A plataforma Jarvas Delivery foi criada por quatro jovens de Abrantes. Créditos: mediotejo.net

Depois de no ano passado terem criado a App Jarvas Delivery, para a entrega de refeições ao domicílio, o grupo de jovens empreendedores abrantinos continua a desenvolver a empresa e, em novo período de confinamento, decidiu apostar na diversificação, com a possibilidade de entregar compras de supermercado e mercearias. Estão a contratar mais pessoas e a ambição passa por levar o projeto mais longe, chegando a toda a região do Médio Tejo e alcançando até terras do Alto Alentejo, como Portalegre.

A ideia pairava na cabeça de Afonso Marques e materializou-se durante a pandemia. O jovem abrantino, interessado pelas novas tecnologias mas sem qualquer formação em informática, conseguiu conquistar a atenção de três amigos no sentido de desbravarem juntos um negócio sustentável, algo explorado em cidades como Lisboa ou Porto, mas uma novidade na região.

A covid-19 mudou Portugal, inclusivamente os hábitos de consumo, e mesmo que possamos regressar ao dito “normal”, Afonso Marques, Renata Bento, Vasco Marques e João Duarte acreditam que o negócio das entregas ao domicilio via plataformas ou aplicações digitais veio para ficar: “É o futuro”, diziam no ano passado, quando lançaram o projeto. Hoje, mesmo com mudanças na equipa, o espirito permanece idêntico e reforçado pela experiência de sete meses.

Afonso Marques, mentor da app Jarvas Delivery. Créditos: DR

Atualmente são cinco elementos. “Duas novas pessoas”, além dos criadores iniciais, porque entretanto “o Vasco saiu”, refere ao mediotejo.net Afonso Marques, que também abandonou o emprego que tinha há 13 anos (trabalhava numa cadeia internacional de supermercados). “Vamos avançar para a entrega de produtos de supermercado, ainda este mês [fevereiro], e teremos de contratar mais uma pessoa”, acrescenta o mentor do projeto.

Os jovens abrantinos, sem qualquer formação técnica, tão pouco de informática ou de gestão, antigos alunos da Escola Dr. Solano de Abreu, arriscaram investir numa plataforma para dispositivos móveis, tipo aplicação para telemóvel, que de forma fácil permite ao consumidor adquirir produtos no comércio local que serão entregues em sua casa ou qualquer outro local que indicar.

A Jarvas Delivery começou a ser projetada em março de 2020, desenvolveu-se e iniciou trabalho a 5 de junho do ano passado, mas “está em constante desenvolvimento”, diz Afonso. Neste momento faz entregas na cidade de Abrantes e em quase todas as freguesias, exceto Bemposta, Aldeia do Mato, Carvalhal e Fontes, mas “chegando a mais de 80% da população do concelho”, nota.

Não chegam às freguesias do Norte e do Sul do concelho de Abrantes por carência de recursos humanos. “São distâncias muito longas. Para Alvega, por exemplo, temos a autoestrada, mas para o Carvalhal leva meia hora de caminho e a experiência não é boa”, diz. Por isso, decidiram adiar as entregas nesses locais “até ser viável ou termos parceiros mais perto desses locais”.

Para já, conseguem ir ainda à vila de Sardoal e a Montalvo, nos concelhos vizinhos de Sardoal e Constância, embora a ambição passe por levar o projeto mais longe, chegando a toda a região do Médio Tejo e alcançando até terras do Alto Alentejo, como Portalegre.

Os quatro criadores da Jarvas Delivery, quando lançaram a App, em 2020. Créditos: mediotejo.net

Para isso será preciso contratar mais pessoas mas recrutar novos elementos tem-se revelado uma tarefa complicada. “Temos uma contratação muito rígida”, admite Afonso. “Só contrato quem faça sentido, porque é um serviço personalizado e um negócio para o futuro. Infelizmente a maioria das pessoas que chegam à entrevista de emprego não tem perfil. Não tem sido fácil devido às especificidades do trabalho”, nomeadamente trabalhar aos fins-de-semana, diz.

Afonso relata que o crescimento da empresa tem sido “muito rápido”, no entanto as margens de lucro são baixas. “É preciso ganhar alguma escala”, explica. Essa “escala” implica aumentar o número de entregas, tarefa impossível sem mais recursos humanos.

Com Portugal de novo em confinamento, revela que o crescimento de janeiro de 2021 “foi na ordem dos 15% a 20%”. Em fevereiro atingiram o seu máximo, desde o mês de dezembro. “Todos os dias com o número de entregas esgotado”, refere. Um número que, dependendo das distâncias, rondará as 50 encomendas.

Manifesta-se contente com o resultado. “Temos muito trabalho, muitos pedidos”. Também por esse motivo a aplicação Jarvas Delivery apresenta agora uma novidade. “introduzimos uma modalidade externa, com a encomenda a ir diretamente para três parceiros”, no caso três restaurantes, avança Afonso.

No futuro “queremos ter grande parte do comércio local de Abrantes dentro da aplicação”. Isto porque o objetivo destes jovens empreendedores passa também por ajudar o comércio local.

Jarvas Delivery. Créditos: DR

O serviço de entregas fixa os preços desde 1,99 euros, dentro da cidade, até 3,49 nos locais mais distantes, como Montalvo. Valores que compensam financeiramente, asseguram. “É um negócio de volumes, que se prevê lucrativo”, refere Afonso, explicando ainda que a empresa não aumentou as comissões aos parceiros. “Não seria justo para os restaurantes com restrições por causa da pandemia. Tal reduz as margens a curto prazo mas promove o crescimento a longo prazo”, defende o jovem.

O usa da App é muito simples, através do telemóvel. O cliente entra na plataforma em jarvasdelivery.com, regista-se e no ecrã principal encontra vários parceiros – restaurantes, lojas, drogaria, etc. “Começámos pelos restaurantes porque achámos que seria mais fácil. Praticamente 70% dos produtos dos parceiros estão carregados na aplicação. É só escolher, e o pagamento é feito no processo através de cartão de crédito ou Mbway”, explica o mentor.

O modo de pagamento também resultou da pandemia, optando a equipa por não lidar com dinheiro vivo. A entrega processa-se rapidamente, com contacto breve. “O pedido está pago e isso é facilitador, respeitando as orientações da Direção-Geral da Saúde. Recebemos internamente muitas mensagem por dia a agradecer a simpatia”, dá conta Afonso.

O sistema funciona de forma autónoma: quando o cliente encomenda, imediatamente o parceiro recebe o pedido através da aplicação. “Está tudo predefinido. Isso permite fazer tempos de entregas como temos. O tempo máximo ronda os 50 minutos mas o médio ronda a meia hora”.

O primeiro objetivo destes jovens empreendedores abrantinos foi atingido antes da plataforma ter dois meses: chegar às 500 encomendas. O sucesso imediato deveu-se à pandemia e à necessidade do distanciamento social, mas a vida agitada e o factor tempo são igualmente apontados pelos jovens como justificação para viabilidade, mesmo pós-pandemia.

O serviço de entregas faz-se sete dias por semana, conduzindo carros e motas, mas no futuro querem ser sustentáveis e usar veículos elétricos. “Um passo que só vamos conseguir com a expansão do negócio”, explica Afonso, mas confiante de que esse futuro está já ali, ao virar da esquina.

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Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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