"Somos uma família", dizem as alunas da sala de bordados (Foto: mediotejo.net)

O edifício da antiga escola primária de Cardal ganhou nova vida desde que ali funciona a Formação Ocupacional de Seniores (FOS), ou seja a Universidade Sénior do Concelho de Vila Nova da Barquinha, atualmente frequentada por cerca de 160 seniores.

O projeto arrancou há sete anos com apenas uma turma de informática e cerca de 20 alunos, mas entretanto cresceu e já tem em funcionamento 24 turmas nos polos de Cardal, Praia do Ribatejo e Tancos.

É com entusiasmo que os “alunos” relatam a sua experiência e evolução nas diferentes disciplinas.

Quando chegámos à antiga escola primária de Cardal, atualmente sede da Associação de Voluntários “Essência da Partilha”, que gere e coordena o projeto, estavam alguns seniores na sala de informática a aprender a lidar com redes sociais. Noutra sala, apenas mulheres, dedicam-se aos bordados, arraiolos e outras artes manuais. São unânimes em elogiar a Universidade Sénior e falam numa nova família que criaram ali com o convívio e amizade entre todas.

Samuel Alves é o formador de informática e redes sociais (Foto: mediotejo.net)

Frases como “o saber não ocupa lugar”, “nunca é tarde para aprender” ou “nunca se sabe tudo” são repetidas por vários alunos, visivelmente entusiasmados com a atividade.

É naquele espaço que aprendem, trocam ensinamentos, convivem e “espairecem”. As disciplinas são variadas: Ginástica, Informática, Teatro, Português, Pintura, Inglês, Técnicas de Bordados, Artesanato, Escolhas Alimentares, Cavaquinho, Concertina, Linguagem e Comunicação e História Local.

E para ensinar estas matérias há 19 formadores voluntários. Neste momento sente-se a falta de um formador na área da música já que a anterior formadora, por motivos profissionais, teve de abandonar o projeto. O grupo de música (Tuna) está assim desfalcado e deixa um apelo para que algum professor se proponha como formador sendo apenas necessárias uma a duas horas por semana.

“Nunca é tarde para aprender”, dizem os alunos seniores (Foto: mediotejo.net)

O gosto por aprender

Na sala de informática, Joaquim Raposo é um dos mais antigos alunos da Universidade Sénior. Se há sete um computador era para si “um bicho muito grande”, hoje em dia já domina a máquina e os vários programas. “Sempre gostei de aprender, gosto de lutar, de partir pedra”, afirma, revelando que o problema maior nas redes sociais é quando aparece “a língua estrangeira”.

Xavier Marques é “do tempo da ardósia”, depois “da máquina de manivela para somar” e agora dos computadores. Pelo Messenger comunica facilmente com a família no estrangeiro e no país. “Isto é importante, aprende-se aqui muita coisa, é uma experiência boa e estamos entretidos”, realça.

Albertina Courinha veio para a Universidade Sénior há três anos, para esquecer o sofrimento do falecimento da sua mãe. Sem filhos e só com a quarta classe, diz que a atividade é uma maneira de passar o tempo e aprender. Não sabia o que era um computador, mas agora, três anos depois, Albertina já tem o seu PC em casa e domina o smartphone. Além de estar presente nas várias redes sociais (facebook, instagram, etc), passa horas a ver vídeos no youtube. O seu gosto pelo artesanato leva-a a perder a noção do tempo quando começa a ver vídeos que ensinam as várias técnicas.

Aos 75 anos, José Maria Sequeira encara a Universidade Sénior como um espaço de convívio e de aprendizagem.

Vânia Moura e Joana Prates, Presidente e Vice-Presidente da Associação Essência da Partilha (Foto: DR)

Cada vez maior adesão

Vânia Carvalho Moura é a Presidente da Associação de Voluntários Essência da Partilha  e coordenadora da FOS – Formação Ocupacional de Seniores. Joana Prates é Vice-Presidente e coordena o projeto PATAS, a vertente de apoio social da associação.
Sobre a Universidade Sénior, colocámos algumas questões a Vânia Moura:

Como e quando surgiu o projeto da Universidade Sénior?

A Formação Ocupacional de Seniores (FOS) surgiu no verão de 2011, como resposta à falta de atividades destinadas às pessoas com mais de 65 anos no nosso Concelho. Por ser um meio pequeno, percebemos que as pessoas se isolavam muito e muitas não saíam de casa o dia inteiro. Assim, com o objetivo de minimizar a solidão, tentámos criar um projeto em que os seniores pudessem ocupar o seu tempo através de atividades úteis e que lhes dessem algum benefício, para além do convívio. Foi assim que em Setembro de 2011 começámos este projeto, como parte da Associação de Voluntários Essência da Partilha, e na altura com o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha e Junta de Freguesia de Moita do Norte.

Como tem sido a adesão?

A adesão tem sido cada vez melhor. Começámos em 2011 apenas com a disciplina de informática, com 20 alunos e a utilizar parte do edifício da Junta de Freguesia. Em 2017 contamos com cerca de 160 alunos, 24 turmas e estamos já em três locais diferentes do Concelho: Cardal, Praia do Ribatejo e Tancos. Esta necessidade de expansão foi sentida atendendo a que o nosso Concelho é muito extenso geograficamente, o que torna difícil a deslocação dos seniores de uma freguesia a outra.

Qual o perfil dos alunos e quais as motivações que os levam a frequentar a FOS?

Os alunos são maioritariamente seniores com mais de 65 anos (a idade mínima para entrada na FOS são 55 anos), que procuram obter mais conhecimentos de algum tema específico. A disciplina que mais alunos atrai, pelas circunstâncias do mundo em que vivemos, é a informática – todos querem aprender a mexer num computador! – e depois de estarem inscritos nessa disciplina, os seniores vão percebendo que temos uma oferta de temas muito interessante e inscrevem-se em mais aulas.

Atualmente quais são as disciplinas e quem leciona?

As nossas disciplinas são todas lecionadas por formadores voluntários, que dão uma ou duas horas da sua semana a este projeto e assim permitem que tenhamos 13 disciplinas diferentes a decorrer. A FOS funciona por trimestres, podendo por isso a oferta de disciplinas ser diferente a cada três meses. No primeiro trimestre do ano letivo 2017/2018 contámos com as seguintes disciplinas: Informática, Redes Sociais, Ginástica, Inglês, Português, Cavaquinho, Concertina, Teatro, Pintura, Técnicas de Bordados, Escolhas Alimentares, Linguagem e Comunicação e História Local.

Normalmente, as universidades seniores têm também atividades no exterior. Aqui também acontece isso?

Sim, tentamos desenvolver várias atividades ao longo dos trimestres, para tornar mais interessante a frequência na Universidade Sénior e não a limitar apenas às aulas semanais. As atividades fixas ao longo do ano são: Feira de São Martinho, Visita de Estudo no final do 1º trimestre, Ceia de Natal, Festa de Carnaval, ATL da Páscoa (uma semana de atividades aberta a todos os seniores do Concelho, mesmo os que não são alunos da FOS), Grande Viagem FOS (viagem de avião ao estrangeiro), Entrega de Diplomas, Visita de Estudo de Final de Ano e ATL de Verão. Já organizámos também três edições do “Dia do Aluno Sénior”, um evento criado por nós, no qual recebemos em Vila Nova da Barquinha várias Universidades Seniores do Distrito de Santarém.

Quem financia a manutenção da US?

A Universidade Sénior é apoiada pela Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, Junta de Freguesia de Vila Nova da Barquinha, Junta de Freguesia de Praia do Ribatejo e Junta de Freguesia de Tancos.

Quais as principais preocupações e dificuldades atuais?

Tanto a gestão da FOS como o ensino das diversas disciplinas são feitos por voluntários que disponibilizam o seu tempo para apoiar este projeto. Por este motivo, existe sempre bastante dificuldade em conseguir formadores para dar resposta às necessidades de disciplinas e ao número crescente de alunos. Um formador voluntário dá entre 1 a 2 horas de aulas por semana, mas mesmo assim é cada vez mais difícil encontrar pessoas interessadas em oferecer este tempo. Neste momento a maior necessidade é a nível musical, uma vez que ficámos sem formador para a FOS Tuna.

Como se perspetiva o futuro da US?

Acreditamos que, com a equipa de voluntários dinâmica que a Associação Essência da Partilha tem atualmente, vamos continuar a proporcionar aos seniores várias atividades do seu interesse. É nosso objetivo manter a qualidade das aulas e das atividades, bem como abranger o maior número de seniores possível.

 

A US em números 

(referente ao 1º trimestre do ano letivo 2017/2018):

N° alunos – 159

N° professores – 19

N° polos – 3

N° disciplinas – 13

Nº turmas – 24

José Gaio

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

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