Algumas dezenas de pessoas uniram-se na manhã de sábado no Cais da Hidráulica, em Vila Nova da Barquinha, para iniciar mais uma “manifestação” pelo rio Tejo. Foi lida, ali na zona ribeirinha, antes de começar a aventura da canoagem a “Carta Contra a Indiferença” e mostradas algumas faixas reivindicativas.
Paulo Constantino, porta-voz do proTEJO, afirmou que as questões em que o movimento se têm centrado é primordialmente “a qualidade e a quantidade da água”.

“A nível da quantidade, estamos aqui por um Tejo livre, com caudais ecológicos, que própria legislação europeia contempla, nós apenas queremos a aplicação da lei, e que esta não seja subvertida por uma convenção da albufeira, que prevê caudais ecológicos, mas estes estão suspensos, em regime transitório são aplicados caudais mínimos à 24 anos”.

Um rio saudável, é o que defendem, com caudais “normais”, maiores no inverno e menores no verão, contudo não é o que acontece. “Há alturas em que as barragens, no inverno, são fechadas e o caudal é mínimo, e em outras em que as barragens são abertas e água vem de enxurrada”, adianta Paulo Constantino.
Quando se fala em Tejo Livre, o porta-voz ressalva o projeto de construção de quatro novos açudes e duas novas barragens, ao qual o movimento considera existir alternativas. “A primeira ação é agir sobre a procura, se reduzirmos as perdas de transporte de água, e melhorarmos a eficiência no uso da mesma na agricultura, a água que vai ser necessária é metade daquilo que na realidade consumimos”, adiantou.
“Depois na reutilização da água que já consumimos, com o tratamento da água pelas ETAR urbanas, e só depois irmos buscar a água ao meio hídrico, e aí já será menos. Podemos captá-la diretamente no rio, como é feito na estação de captação de água de Valada, que depois fornece água à área metropolitana de Lisboa. Depois armazená-la em bacias de retenção fora do rio, evitando fragmentar os últimos 127 km de rio, de Abrantes e Lisboa, fragmentado os habitats das espécies, destruindo a biodiversidade e descaracterizando o património cultural associado ao rio e também a própria paisagem”, frisou.
As alternativas que o movimento proTEJO defendem pretendem ” garantir: um regime fluvial adequado à prática de atividades náuticas e à migração e reprodução das espécies piscícolas; um estabelecimento de verdadeiros caudais ecológicos; e uma continuidade fluvial proporcionada por eficazes passagens para peixes e pequenas embarcações”. Paulo Constantino lembrou que este ano a lampreia, espécie migratória, esteve escassa no rio, e que “daqui a uns anos não vai haver lampreia, e talvez nem sável”.
A Demonstração Ibérica “Por Um Tejo Livre com Caudais Ecológicos” decorreu ao longo da tarde, no Porto das Mulheres, na Chamusca, com a apresentação do memorando “Por Um Tejo Livre”, sobre a importância de preservação de um rio Tejo livre de açudes e barragens para assegurar os fluxos migratórios das espécies piscícolas, a conservação dos ecossistemas e habitats aquáticos e o usufruto do rio pelas populações ribeirinhas.
VIDEO/LEITURA DA CARTA CONTRA A INDIFERENÇA:
O memorando foi já apresentado aos Grupos Parlamentares, à Comissão Parlamentar do Ambiente, ao Senhor Ministro do Ambiente e Ação Climática e à Senhora Ministra da Agricultura, e a partilha de testemunhos dos cidadãos, das associações e das comunidades presentes.