Está no top 10 do ranking de medalhas do Campeonato Nacional da Federação Portuguesa de Canoagem e teve a melhor prestação da sua história em outubro passado no Campeonato Nacional de Esperanças de Slalom, no Centro de Alto Rendimento de Montemor o Velho. A remar pelas águas do rio Tejo há 35 anos, o Clube Náutico Barquinhense conta hoje com cerca de 40 atletas, entre miúdos e graúdos que, com as suas conquistas, elevam o nome de Vila Nova da Barquinha no roteiro da canoagem nacional. O mediotejo.net foi conhecer um pouco mais sobre a vida desta associação, que anseia pelo regresso das embarcações ao rio, após a suspensão da atividade devido à pandemia.
“Quase todos os dias me perguntam quando é que podemos voltar. Claro que não depende de nós. Depende das diretrizes de toda a tutela e inclusive da nossa autarquia. (…) Estamos mortinhos que isso aconteça”, diz-nos Joaquim Pinto da Silva, presidente da direção do Clube Náutico Barquinhense. Atletas e treinadores anseiam pelo regresso ao rio Tejo com o Castelo de Almourol como cenário de fundo, pela adrenalina da competição ou simplesmente por voltar a pegar nos remos e desfrutar da sensação das embarcações a deslizar pelas águas.
A verdade é que os tempos de porta fechada e embarcações paradas parecem estar a chegar ao fim. Pelo menos, assim o anuncia o Governo com o plano de desconfinamento no âmbito da Covid-19 divulgado a 11 de março, que prevê a reabertura de modalidades desportivas durante o mês de abril.
Mas recuemos até janeiro, quando, com o encerramento dos equipamentos desportivos no âmbito do novo confinamento, o Clube Náutico Barquinhense, a funcionar no Centro Náutico, na Rua 5 de Outubro, em Vila Nova da Barquinha, se viu obrigado a guardar os remos e fechar portas. Até ao dia de hoje, os treinos presenciais foram colocados em suspenso e substituídos por um acompanhamento à distância, nomeadamente através das redes sociais e plataformas online.
“A nível de logística, nós estamos sempre a comunicar com os pais e com os atletas. Temos grupos internos no Messenger, através do Skype. Temos também atletas que têm alguma autonomia e como a canoagem, por decreto-lei, é uma atividade ao ar livre, puderam levar algumas embarcações para casa e continuam a fazer a atividade física ao ar livre também”, elucida Joaquim Pinto da Silva, que sublinha que a alternativa encontrada pelos treinadores foi o envio de planos de treino e a realização dos mesmos acompanhados virtualmente.

Limitações que, admite o presidente da direção do clube e também treinador, acabam por afetar a motivação e rendimento dos atletas. “Não há nada melhor do que treinar no ambiente natural. Qualquer atleta a partir de determinada altura gosta de treinar e remar. (…) Temos o feedback que os miúdos em casa estão com vontade de voltar a remar. E a parte de contacto com o rio é também muito importante, até por uma questão de motivação dos próprios atletas e dos treinadores”, expõe.
Fundado a 12 de dezembro de 1986, o Clube Náutico Barquinhense é uma associação desportiva sem fins lucrativos que conta atualmente com “30 a 40 atletas”, dos quais “um bom leque referenciados pela Federação [Portuguesa de Canoagem], que fazem parte da Seleção Nacional”, elucida o presidente da direção do clube.
Com atletas em quase todos os escalões – desde os menores, iniciados, infantis, cadetes, juniores (onde se sente maior quebra devido à entrada de atletas para o ensino superior), seniores e sem esquecer os veteranos, que constituem “uma referência para os mais novos” – o CNB conta aos dias de hoje com três treinadores “com grau 2, um grau já bastante elevado” e alguns colaboradores, como nos elucida o presidente da direção do CNB, que é também um dos treinadores.
No caso de Joaquim Pinto da Silva, a ligação à canoagem vem do “bichinho” que desde jovem o chamou para esta atividade, como forma de “manter a forma e lazer”. Militar de carreira, está ligado ao Clube Náutico Barquinhense há 16 anos, dos quais os últimos 8 no âmbito da direção. Com a reforma, dá agora o seu tempo “em prol de uma associação que entendo ser importante, por dinamizar o desporto”.

É com orgulho que nos conta que hoje “a nível nacional, não há clube nenhum que não referencie Vila Nova da Barquinha como um sítio espetacular para a prática da canoagem”, seja “pelo rio, pelo parque ribeirinho” e mesmo pelo Castelo de Almourol, cuja envolvência cria “uma dinâmica que ajuda a desenvolver este desporto”.
E é pela riqueza e dinâmica do território que os treinos não têm lugar fixo. Desde o cenário cinematográfico das águas que abraçam o Castelo de Almourol, em Vila Nova da Barquinha, à paisagem poética das águas do Zêzere, em Constância, ao reflexo das águas reluzentes do Tejo em Abrantes ou até à pintura das águas calmas do rio Nabão, em Tomar, a descentralização dos treinos depende da disciplina que se está a treinar.
Exemplo da descentralização de treinos acontece na prática do Slalom, a mais recente aposta do clube. Especialidade praticada em águas bravas, o Slalom “nunca foi uma disciplina de tradição para o clube”, admite Joaquim Pinto da Silva.
“O clube tradicionalmente não estava muito vocacionado para esta área até cerca de quatro, cinco anos atrás onde se apostou, através de um protocolo com a Federação Portuguesa de Canoagem, na modalidade. Tivemos algumas formações com o selecionador nacional que se disponibilizou em vir cá, surgiram-nos também alguns miúdos com algumas apetências e tivemos que, com a prata da casa, reformular algumas coisas e apostámos também um bocadinho no Slalom”, conta-nos, sublinhando que se manteve sempre “ a pista e a velocidade na linha da frente”.
O presidente da direção do Clube Náutico Barquinhense não esconde que o Slalom é “uma área que será para continuar”, referindo os “resultados importantes” que o clube tem alcançado nessa área.
Nomeadamente, como aconteceu no Campeonato Nacional de Esperanças de Slalom em outubro passado, no Centro de Alto Rendimento de Montemor o Velho, em que o CNB alcançou a melhor prestação da sua história num campeonato nacional, com a conquista de seis medalhas de ouro, uma medalha de prata e duas medalhas de bronze.
Foram resultados como estes que, apesar dos condicionalismos gerados pela pandemia – que obrigou ao cancelamento do Campeonato Nacional de Esperanças organizado pelo CNB, que teria em 2020 a sua terceira edição, e do Troféu Filipe Passos, que ia para a quarta edição – fizeram com que o último ano fosse um ano “dinâmico” e de conquistas para o Clube Náutico Barquinhense, que está em 10.º lugar no ranking de medalhas do Campeonato Nacional da Federação Portuguesa de Canoagem.
“Há toda uma equipa que se dedica muito para que o clube esteja neste momento onde está e consiga atingir os resultados que tem atingido. Uma equipa que tem feito de tudo para que isso aconteça”, vinca o presidente da direção do CNB, assumindo que “ao fim ao cabo, a felicidade dos atletas acaba por ser também a nossa. Toda a equipa, toda a família vive muito este tipo de conquistas”.
E mesmo em tempo de pandemia, o presidente da direção admite que tem havido “alguma procura”, que justifica com as boas condições da modalidade, nomeadamente o facto de ser um desporto ao ar livre e passível de ser praticado individualmente.
Para além das atividades dirigidas a atletas, o Clube tem também as portas abertas para a comunidade, nomeadamente com atividades inseridas no projeto + Canoagem, da Federação Portuguesa de Canoagem, através da qual, o CNB tem uma parceria com instituições como o CERE – Centro de Ensino e Recuperação do Entroncamento, que durante os meses de verão traz os seus utentes até às margens do Tejo para experienciar a canoagem.
“Temos também um protocolo com o Agrupamento de Escolas de Vila Nova da Barquinha, nomeadamente para o desporto escolar. Bem como o Agrupamento candidatou-se a um centro de formação desportiva, neste caso canoagem, e o Clube também colabora na escola neste aspeto”, explana Joaquim Pinto da Silva, que destaca os “bons resultados de alunos atletas”.
Mas como canoagem é não só sinónimo de competição como também de lazer, o Clube Náutico Barquinhense aposta ainda no turismo náutico, promovendo descidas e percursos de canoagem. Iniciativas, atualmente ainda suspensas devido ao contexto pandémico, que permitem aos sócios e comunidade em geral (através da inscrição na modalidade especial de “sócio por um dia”) desfrutar de “descidas no rio Tejo com início em Constância até ao Castelo de Almourol, com ou sem visita ao Castelo”.

Da competição ao lazer, dos miúdos aos graúdos, das águas calmas às mais movimentadas, os kayaks e canoas estão a postos para remar e pagaiar. Espera-se “a chegada de melhores tempos” para se voltar a encher o Tejo dos campeões das águas.