Os jovens empreendedores abrantinos, criadores da Jarvas Delivery. Créditos: mediotejo.net

O empreendedorismo e o digital caminham, cada vez mais, de mãos dadas e isso não é propriamente novo. A novidade passa agora pelo capacidade de inovar tendo em conta os novos hábitos de consumo, criando um modelo de negócio com crescimento sustentável. A pandemia juntou os esforços de quatro jovens de Abrantes na vontade de desenvolver ideias, apostando nas novas tecnologias, oferecendo um serviço usando uma app, inexistente nesta região do País e criando postos de trabalho. O jornal mediotejo.net foi conhecer a aplicação Jarvas Delivery – que na verdade é uma plataforma online –, que liga o consumidor ao comércio local através de um simples clique.

A ideia pairava na cabeça de Afonso Marques, de 29 anos, e materializou-se durante a pandemia. O jovem abrantino, interessado pelas novas tecnologias mas sem qualquer formação em informática, conseguiu conquistar a atenção de três amigos no sentido de desbravarem juntos um negócio sustentável, algo explorado em cidades como Lisboa ou Porto, mas uma novidade na região.

“Víamos nas redes sociais publicidade sobre o que se estava a fazer em Lisboa, onde este tipo de plataformas é usual. Aqui não havia e seria difícil haver por uma questão económica. Essas grandes empresas não apostam no resto do País, fora de Lisboa, Porto, Leiria, etc, mas achei que era boa ideia e avançamos com a construção do projeto, neste caso a um nível regional”, conta Afonso Marques.

A covid-19 mudou Portugal e o mundo e mesmo que os hábitos de consumo regressem ao dito “normal”, Afonso, Renata Bento (30 anos), Vasco Marques (27 anos) e João Duarte (28 anos) acreditam que o negócio das entregas ao domicilio via plataformas ou aplicações digitais veio para ficar: “é o futuro”, asseguram.

Os jovens abrantinos sem qualquer formação técnica, tão pouco de informática ou de gestão, antigos alunos da Escola Dr. Solano de Abreu, arriscaram investir numa plataforma para dispositivos móveis, tipo aplicação para telemóvel, que de forma fácil permite ao consumidor adquirir produtos no comércio local que serão entregues em sua casa ou qualquer outro local que indicar.

Afonso Marques, a trabalhar há 13 anos numa cadeia internacional de supermercados, desenvolveu a plataforma com conhecimentos adquiridos através da Internet.

“É quase como um site com aparência de aplicação. Quando a pessoa mexe na plataforma é uma aplicação mas a construção básica é de um site”, explica, dando conta de ter aprendido a construir sites sozinho. “Foram muitas horas à frente do computador, muita tentativa e erro, tendo em conta que nenhum de nós tem conhecimentos técnicos. Durante dois meses dormi 5 horas por noite”.

A Jarvas Delivery começou a ser projetada em março, desenvolveu-se e iniciou trabalho a 5 de junho de 2020, mas “está em constante desenvolvimento”, diz Afonso. Neste momento faz entregas no concelho de Abrantes, nomeadamente na cidade e nas freguesias de Mouriscas, Pego e Tramagal, chegando à vila de Sardoal e a Montalvo, nos concelhos vizinhos de Sardoal e Constância. Mas a ambição passa por levar o projeto mais longe.

A curto prazo a Jarvas Delivery propõe-se chegar a toda a região do Médio Tejo chegando até Portalegre, no Alto Alentejo, sendo que até final de 2020 os jovens esperam fazer entregas em todas as freguesias do concelho de Abrantes.

“Vamos para onde formos precisos, onde o serviço não existir. Existem na região serviços semelhantes mas sem a facilidade da aplicação, que está disponível 24 horas por dia” e onde o cliente pode inclusivamente agendar o serviço pretendido.

A plataforma Jarvas Delivery. Créditos: mediotejo.net

O cliente entra na plataforma em jarvasdelivery.com, regista-se e no ecrã principal encontra para já oito parceiros – restaurantes, lojas, drogaria, etc – sendo que “o objetivo é ter praticamente todo o comércio local. Começamos pelos restaurantes porque achámos que seria mais fácil. Praticamente 70% dos produtos dos parceiros estão carregados na aplicação. É só escolher, e o pagamento é feito no processo através de cartão de crédito ou MBway”.

O modo de pagamento também resultou da pandemia, optando a equipa por não lidar com dinheiro vivo. A entrega processa-se rapidamente, com contacto breve. “O pedido está pago e isso é facilitador, respeitando as orientações da Direção-Geral da Saúde. Recebemos internamente muitas mensagem por dia a agradecer a simpatia”, dá conta Afonso.

O sucesso imediato deve-se à pandemia e à necessidade do distanciamento social, mas a vida agitada e o fator tempo são igualmente apontados pelos jovens como justificação para viabilidade mesmo pós-pandemia.

Na plataforma, o cliente “pode agendar praticamente ao minuto. Por exemplo, quer jantar às 20:00 e o jantar será entregue a essa hora, com uma variação máxima de 10 minutos”, diz, notando que “em pouco mais de três minutos consegue-se fazer um pedido na aplicação”.

Além de conceberem a plataforma e de conseguirem os parceiros, os quatro ainda fazem as entregas. Na verdade, mais João e Vasco, sendo Renata a responsável pelo apoio ao cliente e Afonso o gestor do projeto, até por ser o único que acumula paralelamente outra profissão.

Explica que “o modelo de negócio das multinacionais é de intermediação e nós tentámos melhorar, tendo contacto direto com o cliente que consideramos fundamental. Um ponto diferenciador, não há robôs nem máquinas, sendo a causa do sucesso. As pessoas gostam do serviço”.

O sistema apresenta-se automático, funciona de forma autónoma, quando o cliente encomenda imediatamente o parceiro recebe o pedido através da aplicação. “Está tudo predefinido. Isso permite fazer tempos de entregas como temos. O tempo máximo ronda os 50 minutos mas o médio ronda a meia hora. Só era possível automatizando”.

O serviço de entregas faz-se sete dias por semana, conduzindo carros e motas mas “queremos ser sustentáveis”, garante Afonso. “Com veículos elétricos, um passo que só vamos conseguir com a expansão do negócio”.

O primeiro objetivo destes jovens empreendedores abrantinos “já foi atingido: chegar às 500 encomendas ainda antes da plataforma ter dois meses”.

No futuro “queremos ter grande parte do comércio local de Abrantes dentro da aplicação”. Isto porque o objetivo destes jovens empreendedores passa também por ajudar o comércio local. E o serviço de entregas fixa os preços desde 1,99 euros dentro da cidade até 3,49 nos locais mais distantes, como Montalvo. Valores que compensam financeiramente, asseguram. “É um negócio de volumes, que se prevê lucrativo”, refere.

Com o negócio a ir de vento em popa, apesar do cenário pandémico, a equipa perspetiva recuperar o investimento realizado ainda até dezembro deste ano. “Estamos muito entusiasmados. Não esperávamos ter um sucesso tão rápido. A cidade nunca tinha tido um serviço destes, a maior parte das pessoas não trabalha assim mas tem corrido bem”, revela Afonso.

O próximo investimento passa pela contratação de mais pessoas para ampliar a equipa de trabalho. “O nosso foco vai ser o atendimento ao cliente”, antecipa. E contrariamente ao que se pudesse imaginar, uma vez que falamos de plataformas digitais, o Jarvas Delivey tem clientes de todas as idades. “A maioria tem entre 20 e 30 anos, cerca de 30%, mas temos clientes com 60 anos”.

A marca saiu da cabeça de Renata. Fã dos heróis da Marvel inspirou-se no assistente do Iron Man para batizar a plataforma. A grande ambição dos quatro jovens passa por “fazer deste negócio uma grande empresa com sede em Abrantes. Queremos ir longe. Ser a primeira grande empresa de tecnologia de Abrantes”.

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

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