas bastante isoladas…”

“Fazemos também uma avaliação da vulnerabilidade da pessoa, se está debilitada, se está nas melhores condições físicas (…). Às vezes detetamos situações em que as pessoas estão mesmo a precisar de ajuda e aí nós entramos com uma sinalização para as entidades, para os nossos parceiros. A nossa função é a segurança das pessoas, mas acabamos por trabalhar também um bocadinho a parte social”, referiu Vítor Ruivo.

A Operação “Censos Sénior” foi um dos temas que ocupou o debate ao longo da manhã. A operação visa garantir um conjunto de ações de patrulhamento e de sensibilização à população mais idosa, que vive sozinha e isolada, através da atualização dos registos das edições anteriores.

Durante o mês de outubro, os militares realizam uma série de ações que privilegiam o contacto pessoal com as pessoas idosas em situação vulnerável, no sentido de sensibilizarem e alertarem este público-alvo para a adoção de comportamentos de segurança que permitam reduzir o risco de se tornarem vítimas de crimes, nomeadamente em situações de violência, de burla e furto.

“É quando desenvolvemos uma maior intensificação destas ações, deste porta a porta, atualizações de registos, registos de pessoas novas que não estejam integradas neste programa e durante estas ações nós vamos, também, transmitindo conceitos de segurança. Como não conseguimos estar em todo o lado, tentamos transmitir conceitos para que as pessoas se autoprotejam. Ou seja, vamos transmitindo algumas ferramentas, nomeadamente na questão das burlas. Os burlões procuram estas pessoas porque elas gostam muito de conversar. Passam muito tempo sozinhas e os burlões sabem isso.”

ÁUDIO | Vítor Ruivo, Cabo da Secção de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário do Destacamento Territorial da GNR de Abrantes

A primeira edição das Jornadas Sociais e da Saúde de Abrantes decorreu no dia 6 de dezembro, no Edifício Pirâmide, sob a temática “A inclusão faz Abrantes”. Dada a descentralização de competências, este ano as Jornadas Sociais, organizadas pela Câmara Municipal de Abrantes e abertas à participação de vários agentes sociais e da saúde, profissionais, parceiros da Rede Social e comunidade em geral, integraram a temática da Saúde.

Nesta primeira edição reformulada, os painéis incidiram sobre o envelhecimento ativo e a segurança dos idosos, a experiência do município no acolhimento aos refugiados e às vítimas de violência doméstica.

A primeira edição das Jornadas Sociais e da Saúde de Abrantes decorreu ao longo do dia de hoje, no Edifício Pirâmide, sob a temática “A inclusão faz Abrantes”. Foto: mediotejo.net

De tarde, os trabalhos retomaram com o painel “A Experiência do Município de Abrantes no Acolhimento e Integração de Pessoas Refugiadas”, com o técnico superior Maksym Darmogray, de nacionalidade ucraniana, que deu conta do projeto desenvolvido pela autarquia e do acompanhamento que tem liderado desde o estalar da Guerra na Ucrânia, com a receção de mulheres e crianças no concelho.

Também a temática da violência doméstica, nas suas várias formas, esteve em destaque, por via da palestra e sessão artística “Recuso ser Vítima”, por Sílvia Abreu, presidente da Associação Tocar n’Alma, com histórias na primeira pessoa que procuraram “inspirar e transformar”. Raquel Olhicas, vereadora da Ação Social e da Saúde na Câmara Municipal de Abrantes, foi a responsável pela sessão de encerramento das Jornadas.

Jéssica Filipe

Atualmente a frequentar o Mestrado em Jornalismo na Universidade da Beira Interior. Apaixonada pelas letras e pela escrita, cedo descobri no Jornalismo a minha grande paixão.

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