O Programa “Artistas no Palácio de Belém” levou 27 alunos do 10º e 11º ano do Curso Profissional de Artes, Espetáculo e Interpretação da Escola Dr. Manuel Fernandes até ao Palácio de Belém, ao encontro da artista Ana Vidigal. Foto: mediotejo.net

Foram 27 os alunos do Curso Profissional de Artes, Espetáculo e Interpretação da Escola Dr. Manuel Fernandes, de Abrantes, que, a propósito do programa “Artistas no Palácio de Belém”, se deslocaram até Lisboa para irem ao encontro da arte, com uma visita ao Palácio de Belém, local onde conheceram a artista Ana Vidigal. Durante a tarde, estes estudantes que frequentam o 10º e 11º ano, visitaram também o Museu Coleção Berardo.

Com a manhã a despontar também os estudantes aguardavam o momento da entrada no autocarro responsável por levá-los até à capital. O destino, Palácio de Belém, o motivo, participar no Programa “Artistas no Palácio de Belém”, que junta alunos provenientes de escolas de todo o país com artistas nacionais e de renome, numa tentativa de ajudar a valorizar a arte.

Entrada dos estudantes no Palácio de Belém. Foto: mediotejo.net

Já sabendo à partida que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não estaria presente – embora marque presença em cerca de 80% destes encontros, conforme foi referido posteriormente – o entusiasmo nem por isso esmoreceu. Os alunos foram assim recebidos no Palácio de Belém por Isabel Alçada, conselheira para a Educação do Presidente da República, e pela própria Ana Vidigal, artista com quem os alunos partilharam cerca de hora e meia.

Durante o encontro, a pintora portuguesa deu o seu testemunho pessoal, percorrendo o seu trabalho desde o seu início nas artes, contando histórias, episódios e curiosidades que foram ocorrendo ao longo do seu percurso e que iam captando a atenção dos alunos abrantinos.

A ideia de aliarem o trabalho da mão com o do cérebro, bem como o de não desenvolverem relações afetivas com os seus trabalhos depois de terminados, foram dois dos vários conselhos que Ana Vidigal foi deixando aos jovens estudantes e iniciantes no mundo das artes.

Os alunos, já dentro do palácio, a aguardarem pela oportunidade de falarem com a artista Ana Vidigal. Foto: mediotejo.net

Ana Vidigal, em declarações à comunicação social, considerou “muito interessante” o convite da presidência tanto por trazer o espaço escolar até ao palácio e de o tornar “uma casa aberta”, como por trazer os artistas para falarem com pessoas e com jovens que também gostariam de fazer da arte profissão, até porque lhes dá “estímulo” e lhes permite perceber que é possível viver e ser-se realizado através de profissões artísticas.

“Porque por vezes, nos meios onde estão inseridos, a cultura e viver da cultura ou para a cultura ainda é visto como não-êxito profissional e portanto é muito bom que isto seja equiparado a outras profissões, porque é uma profissão como outra qualquer, com a vantagem de trabalharmos exatamente naquilo que gostamos”, disse a artista. 

Após uma primeira apresentação do trabalho e percurso de Ana Vidigal, estabeleceu-se depois uma conversa entre a pintora e os alunos, que deram mostras de uma notória preparação, pelo que os estudantes estavam munidos de várias perguntas prontas a ser disparadas. Mais tempo houvesse, e a conversa seria bem mais longa.

Os alunos foram recebidos por Ana Vidigal e Isabel Alçada. Foto: mediotejo.net

No final do encontro, Isabel Alçada referiu que os objetivos deste encontro se prendem em dar oportunidade aos alunos de conviver com artistas, de “serem mais sensibilizados para o significado da arte na nossa vida de cada um e na nossa vida da sociedade portuguesa”, e de simultaneamente “estimular o interesse dos mais novos para a visita de museus e galerias”, além ainda da valorização daquilo que é a criação artística.

Questionada sobre se esta iniciativa é também uma forma de trazer alunos de escolas mais afastadas dos centros culturais ao encontro com a arte, Isabel Alçada referiu ainda que existe uma grande atenção no que toca às inscrições das escolas e que se tenta que “aqueles que têm menos oportunidade de ter, por exemplo, visitas a galerias de arte ou museus, possam ser preferidos”.

“Porque queremos de alguma forma dar-lhes oportunidade de ter uma experiência que no seu meio mais restrito podem não ter como aqueles que vivem em Lisboa ou no Porto, nas grandes metrópoles”, além de que “depois desta experiência de convívio e de conhecimento que a própria autora deu do seu trabalho eles terão muito mais interesse em visitar os locais em que estão expostas as obras. E é isso que o Presidente da República pretende no caso desta iniciativa”, afirmou a conselheira para a Educação do Presidente da República.

“A arte vive dos criadores mas também vive dos públicos, e portanto este vaivém entre aqueles que são criadores agora e os que podem vir a ser criadores como é o caso dos alunos que aqui vieram hoje e o interesse por alargar os públicos da arte, é um dos fundamentos desta iniciativa da presidência da república”, disse Isabel Alçada, conhecida pelos livros da série “Uma Aventura” que escreveu em conjunto com Ana Maria Magalhães.

Além de Ana Vidigal, o Programa “Artistas no Palácio de Belém”, que pretende sublinhar “o inestimável contributo da arte e dos artistas no desenvolvimento do nosso país”, conta com a participação de artistas como Alfredo Cunha, Henrique Cayatte, Ilda David, Joana Vasconcelos, João Louro, José de Guimarães, Manuel Rosa, Noé Sendas, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Rui Chafes, Rui Sanches e Vhils.

A pintora Ana Vidigal deu o seu testemunho pessoal e percorreu o seu trabalho desde o seu início na área das artes. Foto: mediotejo.net

Depois do almoço e de uma visita guiada ao Museu Coleção Berardo, onde estes alunos do Curso Profissional de Artes Espetáculo Interpretação puderam observar, fotografar e ficar a saber mais sobre várias obras e movimentos artísticos, foi tempo de voltar a terras abrantinas.

Para o aluno Daniel Rito, esta foi uma visita de estudo “extremamente educativa e necessária” para se perceber a influência que a arte performativa tem nas artes plásticas e vice-versa.

Já a sua colega Lígia Oliveira, considera que esta visita foi “muito boa” e também “surpreendente”, na medida em que “fomos bastante surpreendidos, fomos informados de coisas que nós não sabíamos e que achávamos que não era possível aprendermos em termos do nosso curso, mas acabámos por perceber que no nosso curso podemos aprender qualquer coisa, basta nós querermos e termos a iniciativa correta”, opinião partilhada por vários alunos e que foi transmitida à professora responsável, Carla Dias.

A docente, indo ao encontro do que dizem os seus alunos, refere que a visita foi importante para que estes, como estudantes de um curso de artes do espetáculo e interpretação, percebessem como as artes e a cultura estão ligadas e que os saberes são transversais, até porque o Teatro “é uma daquelas artes que concentra todas as artes”, uma vez que, até a nível de sonografia ou figurinos, o espetáculo tem de ser pensado plasticamente.

Os alunos puderam colocar várias questões à artista portuguesa. Foto: mediotejo.net

“Dar essa abertura de espírito, para eles pensarem o espetáculo não só como um peça de teatro mas como algo que contém um série de artes, também esse é um dos objetivos. Eles começarem a ter essa sensibilidade de que as artes estão em contacto umas com as outras. O teatro não vivia sem literatura, sem a parte visual, sonora, plástica. Um dos objetivos era portanto ampliar e tirá-los das gavetas em que às vezes o conhecimento coloca”, referiu a professora.

Dar a oportunidade de os alunos irem até Lisboa, de conhecerem a Presidência da República, de terem curiosidade sobre a democracia portuguesa, sobre os artistas e de poderem questionar-se, foram outros aspetos importantes nesta visita: “Temos que criar estas sementes nos alunos para que questionem, para que conheçam, para que tenham curiosidade, para que tenham vontade de conhecer mais”, disse Carla Dias.

Os estudantes visitaram também o Museu Coleção Berardo. Foto: mediotejo.net

Já para Alcino Hermínio, diretor do Agrupamento de Escolas N.º2 de Abrantes, esta iniciativa marca um processo de “reinício” e de “renascimento”, tendo em conta a pandemia e em como as escolas estavam ansiosas “por sair, por ir visitar museus, espetáculos, contactar com artistas, e esse objetivo esteve presente no dia de hoje”, disse o diretor escolar.

Não obstante os alunos em causa serem estudante de um curso de artes do espetáculo e o encontro ter decorrido com uma artista plástica, Alcino Hermínio diz que o Agrupamento quer que a formação dos alunos seja abrangente e que portanto quer proporcionar-lhes oportunidades de contactar com outras área do conhecimento ou das artes, pelo que “não podemos deixar fugir esta oportunidade que a Presidência da República abriu às escolas”.

O Programa “Artistas no Palácio de Belém” levou 27 a. Foto: mediotejo.net

“Na formação dos nossos alunos, seja nas artes, na música, no ensino em geral, é muito importante as saídas da escola, quer no contexto local ou regional, quer no contexto nacional. Conhecer o nosso património artístico, cultural, é importante para a formação dos nossos alunos. Sairmos daqui, depois de dois anos em que estivemos só a trabalhar ou online em casa com os alunos ou aqui com todas as regras de prevenção do contágio, é uma revolução, ao fim destes dois anos é um início de regresso à normalidade que muito nos apraz festejar”, completou o diretor escolar, que, no final do dia, considerou a visita como “uma aposta ganha”, até porque, por coincidência, a artista Ana Vidigal vai inaugurar uma exposição no MIAA (Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes), em abril.

Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Jornalismo. Natural de Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, mas com raízes e ligações beirãs, adora a escrita e o jornalismo.

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